Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

"Te Namorei"



Fotografia de ~angelicek

Um dia te namorei com inocência,
ruborizando-me a cada sorriso,
mãos trêmulas ao roçar da pele.
Depois te namorei com lirismo,
tatuei teu nome em meu coração,
vi teu sorriso descer da lua
e teus olhos brilhar na escuridão.

A seguir te namorei com paixão,
senti a flama me incendiar o peito
e o sangue se desorientar todo
feito fogo ao sabor do vento.
Também te namorei com carinho
aquele afeto que transpassa o tempo,
tilintam sinos, colore o caminho.

Hoje te namoro assim:
no vento que um dia nos banhou na rede,
na ausência que transformo em poesia
e na saudade que, às vezes, me surpreende
como uma imensa onda.

Basilina Pereira


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

"Não Estão"



by Michael Bilotta 

Os pássaros não estão,
se esconderam no meu coração.

Hoje sou ninho.

Humberto Ak'abal


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

"Certezas"



by Phillip Schumacher

Não sei os mistérios, as mãos, as vidraças;
não sei a hora nem o dia do amor
que em vida é pressa, é vago, é frágil.
Não sei as heranças - o que existe
depois da última hora
do último beijo e da última espera
atrás da porta.

Não sei os meus passos e nem as esquinas.
Não sei se o que encaro é pura rotina
ou etapa que se vence, por mero acaso.
Não sei as vidas que me cercam
e que aguardam atentas, meu gesto
minhas palavras estéreis e amenas
- como algumas mulheres
que cortam a paisagem sem deixar marca.

Não sei o certo e o errado
o que fazer diante do impasse
na dúvida, não sei o resto
na certeza, não sei a meta.
Só sei mesmo que todo tempo é curto
e que meu chão é este:
feito de pedra e pluma
em barro e nuvem e irremediavelmente, meu.

Eolo Yberê Líbera


domingo, 27 de janeiro de 2013

"E se..."



Arte by Amals

E se nunca mais eu for
pétala
da pálida flor?
E se assim
de repente
eu permanecer
fértil
de todas as palavras
e nunca mais sentir
medo
de calar subitamente,
será que essa cor
que a flor ganhou
transforma
pra todo o sempre
a vida que era quase
invisível
em riso que não se esconde
e deixa as manhãs
ensolaradas
com gosto de chuva fina
rede
e abraço
que faz estremecer?

Lilian Dalledone


sábado, 26 de janeiro de 2013

"Amanhã Vai Ser Um Outro Dia!



Desconheço a autoria da imagem

O que fazer em um dia cinzento como esse?

perguntou um dos passarinhos do bando
aos seus demais companheiros

ah... 
pensar que as carregadas nuvens de hoje
podem não ser as mesmas de amanhã...

respondeu o mais ligeiro antes mesmo que
os demais, que ainda procuravam dentro de si
mesmos uma resposta, formulassem outra
pergunta ainda mais complexa...

Flávia Vida


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

"Indiferença"



Desconheço a autoria da imagem

Hoje, voltas-me o rosto, se ao teu lado
passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto.
E assim fazemos, como se com isto,
pudéssemos varrer nosso passado.

Passo esquecido de te olhar, coitado!
Vais, coitada, esquecida de que existo.
Como se nunca me tivesses visto,
como se eu sempre não te houvesse amado.

Mas, se às vezes, sem querer nos entrevemos,
se quando passo, teu olhar me alcança
se meus olhos te alcançam quando vais.

Ah! Só Deus sabe! Só nós dois sabemos.
Volta-nos sempre a pálida lembrança.
Daqueles tempos que não voltam mais!

Guilherme de Almeida


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Quero voar



by Enzzo Barrena 

Quero voar
mas saem da lama
garras de chão
que me prendem os tornozelos.

Quero morrer
mas descem das nuvens
braços de angústia
que me seguram pelos cabelos.

E assim suspenso
no clamor da tempestade
como um saco de problemas
tapo os olhos com as lágrimas
para não ver as algemas.

Mas qualquer balouçar ao vento me parece liberdade.

José Gomes Ferreira





quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

"O Inferno"



Desconheço a autoria da imagem

Debrucei-me à janela do inferno
e não vi nada que me horrorizasse;
pareceu-me um lugar igual aos outros,
cheio de gente e coisas. E alguém 
do inferno me disse para entrar.
Não me lembro quem era ou se eram vários,
nem o que me disseram lá de dentro,
ou se essas pessoas sorririam,
se haveria alguém a lamentar-se
ou se desconfiei por um momento.
Fui e achei a porta do inferno,
abri a porta do inferno, entrei,
desde essa hora vivo no inferno.
É um lugar igual a qualquer outro,
cheio de gente e coisas. Todavia
sei que não pode ser senão inferno
porque neste lugar não estás comigo.

Amalia Bautista


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

"Diz o Vento"


"Vento", de Van Gogh

Diz o Vento

Hoje vou-me embora
Vou cantar em outro vales

Seu caminho, já é de sol
Caminhe sereno, sem pressa

Beba os dias, em pequenos goles
Matando a sede da vida

Quem sabe um dia eu volte como
Brisa... pra matar a saudades!

Hoje vou-me embora
Vou cantar em outros vales!

Zia Marinho


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

"Chãos de Outono"


Desconheço a autoria da imagem


Ao longo das pedras irregulares do calçamento passam
ventando umas pobres folhas amarelas em pânico,
perseguidas de perto por um convite de enterro, sinistro,
tatalando, aos pulos, cada vez mais perto, as duas asas
trajadas de negro! 

