sábado, 29 de fevereiro de 2020

Contributo para as estatísticas


Fotografia de Maria Svarbova

Em cem pessoas,

sabedoras de tudo melhor –
cinquenta e duas;

inseguras de cada passo –
quase todo o resto;

prontas para ajudar,
desde que não demore muito –
quarenta e nove;

sempre boas,
porque não conseguem de outra forma –
dezoito;

constantemente receosas
de algo ou alguém –
setenta e sete;

aptas para a felicidade –
vinte e tal, quando muito;

individualmente inofensivas,
em grupo ameaçadoras –
mais de metade, com certeza;

cruéis
por força das circunstâncias –
é melhor não sabê-lo,
nem aproximadamente;

com trancas na porta depois de casa roubada –
quase tantas como
aquelas que as têm, antes de casa roubada;

não levando nada da vida a não ser coisas –
quarenta,
embora preferisse estar enganada;

agachadas, doloridas
e sem lanterna no escuro –
oitenta e três,
mais tarde ou mais cedo;

dignas de compaixão –
noventa e nove;

mortais –
cem em cem.
Número, até agora, não sujeito a alterações.
 
Wislawa Szymborska
in ‘Instante’, Relógio D’Água








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