segunda-feira, 3 de junho de 2019


Fotografia de Rachel Prado

o gesto mais ousado 
o sangue mais fervido 
o amor mais vivido 
a dor mais derramada

porque o sexo mais bonito é o aflito 
e o amor mais bendito é o solícito 
acento surdo grafado 
neste leque de emoções 
descortinado

Luiz Sant'Anna


Noturno da Janela


Imagem da Web

1.

Alta vai a lua,
baixo corre o vento.

(Minhas longas olhadas
exploram o céu.)

Lua sobre a água.
Lua sob o vento.

(Minhas curtas olhadas
exploram o chão.)

As vozes de duas meninas 
Vinham. Sem esforço,
Da lua da água
fui à do céu.

Federico Garcia Lorca




Imagem Pinterest

Uma saudade verde
(Me sabe a verde
a saudade)
Verde como o oito da sua casa
Um oito deitado
(Infinito de saudade)

Nunca madura nem de vez
Perdura sempre verde
a saudade

Jorge Cooper



Macieira



Arte de VHarumi

Amanheci arbórea,
raízes longas,
um ninho
novo
em cada braço.

(Janela aberta.
Um farfalhar de ramos.)

Eu agito
meu cabelo:
o quarto se enche de maçãs.

Ana Santos
poeta de Porto Alegre



E o tempo deu-me razão


Antares & Love X, 2013, Joe Webb

venci entre nós todos os debates
e o tempo deu-me razão.
mas no amor (fria lâmpada tantas vezes
esquecida nos dedos), ganhar é perder,
matar é ser morto.
e eu entendo agora como
pode um abraço ser eterno, como
podem as saudades cingir, suster,
estrangular

João Ricardo Lopes



Arte de Jared Joslin

Quanto, quanto me queres? – perguntaste
Numa voz de lamento diluída;
E quando nos meus olhos demoraste
A luz dos teus senti a luz da vida.
Nas tuas mãos as minhas apertaste;
Lá fora da luz do Sol já combalida
Era um sorriso aberto num contraste
Com a sombra da posse proibida…
Beijamo
-nos então, a latejar
No infinito e pálido vaivém
Dos corpos que se entregam sem pensar…
Não perguntes, não sei – não sei dizer:
Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.

António Botto