Mario Quintana
In: Sapato Florido


domingo, 13 de janeiro de 2013

"Onde Te Tenho"



Na expansão do meu inconsciente
Tenho-te, sempre em três niveis

O abstrato 
que me inspira

O imaginário
que te constrói

O real
Que nos separa.

Jaak Bosmans


sábado, 12 de janeiro de 2013


Arte de Michael Bilotta

Há dias
que de tanto o sol brilhar
obscureço

Há dias
que dos brindes a saudar
eu convalesço

Há dias que florescem
e me despetalo

Há dias que me calo.

Beatriz Tavares

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

"Ser Quem Sou"




Para ser forte, tive que beber muitos goles de tempestades.
Tive que aprender a fazer muralhas (e às vezes, ser a própria);
andar de salto alto entre as pedras do caminho;
ter ouvidos atentos, saber escolher os momentos do silêncio;
ir contra o vento...
E depois de tudo ser capaz de desmoronar doce e calmamente
nos braços do homem que eu amo.

Cáh Morandi


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

"Um Amigo"



Há uma casa no olhar de um amigo.
Nela entramos sacudindo a chuva.
Deixamos no cabide o casaco
fumegando ainda dos incêndios do dia.
Nas fontes e nos jardins

Das palavras que trazemos
o amigo ergue o cálice
e o verão
das sementes.
Então abre as janelas das mãos para que cantem
a claridade, a água
e as pontes da sua voz
onde dançam os mais árduos esplendores.

Um amigo somos nós, atravessando o olhar
e os véus de linho sobre o rosto da vida
nas tardes de relâmpagos e nos exílios,

Onde a ira nômada da cidade arde
como um cego em busca de luz.

Eduardo Bettencourt Pinto


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

"Ausência"




Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
Ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
Magoa, que se limita à alma, mas que não deixa,

Por isso, de deixar alguns sinais – um peso
Nos olhos, no lugar da tua imagem, e
Um vazio nas mãos, como se tuas mãos lhes
Tivessem roubado o tato. São estas as formas
Do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
As coisas simples também podem ser complicadas,

Quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade.
Porém, é o sonho que me traz à tua memória; e a
Realidade aproxima-me de ti, agora que
Os dias que correm mais depressa, e as palavras

Ficam presas numa refração de instantes,
Quando a tua voz me chama de dentro de
Mim – e me faz responder-te uma coisa simples,
Como dizer que a tua ausência me dói.

Nuno Júdice

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

"À Lua"


Fotografia de Paulo E. C. Brito

Lembro-me, ó graciosa lua,
Que há um ano, sobre esta colina,
Cheio de angústia, eu vinha contemplar-te:
E tu pendias então sobre a floresta
Como fazes agora, iluminando-a por completo.
Mas velado e trêmulo do pranto
Que me assomava aos olhos o teu rosto
Me parecia, que laboriosa
Era a minha vida: e ainda o é, nem muda de feição,
Ó minha amada lua. E todavia faz-me bem
Esta lembrança e o contar a idade
Da minha dor. Oh!, como é doce,
No tempo da juventude, quando ainda longo
É o curso da esperança, breve o da memória,
A lembrança das passadas coisas,
Embora triste e embora as fadigas durem!

Giacomo Leopardi,Cantos
tradução de Albano Martins

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

"Porque"



Fotografia de Sasha Gulish

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude 
Para comprar o que não tem perdão. 
Porque os outros têm medo mas tu não. 
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não. 

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos. 
Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de Mello Breyner Andresen


domingo, 6 de janeiro de 2013

"Sublimação"



Desconheço a autoria da imagem

Não deixa minhas mãos 
presas às tuas, 
não vacila teu olhar 
no meu silencio. 
Respira a luz que respiro 
e reflete esta escolha 
no alento absoluto, 
da pureza que sublima. 
Quando sopra o vento 
na chama das candeias, 
não adianta deter 
as sombras fugidias. 

Alvaro Sertano
in "A Face do Amor"


sábado, 5 de janeiro de 2013

"A Capella"



Fotografia de Fernando Campanella, no Flickr

Minas de minhas almas
eu te batizo em nome da mãe
e te embalo a capella
para que em mim sonhes

e já não me pesas
e já não me dóis

Fernando Campanella


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013



Arte de Allan Ribeiro

Tão só!
Cada vez são mais longos os caminhos
que me levam à gente.
(E os pensamentos fechados em gaiolas,
as ideias em jaulas.)

Ah, não fujam de mim!
Não mordo, não arranho.
Direi:
- Pois não! Ora essa! Tem razão.

Entanto, na gaiola,
cantarão em silêncio
os sonhos, as ideias,
como pássaros mudos.

Fernanda de Castro

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

"O Tempo da Rosa"



Pintura "Mulher Sentada", de Cacilda

Será que você vai me amar
depois de todo tempo que passar?
Quando eu estiver vendo menos
quando estiver tremendo mais
quando a poesia for sendo prosa
quando as pétalas dessa tua rosa
for derrubada pelos ventos outonais?

Cáh Morandi


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013



Aquarela de Sérgio Prata

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

Mario Quintana
in "Rua dos Cataventos"


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

"Nós Dois"



Fotografia da Árvore de Natal da Lagoa - RJ/2012, by Celso Pupo

Se eu tivesse um milhão de moedas
(moedas de ouro), 
Eu lhe compraria
Um vestido azul 
(azul e estrelado),
Uma orquídea virgem
(virgem e grávida),
Um anel de luzes
(luzes e promessas)...

Jogaria o resto fora,
No rio;
Rio de Janeiro
(e faria pedido de amor eterno).

E quando dezembro findasse
Eu ia ser árvore,
(árvore de Ano-novo)
Na boca de Mel,
Na lua-de-mel,
Na Ilha do Mel.

Oswaldo Antônio Begiato


Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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