Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

"Maresia"


Desconheço a autoria da imagem

Dá-me os castelos de areia
que a maré desmancha
e eu refaço,
remonto,
levanto muralhas,
as torres,
os sonhos.
Dá-me a constância da onda,
o sal do mar,
o mar do sol,
queimando as fantasias.
Dá-me a noite, caindo,
o mar de lua,
o baixio,
a maresia,
o aguapé.
Dá-me os castelos,
meus sonhos de volta
antes que suba a maré.

Mila Ramos
In Na Grande Noite dos Girassóis

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"As Borboletas"


Desconheço a autoria da imagem

Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas

Borboletas brancas
São alegres e francas.

Borboletas azuis
Gostam muito de luz.

As amarelinhas
São tão bonitinhas!

E as pretas, então
Oh, que escuridão!

Vinicius de Moraes 

domingo, 29 de janeiro de 2012

"Transitoriedade"


Desconheço a autoria da imagem

Lisa e farpada
linha da vida -
equilíbrio delicado

Tuca Kors



sábado, 28 de janeiro de 2012

"Estrela Cadente"


"Moonlight Shadow", de Ingrid7 on DeviantART

Quando eu estiver
com o olhar distante, maninha,
com um jeito esquisito
de quem não está presente,
não se assuste, ó maninha,
fui logo ali, no quintal do céu
colher uma estrela cadente.

Roseana Murray
In Lições de Astronomia


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

"Confidências"


Fotografia de Niels Christian Wulff

Eu fui contar, chorando, as minhas penas
Ao velho mar; e as ondas buliçosas,
Julgando que eu diria essas pequenas
Mágoas comuns ou queixas amorosas,

Não quiseram cessar as cantilenas
Que entoavam nas praias arenosas;
Mas, pouco a pouco, imóveis e serenas,
Quedaram todas, por me ouvir ansiosas.

E concluída a narração de tudo,
Mostrou-se o mar ( pois nunca tinha ouvido
História igual ) sombrio e carrancudo.

Depois, rolando as gemedoras águas,
Pôs-se a chorar também compadecido
Das minhas fundas, dolorosas mágoas.

Antônio Thomaz



quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Beira do Fogão"


Desconheço a autoria da imagem - fonte: Google

No aparador da cozinha
cabeçudos e enfileirados,
os palitos de fósforo
são a legião de soldados
do império de sonhos da rainha.

Flora Figueiredo
in "Chão de Vento"

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012



Fotografia de Paul Pichugin

Lentamente, entre sóis e luas, lá vai o céu,
Indiferente, ora azul, ora cinza, como a vida.
Lá vai o céu abrigando pipas, balões e anjos,
Agasalhando almas, pintando o arco-íris,
Distraído com a dança esguia das nuvens.

Gilson Froelich

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

"Água Brusca"


Fotografia de Erica Leighton

Eis que de dentro de mim
Jorrou uma água brusca,
Ladeira abaixo, sem sonho,
Morrendo sem ter vivido, —
E eu, no espelho crucente
Das hortas de sempre fuga,
Tentei por detrás da fuga
Remover o meu retrato,
O resolver sempre falho,
Enxergar o que não via;
Mas cansado, sem relíquias,
Deixei que escorresse plena,
Que fosse na doida arena
Da areia se dissolver.

Ildásio Tavares 
1940-2010


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

"Sobre Um Mar de Rosas que Arde"




Fotografia de Maxim B, aqui

Sobre um mar de rosas que arde
Em ondas fulvas, distante,
Erram meus olhos, diamante,
Como as naus dentro da tarde.
Asas no azul, melodias,
E as horas são velas fluidas
Da nau em que, oh! alma, descuidas
das esperanças tardias.

Pedro Kilkerry


domingo, 22 de janeiro de 2012

"Confeitos de Alto Mar"


Fotografia de Андрей Шушвалюк, aqui

A menina queria
uma história
que fosse doce
e que falasse
dos bichinhos
que vivem no
fundo do mar.
E gostou de
ouvir sobre os
biscoitos em
forma de estrela
que dançavam
à noite sobre
as ondas para
a sobremesa
do siri dengoso
e das baleias.

Alvaro Bastos

sábado, 21 de janeiro de 2012

"Soneto"


Fotografia de Anna Bodnar, aqui

A uma réstia de sonho chamam vida.
A uma sombra maior chamam-lhe morte.
Vida e morte, não mais, pouso e suporte,
sopro de permanência e despedida.

Uma treva febril noite é chamada.
A uma luz mais febril chamam-lhe dia.
E entre elas se põe a estrela fria
que irrompe como flor da madrugada.

Paira em tudo um silêncio que anoitece,
que amanhece, e que vence todo ruído,
e como sol não visto num perdido

horizonte se esfaz e se retece
Tudo é longe demais, por demais perto.
E a alma, que faz neste feroz deserto?

Alphonsus de Guimarães Filho



terça-feira, 17 de janeiro de 2012

"Amiga Querida"


Tela "Girls Strolling in an Orchard", de Winslow Homer

Por onde andamos
nós que raramente nos falamos?
Engolidos pela pressa
ou pela saga do compromisso?
O'Deus que maratona é essa?

