Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011



No tênue fio
que me prende
a ti,
faço malabarismos mil
para não te perder
de vista...

Ademir Antonio Bacca

Imagem: “He tooks me to places I’d never seen”, de Rosie Hardy


domingo, 30 de janeiro de 2011



Lentamente, entre sóis e luas, lá vai o céu,
Indiferente, ora azul, ora cinza, como a vida.
Lá vai o céu abrigando pipas, balões e anjos,
Agasalhando almas, pintando o arco-íris,
Distraído com a dança esguia das nuvens.

Gilson Froelich


Imagem: “Pipa de Criança Arranha Céu”, de Aurílio Santos

sábado, 29 de janeiro de 2011

"Contranarciso"



Em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

O outro
que há em mim
é você
você
e você

Assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós

Paulo Leminski

Imagem: Google, sem autoria definida

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"Pousas a Cabeça"




Pousas a cabeça num travesseiro que ficou na infância.
Pedes a alguém que acenda a noite.

O ofegar de um paraíso onde caem uma por uma as lendas...

Houve ontem? haverá amanhã? - eis renascem de teus pés
rotos sapatos, desencantada música, um ou outro arrepio
de mão insensata colhendo flores que não desabrocham nunca.

Alphonsus de Guimarães Filho
In Água do Tempo

Imagem: Gardening Shoes, by blackfuzzdevil


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

"Na Tarde Azul e Triste"



O meu jardim amanhecera
Constelado de brancas margaridas,
Que orvalhadas, ao sol, eram estrelas
Desencantadas e pensativas...
Depois, na tarde azul e triste,
A terra abriu-se para receber-te!

Adormeceste para sempre,
Baixando à terra com as margaridas...
E à noite o céu era um jardim do Oriente
Florindo em luzes pela tua vinda!

Anoitecia no meu pensamento...


Da Costa e Silva
in Poesias Completas


Fotografia: “Oliveiras VII”, de Tramontano no Flickr

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


Não há silêncio bastante
Para o meu silêncio.
Nas prisões e nos conventos
Nas igrejas e na noite
Não há silêncio bastante
Para o meu silêncio.

Os amantes no quarto.
Os ratos no muro.
A menina
Nos longos corredores do colégio.
Todos os cães perdidos
Pelos quais tenho sofrido
Quero que saibam:
O meu silêncio é maior
Que toda solidão
E que todo silêncio.

Hilda Hilst

Imagem: "In Silence", by Chiharu Shiota

"Bailado"



Na minha embarcação
Há promessas nunca cumpridas
Baloiçando ao som de boleros
- Nunca dançados


Rita Sá

Imagem: "Dreamboat mural", de Beth Wickstrom

terça-feira, 25 de janeiro de 2011



E numa tarde tranquila,
Nos longes, seja onde for
Lembra-te um pouco de mim:
Que eu morra olhando as alturas.
E que a chuva no meu rosto
Faça crescer tenro caule
De flor. (Ainda que obscura .)

Hilda Hilst

Fotografia publicada no Blog A Descoberta da Vila Flor


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011



Alguém baixou com suavidade minhas pálpebras,
me levando, desprevenido,
a consentir um sono ligeiro,
eu que não sabia que o amor requer vigília.

Raduan Nassar

Imagem: Google, sem autoria mencionada


domingo, 23 de janeiro de 2011

"Anjo"



Em cada precipício me sento
e um anjo me sussurra com calma
as encruzilhas,
as estradas desconhecidas.

Todos os meus anseios
estão em suas mãos
e com seu hálito me acalma,
me acalanta.

Durma, ele me diz, sentado
na beira de minha sombra,
não tenha medo dos sonhos.

