domingo, 9 de março de 2014


Fotografia de Fernando Campanella

Não precisa bater quando chegares.
Toma a chave de ferro que encontrares
sobre o pilar, ao lado da cancela,
e abre com ela
a porta baixa, antiga e silenciosa.

Entra. Aí tens a poltrona, o livro, a rosa,
o cântaro de barro e o pão de trigo.

O cão amigo pousará nos teus joelhos a cabeça.
Deixa que a noite, vagarosa, desça.
Cheiram a relva e sol, na arca e nos quartos,
os linhos fartos,
e cheira a lar o azeite da candeia.

Dorme. Sonha. Desperta. Da colméia
nasce a manhã de mel contra a janela.
Fecha a cancela
e vai. Há sol nos frutos dos pomares.

Não olhes para trás quando tomares
o caminho sonâmbulo que desce.
Caminha - e esquece.

Guilherme de Almeida


2 comentários:

  1. Belíssimo, belíssimo, belíssimo!!!
    Bravo!!!

    ResponderExcluir
  2. Amo demais este poema... um dos meus favoritos. Obrigada pela presença, Carlos!

    Abraços,

    Flor

    ResponderExcluir

Que bom que você veio! A casa é sua, puxe uma cadeira... aceita um café, uma água, ou prefere algo mais forte?