Deixo um recado de saudade
para você pensar.
Por mais que a vida corra e o mundo agite,
por favor, acredite:
o nosso coração não muda de lugar.

O tempo e a distância
costumam nos arrastar.
É como se folhas de outono
se separassem pelo sopro de algum vento.
Mas nosso coração não muda de lugar.

Conservo a mão estendida,
o peito aberto,
o ombro compreensivo,
o pensamento alerta.
A qualquer hora você pode me chamar.
O meu carinho permanece vivo.
É que o nosso coração não muda de lugar.

Flora Figueiredo


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

"Para Além da Curva da Estrada"



Para além da curva da estrada 
Talvez haja um poço, e talvez um castelo, 
E talvez apenas a continuação da estrada. 
Não sei nem pergunto. 
Enquanto vou na estrada antes da curva 
Só olho para a estrada antes da curva, 
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva. 
De nada me serviria estar olhando para outro lado 
E para aquilo que não vejo. 
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. 
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer. 
Se há alguém para além da curva da estrada, 
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada. 
Essa é que é a estrada para eles. 
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos. 
Por ora só sabemos que lá não estamos. 
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva 
Há a estrada sem curva nenhuma. 

Alberto Caeiro
in "Poemas Inconjuntos" 

sábado, 14 de janeiro de 2012

"Elegia"


Imagem de Margarida Araujo

Só tu que não existes
Me dás calma.
Porque não tens alma,
Porque não consistes.

Mesmo quando voltas
- tu que não estiveste-
não me trazes nada;
nem mesmo o calor
da chama apagada.

Porque não te tenho
E vivo contigo,
Porque não te quero
Nem sou teu amigo
Deixa-me o teu corpo:
Ânfora vazia,
Vinho de ciúme.
Deixa-me o que fui
- o meu eco em ti...

Fernando Tavares Rodrigues


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"Para Ti"


Imagem de Jil Norberto

Para ti
Que percorres, incerta
A estrada de espinhos da vida
Sentes a alma
Só e deserta
E tens fé que o futuro decida
A tua sorte
Para ti
Que a vida é amarga
E os longos minutos são horas
E não sentes
Que ela desperta
E o mundo rola enquanto choras
Eu estou por ti
Não és só tu, são milhões
Que vivem o que não querem
Que sentem que a vida é fria
Estejam lá onde estiverem
Não és só tu, são milhões
Que lutam pela alegria
Tens que lutar minha amiga
Até ser dia!

Luis Mendes


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

"Cântico"

Poster de Uwe Loesch

Mundo à nossa medida
Redondo como os olhos,
E como eles, também,
A receber de fora
A luz e a sombra, consoante a hora

Mundo apenas pretexto
Doutros mundos.
Base de onde levanta
A inquietação,
Cansada da uniforme rotação
Do dia a dia.
Mundo que a fantasia
Desfigura
A vê-lo cada vez de mais altura.

Mundo do mesmo barro
De que somos feitos.
Carne da nossa carne
Apodrecida.
Mundo que o tempo gasta e arrefece,
Mas o único jardim que se conhece
Onde floresce a vida.

Miguel Torga


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

"Ofício"

Imagem de Jil Norberto

Escrever
a água
da palavra mar
o vôo
da palavra ave
o rio
da palavra margem
o olho
da palavra imagem
o oco
da palavra nada.

Maria Esther Maciel


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

"Terra Azul"



Imagem de Elsa Mota Gomes
O céu me chega
em forma de silêncio pelos ouvidos

azul pelos olhos

Em pesado calor
sobre meus ombros

A terra é multicor
embrulhada de azul

Ivens Scaff
(poeta de Cuiabá- MT)


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

"Serão Palavras"


Fotografia de Catia Azenha

Diremos prado bosque
primavera,
e tudo o que dissermos
é só para dizermos
que fomos jovens

Diremos mãe amor
um barco,
e só diremos
que nada há
para levar ao coração

Diremos terra mar
ou madressilva,
mas sem música no sangue
serão palavras só,
e só palavras, o que diremos.

Eugênio de Andrade
in "Mar de Setembro"


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"Viver"


Desconheço a autoria da imagem

Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver.

Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar... Ah,

Viver é sair de repente
Do fundo do mar
E voar...
e voar...
cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!

Mário Quintana


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

"É Preciso Não Esquecer Nada"


É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Velha Chácara


Fotografia de Omar Junior, no Flickr

A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.

Ah quanto tempo passou!
(foram mais de cinquenta anos.)
tantos que a morte levou!
(E a vida...nos desenganos...)

A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa...

- Mas o menino ainda existe.

Manuel Bandeira


domingo, 1 de janeiro de 2012

"Ode à Paz"



Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos atos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego, dos pastos,
Pela exatidão das rosas, pela sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó santa, ó talismã contra a indústria feroz,
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,

deixa passar a Vida!

Natalia Correia


FELIZ ANO NOVO!!!




Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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