Roseana Murray

Fotografia Flickr rosiehardy

sábado, 22 de janeiro de 2011

Reflexão


Imagem: Google, sem autoria definida


Está fora
de meu alcance
o meu fim

Sei só até
onde sou

contemporâneo
de mim

Ferreira Gullar



sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

"Cores da Madrugada"



Tendas brancas
calçadas cinzas
mulheres marrons
homens ruivos
mercado negro
magros meninos pardos
morrem luas vermelhas
na areia quente de sangue azul
enquanto eu, a transparente
desejo cores da madrugada
o sonho é tão velho
quanto o mar eterno
a concha silenciosa
pede um vinho tinto
para a sede intensa
na praia
a ultima estrela
faísca piscadas
eu – a desprovida de cor
me mordo para acordar
antes do sol
e rumo à casa
- vazia de vida
arrastando atrás de mim
as cores roubadas da madrugada.

Márcia Leite

Fotografia de Amir NazemZadeh - Fly me to the moon


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

"Zona Erógena"



A zona erógena dos poemas concebidos
manifesta-se perpendicularmente
ao centro gravitacional das idéias,
uma vez que os orgasmos literários
sempre ocorrem no ápice do contato
e troca de carícias entre a imaginação
e a realidade.

Jackson Sala

Imagem: Google, sem autoria mencionada




quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

"Cançãozinha do Primeiro Desejo"



Na manhã verde,
queria ser coração.
Coração.

E na tarde madura
queria ser rouxinol.
Rouxinol.

(Alma,
põe-te cor de laranja.
Alma,
põe-te da cor do amor.)

Na manhã viva,
eu queria ser eu.
Coração.

E na tarde caída
queria ser minha voz.
Rouxinol.

Alma,
põe-te cor de laranja!
Alma,
põe-te da cor do amor!

Federico García Lorca
In:"Canções e outros poemas"

Imagem: fotografia de Francisco Clamote

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

"Morrer lá à Frente"



Sentado literalmente em cima do tempo, observo
(todos aqueles que o tentam controlar)

Parar, retardar, avançar
Construir tempo, é coisa que os deuses temem

O homem...

Passei dias, semanas, meses, nessa posição
O tempo contou, em cima do tempo

À herege tentativa de mudar o imutável,
este, como que numa demonstração de superioridade,
Muda
Todos aqueles que o tentam mudar.

O homem...

O ser que muda cursos de água e os relevos da terra
Morre a tentar vencer o tempo.

Carlos Veríssimo

Imagem : cena de “Safety Last”, com Harold Lloyd.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011



Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Álvaro de Campos
excerto de Tabacaria

Imagem: "Fernando Pessoa", de Julio Pomar

domingo, 16 de janeiro de 2011

"A Dor e o Prazer"



O coração tem dois quartos
e neles moram sem se ver,
num a dor e no outro o prazer.
Quando o prazer no seu quarto
acorda cheio de amor,
no outro adormece a dor.
Cautela prazer, cautela!
Folga e ri mais devagar,
não vá a dor acordar.

Antero de Quental

Imagem: Google, sem autoria definida


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"O Sol"


streeteyes

O sol
penetra
entre os telhados

com essa obstinação
de olhar
o que há
dentro de nossas casinhas,

e fica pálido
ao ver
que com sua luz
é mais clara
a nossa pobreza.

Humberto Ak'abal

Imagem Google, sem autoria mencionada


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"Meu Querido Diário"



Querido diário,
Cansei do cinza.
Além do lápis preto,
trouxe minha caixa de lápis de cor
Por favor, não acorde
as minhas palavras adultas,
hoje vou desenhar...
Uma casa com chaminé e fumacinha,
Margaridas por toda volta,
Ahhh e uma horta
Eu detesto natureza morta.
Borboletas, joaninhas
e um sorriso imenso,
um cão sem coleira
e um passarinho, a gaiola dispenso.
Uma janela aberta,
uma menina de trança
e um coração cheio de esperança,
Mas como vou desenhar a esperança,
meu querido diário?
Esperança não se desenha
Nem a lápis, nem a pena
Esperança é a borracha
que apaga tudo que estraga a cena!


