Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

"A Estrela"



Gatinho, meu amigo,
fazes idéia do que seja uma estrela?

Dizem que todo esse nosso imenso planeta
coberto de oceanos e montanhas
é menos que um grão de poeira
se comparado a uma delas

Estrelas são explosões nucleares em cadeia
numa sucessão que dura bilhões de anos

O mesmo que a eternidade

Não obstante, Gatinho, confesso
que pouco me importa
quanto dura uma estrela

Importa-me quanto duras tu,
querido amigo,
e esses teus olhos azul-safira
com que me fitas

Ferreira Gullar


domingo, 30 de outubro de 2011

"Verdes Reinos Encantados"


Desconheço a autoria da imagem

Seremos ainda românticos
- e entraremos na densa mata,
em busca de flores de prata,
de aéreos, invisíveis cânticos.
 
Nas pedras, à sombra, sentados,
respiraremos a frescura
dos verdes reinos encantados
das lianas e da fonte pura.
 
E tão românticos seremos,
de tão magoado romantismo,
que as folhas dos galhos supremos
que se desprenderem no abismo
 
pousarão na nossa memória
- secas borboletas caídas -
e choraremos sua história,
resumo de todas as vidas.

Cecília Meireles
"In Poesias Completas"


sábado, 29 de outubro de 2011

"Ultrapassaro"

Desconheço a autoria da imagem


Corro, corro
fecho os olhos
corro, corro
abro os braços

corro mais um pouco
e me ultrapássaro....

Antonio Claudio de Araujo Jr.


sexta-feira, 28 de outubro de 2011


Desconheço a autoria da imagem

Revirei tuas páginas
até encontrar as palavras
que falavam de mim.
Desencapei teu livro
em busca de uma dedicatória
qualquer
em vão:
só havia silêncios.
Reli todas as notas
do autor
e do revisor.
Não havia respostas. Não havia entrelinhas.
Procurei nos índices e nos anexos.
Nada.
No livro desbotado e amarelecido de tua vida
nenhuma palavra sobre mim.

Clara Vasconcellos


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"Horizonte"


Imagem: Tela de Nikolai Victor Nizovtsev

Se eu apagasse a fina
linha do horizonte
será que o céu
cairia no mar?
E as estrelas e a lua
começariam a navegar?

Ou será que o mar
viraria céu
e os peixes
aprenderiam a voar?

Roseana Murray


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Tela de Nikolai Bodarevsky Kornilievich

Em delírio encontro-me, juventude em flor.
Divagando com os pés desnudos, massacrando
as aparas da vida. Enrolada em lençol de pureza.
Apenas juventude e mais nada. Apenas sonhos,
mais atirada... Eternamente jovem abençoada.
Em secretos suspiros, interiormente renovada...

Cristina Pilan Oliveira


terça-feira, 25 de outubro de 2011



Chega um momento
em que somos aves na noite,
pura plumagem, dormindo de pé,
com a cabeça encolhida.
O que tanto zelamos
na fileira dos dias,
o que tanto brigamos
para guardar, de repente
não presta mais: jornais, retratos,
poemas, posteridade.
Minha bagagem
é a roupa do corpo.

Fabrício Carpinejar


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

"Agonia"


Desconheço a autoria da imagem

Os calendários estão errados.
Não te vejo há dois meses
e sinto saudades de anos.

Tuca Kors


domingo, 23 de outubro de 2011

"É Hora de Esconder o Bico"

Imagem de ElectronCloud in DeviantART

É a hora de esconder o bico
Entre as penas e adormecer.
É a hora de ficar quieto,
De mergulhar o bico entre as asas
E deixar que sopre
O vento fresco do sono.

É a hora em que as sombras leves
Amadurecem as coisas do mundo,
Em que nos céus desmaiados
Sobem as últimas palpitações
E o fumo da terra.
É a hora da breve doçura.

Quando as árvores, as flores e os pássaros
Principiam a envolver-se na imobilidade
E no silêncio...

Augusto Frederico Schmidt


sábado, 22 de outubro de 2011

"Dorme ruazinha"


Desconheço a autoria da imagem

Dorme ruazinha. É tudo escuro.
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos.

