sábado, 16 de janeiro de 2010

"Acordo de Noite"

.
.
Acordo de noite subitamente,
E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora.
O meu quarto é uma cousa escura com paredes vagamente brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena cousa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque a única cousa que o meu relógio simboliza ou significa
Enchendo com a sua pequenez a noite enorme
É a curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez...


Alberto Caeiro

.

4 comentários:

  1. Oi, minha amiga! Só o amor faz as coisas pararem no tempo... Lindo! Bjs!

    ResponderExcluir
  2. Já acordei várias noites assim.


    abraços

    Hugo

    ResponderExcluir
  3. Na sua simplicidade, Caeiro cria imagens poéticas maravilhosas. Considero este poema excelente e já o seleccionei várias vezes (no trabalho).
    Feliz escolha.
    (eu felizmente não costumo acordar de noite, embora sofra de pesadelos)
    Beijinho e bom Domingo

    ResponderExcluir
  4. Flor
    Lindo poema, bela escolha.

    beijinhos
    Sonhadora

    ResponderExcluir

Que bom que você veio! A casa é sua, puxe uma cadeira... aceita um café, uma água, ou prefere algo mais forte?