sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Esta tarde



Ilustração de Helen Rogers

esta tarde

era necessário uma catástrofe imensa para que teu nome sobressaísse ou para que me caia o coração aos pedacinhos no telhado como cai a chuva num alarde de mansidão

era tarde e este poema ainda pode dar certo
não por ser o arremedo de uma voz confusa
quiçá rouca que brota aérea de uma roda gigante descomunal entre as folhas das mais altas árvores esta tarde

então dançamos sem olhar-nos bem ou justamente por olharmo-nos muito bem foi que demos as mãos e pudemos então fechar os olhos e simplesmente dançar

e assim respirar o ar mais puro e sentir o vento nos cabelos e o mundo a rodopiar-nos
numa estrada semicerrada entre o corpo e o espírito
há tua presença insone esta tarde

teu ser que balança e gira por entre o jardim
por entre as casas
por entre todas as coisas humanas
e não humanas

há tua solidão quase que do outro lado do país
permita deus que eu um dia nasça em Pernambuco
assim perto de você e do mar

um imenso coração cambaleia na avenida
esta tarde perto de uma praia
verde sobre o colorido alegre
de uma beleza pressentida em mim

Sérgio Villa Matta




   

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