quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Olá, mãe


Crédito da imagem: Pinterest

Há ainda, no teu quarto, 
aquela figura de Fátima que sempre te acompanhou. 
Estás lá. Lá, dizemos-te olá, mãe.

Há ainda, na sala, 
junto à porta que dá para o alpendre, aquele cadeirão 
no qual te sentavas para teres luz para as costuras. 
Estás lá. Lá, dizemos-te olá, mãe.

Há ainda, na cozinha, 
cada objecto no lugar onde os deixaste. 
Estás lá. Lá, dizemos-te olá, mãe.

Há ainda, lá fora, 
os vasos dispostos como os dispuseste. 
Alguns já começaram a partir, mas vamos tentar deixá-los lá 
pelo tempo que forem resistindo. 
Porque estás lá. E lá queremos dizer-te olá, mãe.

Há ainda, em nós, muito de ti. 
Mãe: lembramo-nos de ti, nunca te esquecemos – 
muitas vezes, quando fechamos os olhos, 
é para te dizermos olá.

Olá, mãe. Nos meus olhos não há água. 
Sou ainda o menino que deixaste na escola pela primeira vez 
e a quem disseste para não chorar. Não choro, 
mas a escola da vida, ao contrário da dos livros, precisava de ti. 
Contigo, aprendi o amor eterno: 
o que só existe quando alguém não sai de nós. 
Saíste do mundo dos outros 
mas não saíste do mundo dos que te amam. 
Não saíste dele, não saíste de mim. 
[De mão no peito] Não saíste daqui – Olá, mãe!

Fazes anos hoje, porque ainda nos vives. 
E penso em tudo quanto me lembra de ti,
como se tudo fosse um teu “Olá, filho”.

Sérgio Lizardo


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