Dorme; Não há ladrões, eu te asseguro.
Nem guardas para acaso perseguí-los.
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos.

O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão.
Dorme, ruazinha… Não há nada…

Só os meus passos. Mas tão leves são,
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração.

Mario Quintana


sexta-feira, 21 de outubro de 2011


Desconheço a autoria da imagem

O vôo dos pássaros prolonga
a beleza das tardes.
E há, em nosso olhar,
um vasto
dealbar.
Tudo, em grandeza, torna-se possível.
O visível nasce do invisível.
As nuvens acenam, de repente.
E aquilo que emergiu
é o emergente.

Artur Eduardo Benevides


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

"Gramas"


Desconheço a autoria da imagem

O coração tem pouca ironia de tardinha
Segredos carnais à flor da pele
poemas descarnados aguardando

A vida recusa transportar-se para outeiros
buracos cavados por doninhas
ervas que florescem

O coração tem pouquíssimo fôlego na piscina
Nos quintais dispara úmido
Nas salas fechadas cuida das buzinas

A vida se encarrega das janelas
mas acaba descendo em correria
Não cabe Não suporta Não tem peso

Ana Cristina Cesar
In Antigos e Soltos


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

"Cantiguinha"


Desconheço a autoria da imagem

Brota esta lágrima e cai.
Vem de mim, mas não é minha.
Percebe-se que caminha,
sem que se saiba aonde vai.

Parece angústia espremida
de meu coração
- pelos meus olhos fugida
e quebrada em minha mão.

Mas é rio, mais profundo,
sem nascimento e sem fim,
que, atravessando este mundo,
passou por dentro de mim.

Cecília Meireles
in: As palavras Voam


terça-feira, 18 de outubro de 2011

"Carícia"



No corpo do lago
dedos de vento
riscam arrepios

Tuca Kors


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

"À Lua"



Como vens tão vagarosa,
Oh formosa e branca lua!
Vem co'a tua luz serena
Minha pena consolar!
 
Geme, oh! céus, mangueira antiga,
Ao mover-se o rouco vento,
E renova o meu tormento
Que me obriga a suspirar!
 
Entre pálidos desmaios
Me achará teu rosto lindo
Que se eleva refletindo
Puros raios sobre o mar.
 
Silva Alvarenga


domingo, 16 de outubro de 2011

"Haicai do Bobo"


Imagem: Charles Chaplin, em cena do filme Luzes da Cidade

Que coisa boa
depois de você
ando rindo à toa.

Múcio Goes


sábado, 15 de outubro de 2011



Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.

Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.

Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos os fantasmas somos nós,

Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido...

Alexandre O' Neill
in Poemas Com Endereço (1962)


sexta-feira, 14 de outubro de 2011


Desconheço a autoria da imagem

Antes que eu mude
Se muda pra mim
Antes de qualquer som
Antes de qualquer sol
Se muda pra mim

Antes que eu mude
Se muda pra mim
Ante a todo o vento
A toda claridade

Se muda pra mim
Antes que meu mundo mude
E eu, mudo, escureça

Leandro Ferreira, aqui


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

"Sobre a Beleza Frágil"


Desconheço a autoria da imagem

Ele era belo
e oco.

Um dia, abriram-lhe a boca oca
e as orelhas e as narinas limpas
e o ânus e a cabeça vazia
e em todos os orifícios
enfiaram pequenas lanternas.

Oh, triste e magnífica constatação!

Ele era belo e oco
e ecoava dentro de sua carcaça
o brilho reflexivo
de um milhão de teias de aranha.

Adriano de Oliveira


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

"Esperança"


Desconheço a autoria da imagem

Esperança
Quero que sejas
A última palavra
Da minha boca
A mortalha de sol
Que me cubra e resuma.
Mas como à despedida só há bruma
No entendimento
E o próprio alento
Atraiçoa a vontade,
Grito agora o teu nome aos quatro ventos.
Juro-te, enquanto posso, lealdade
Por toda a vida e em todos os momentos.


