segunda-feira, 6 de abril de 2020

Quando já não tivermos olhos


Arte do pintor francês Alphonse Osbert

Em algumas décadas, talvez, a Lua será obsoleta
e os amantes já não saberão apreciar
a mutação das nuvens e o cantar do grilo
em noite de lua cheia.
O amor se derramará no vazio
e não haverá passos delicados sobre a relva,
nem suspiros ao leve toque da brisa.
Quando nos cansarmos da paisagem,
não fecharemos os olhos: desligaremos a TV.
E nossa alma, então, poderá ser enrolada
como um tapete gasto
e atirada no fundo do armário.
De que nos servirá a alma
quando ja não tivermos olhos
para a dança das nuvens e da Lua
numa noite de primavera?

Eduardo Alves da Costa





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