Imagem Google, sem autoria mencionada

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

"Enxoval"


DDiArte

Jamais conheci esse homem
que com certeza me dará
a parte de sua vida — a mais doce
um disco de Debussy
gomos de mexerica
beijos na boca seu sexo sua lívida
expressão de amor

Jamais conheci esse homem
com quem terei um filho um cachorro um aparelho de chá
a louca intimidade das dores de garganta

(E por jamais tê-lo conhecido
é que me preparo
no ritual patético das moças
separo um vidrilho
um corpo debruado em cio
a maternidade branca das louças)

Déborah de Paula Souza

Imagem Google, sem autoria mencionada


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

"A Canção do Tédio"



Anda uma estrela pelo céu,
sozinha, arrastando um véu
de viúva.
- É a chuva.

Rola um soluço leve no ar,
bem longo no seu rolar,
bem lento.
- É o vento.

Perpassa o passo oco de algum
fantasma, quieto como um
segredo.
- É o medo.

Batem à porta. Abro. Quem é?
Uma alta sombra, de pé,
se eleva.
- É a treva.

Mas, desde então, alguém está
comigo. É inútil. Não há
remédio.
- É o tédio.

Guilherme de Almeida

Imagem Google, sem autoria mencionada



segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

"A Estrada"



Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo o mundo é igual. todo o mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho
manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.

Manuel Bandeira

Fotografia de Roberto Hunger Junior


domingo, 9 de janeiro de 2011


dodone

Precário, provisório, perecível;
Falível, transitório, transitivo;
Efêmero, fugaz e passageiro
Impuro, imperfeito, impermanente;
Incerto, incompleto, inconstante;
Instável, variável, defectivo;
Não feito, não perfeito, não completo;
Não satisfeito nunca, não contente;
Não acabado, não definitivo
Eis-me aqui.
Vivo.

Caio Fernando Abreu

Imagem Google, sem autoria mencionada


sábado, 8 de janeiro de 2011

"Não estão"


pinnacle_500.jpg (28947 bytes)

Os pássaros não estão,
se esconderam no meu coração.

Hoje sou ninho.

Humberto Ak'abal


Imagem: "The Pinnacle", de Steven Kenny

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Avesso"



Eu tenho uma falha mecânica nos olhos
e um metal enferrujado no joelho.
Tenho cartas explícitas nas mangas
e uso colete à prova de balas, de hortelã.
Eu sou o destinatário das enormes e lacradas cartas que eu não remeto.

Márcia Carneiro

Imagem daqui



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"Lamento em Voz Baixa"



A vida que não tive
morre em mim até hoje.
Chega, límpida, pura,
sorri, pálida, foge.

A vida que não tive
salta, viva, de tudo.
Se me sorri nos olhos,
com que ilusão me iludo.

A vida que não tive
é o que há de mim em mim,
chama, orvalho, segredo
do nunca de onde vim.

Emilio Moura

Imagem daqui


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

"Dias Melhores Verão"



Desfruta
sem pressa
Essa tua primavera
quando o verão chegar
e fores fruto maduro
vou te colher
com apuro
e te comer
de colher

Germano Konrath

Imagem Google, sem autoria mencionada


segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Mentiras"



Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?

Ai, se o sei, meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade…
Não palpita d´amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!

Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito…

Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!

Florbela Espanca

Imagem Google, sem autoria mencionada

domingo, 2 de janeiro de 2011

"Depois do Sol"



Fez-se noite com tal mistério,
Tão sem rumor, tão devagar,
Que o crepúsculo é como um luar
Iluminando um cemitério

Tudo imóvel . . . Serenidades
Que tristeza, nos sonhos meus!
E quanto choro e quanto adeus
Neste mar de infelicidades!

Oh! Paisagens minhas de antanho
Velhas, velhas . . . Nem vivem mais
— As nuvens passam desiguais,
Com sonolência de rebanho

Seres e coisas vão-se embora
E, na auréola triste do luar,
Anda a lua, tão devagar,
Que parece Nossa Senhora

Pelos silêncios a sonhar

Cecília Meireles


Imagem Google, sem autoria mencionada

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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