Miguel Torga


Hoje, que se comemora o Dia das Crianças, que essa seja a palavra de ordem, para sempre!


terça-feira, 11 de outubro de 2011



Meia selha de lágrimas
Meio copo de água
Meia tigela de sal
Meio homem de mágoa
Meio coração destroçado
Meia dor a sofrer
Meio ser enganado
Num homem inteiro a morrer.

Rogério Simões

Desconheço a autoria da imagem

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

"Semelhança na Diferença"



Filosofia e Poesia
são dois braços
de um mesmo dorso
esticados no esforço
de tocar
além do tempo.

Fabio Rocha

Desconheço a autoria da imagem

domingo, 9 de outubro de 2011

"Esperança"



E depois talvez venha
O anjo da visita e do poema,
E traga o lume e a lenha
Do incêndio pedido.
Talvez venha,
De ritmos vestido.

Talvez. E, como outrora,
Ponha sobre a cabeça
Do poeta de agora
Os versos que ele mereça.

Em forma de grinalda,
Inocente e florida,
Talvez o faça ungido
Dum grito a mais na vida
Inútil e dorido.


Miguel Torga
In: Antologia Poética

Ilustração "Beyond Belief", de Melanie Delon

sábado, 8 de outubro de 2011



Nessa noite choveu, ele sabia que não era
apenas chuva.

Enquanto a água escorria pelo corpo ele
chorou, chorou e chorou... Chorou sem
parar enquanto choveu. Até que já nada
lhe doía mais.

Tinha sido lavado, os céus lhe tinham
retirado saudades e silêncios.

Mia Couto

Desconheço a autoria da imagem

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"Essência da Saudade"


Passaste por mim
de madrugada
etérea, levemente
e foste sombra
Assim te perdi
quando entraste
na luz da manhã
Sinal visível
da tua passagem
a rosa vermelha
deixada no chão
do meu peito

Manuel Martins Gaspar Tomé


Fotografia de João Paulo Redondo

quinta-feira, 6 de outubro de 2011


Dos teus sins abissais
despenco
Um vale de buscas me espera
caçador de ventos
tempestades
Teu coração natural investe
contra meu peito
moinho.

Renato Tapado
In Poemas Para Quem Caminha


Desconheço a autoria da imagem

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

"Cão Como Nós"



Desconheço a autoria da imagem

Como nós eras altivo
Fiel mas como nós
Desobediente.
Gostavas de estar connosco a sós
Mas não cativo
E sempre presente-ausente
Como nós.
Cão que não querias
Ser cão
E não lambias
A mão
E não respondias
À voz.
Cão
Como nós.

Manuel Alegre


terça-feira, 4 de outubro de 2011

"De Alma Lavada"


Desconheço a autoria da imagem

Busquei na estante as fotos e a alegria,
na gaveta, a blusa e o cheiro,
na fruteira, o sabor,
no fogão, o tempero.
Lambi nos dedos o chantily,
nos lábios a maresia.

Abri os armários, entrou a luz,
entrou o vento, entraram as borboletas.
Lavada e linda de usar,
pendurei minh´alma.

Pintei as paredes da cor do sim
E jurei, de novo, jamais amar assim.

Regina Vilarinho


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

"Noite de Verão"


Desconheço a autoria da imagem

As árvores gotejam do aguaceiro.
Na relva molhada reluz o frio
luar. No vale, o invisível rio
reboa escuro com inquieta voz.

No casario ladram cães. Ó noite
de verão e de estrelas mal veladas:
como seduz, vossa pálida estrada,
meu coração ébrio de espaço e viagem!

Hermann Hesse
in Andares


domingo, 2 de outubro de 2011

"Urgente"


Desconheço a autoria da imagem

Urgente é construir serenamente
seja o que for, choupana ou catedral,
é trabalhar a pedra, o barro, a cal,
é regressar às fontes, à nascente.

É não deixar perder-se uma semente,
é arrancar as urtigas do quintal,
é fazer duma rosa o roseiral,
sem perder tempo. Agora. Já. É urgente.

Urgente é respeitar o Amigo, o Irmão,
é perdoar, se alguém pede perdão,
é repartir o trigo do celeiro.

Urgente é respirar com alegria,
ouvir cantar a rola, a cotovia,
e plantar no pinhal mais um pinheiro.

Fernanda de Castro
In Poesia II

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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