Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina

domingo, 30 de novembro de 2008

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Ele ainda espera
ver contente a mãe gentil
nas margens plácidas
desses tristes trópicos.
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Sebastião Uchoa Leite

"O Caminho"

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Não é medo de chegar sozinha:
é medo de não chegar.
Não é angústia de saber longa a estrada:
é de não saber escolher entre todas
a verdadeira.
Oh! Meu segredo inviolável!
O longo mapa a percorrer!
Quantas vezes penso ter chegado à paz
e é apenas uma encruzilhada.
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Reni Cardoso

"Passando dos Cinquenta"

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Meu pescoço se enruga.
Imagino que seja
de mover a cabeça
para observar a vida.
E se enrugam as mãos
cansadas dos seus gestos.
E as pálpebras
apertadas no sol.
Só da boca não sei
o sentido das rugas
se dos sorrisos tantos
ou de trancar os dentes
sobre caladas coisas.
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Marina Colasanti
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Vejo os telhados onde jogávamos migalhas de pão para os passarinhos,
escondidos para não assustá-los,
até que eles viessem,
mas não vinham nunca...
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Era difícil seduzir os que têm asas, já sabíamos.
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Caio Fernando Abreu
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.Homem que vens de humanas desventuras,
que te prendes à vida e te enamoras,
que tudo sabes e que tudo ignoras,
vencido herói de todas as loucuras;
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que te debruças, pálido, nas horas
das tuas infinitas amarguras
e na ambição das coisas mais impuras,
e és grande simplesmente quando choras;
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que prometes cumprir e que te esqueces,
que te dás às virtudes e ao pecado,
que te exaltas e cantas e aborreces.
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arquiteto do sonho e da ilusão,
ridículo fantoche articulado,
- eu sou teu camarada e teu irmão!
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Antonio Botto
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Saudade tanta que...
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encontrei teu retrato;
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e toda minha felicidade
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coube num 3 x 4!
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Tadeu Paulo
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Carrego comigo
há dezenas de anos
há centenas de anos o pequeno embrulho.
Serão duas cartas?
Será uma flor?
Será um retrato?
Um lenço talvez?
Já não me recordo onde o encontrei.
Se foi um presente ou se foi furtado.
Se os anjos desceram trazendo-o nas mãos,
Se boiava no rio,
Se pairava no ar.
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Carlos Drummond de Andrade
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Tropecei no alfabeto logo ao nascer, caí no verbo
Invejei poetas, dizeres ímpares
Palavras seculares, versos românticos
Invoquei-os
Não ouvi respostas
Apenas o eco do silêncio
Percebi então que faço melhor do que eles
Aprendi a florir flores
A salgar o sal e a adoçar o doce
Com a entrega de palavras
Que ainda não nasceram
As mesmas que me habitam a alma
Aplaudi-me
Percebi que melhor que ser poeta,
É ser palavra
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Mia Couto

"Canção do Amor Imprevisto"

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Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E minha poesia é um vicio triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com tua boca fresca de madrugada,
Com teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel,
sem compreender nada,
numa alegria atônita...
A súbita alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!
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Mario Quintana

"A Brevidade da Rosa"

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Não sobreviverão meus poemas
às ondas do tempo,
humildes barcaças que são.
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Não deixarei descendentes,
se perderá minha linhagem
no voraz roldão dos anos.
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Transitória, breve,
como a rosa desfolhada
cujas pétalas agora voam
ao suave vento da tarde.
Mas leve,
...leve!
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Lenise Marques
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Quando tudo escureceu,
e os ventos fortes sopraram.
Quando a chuva despencou,
e os pingos grossos rolaram
Quando eu acendi a vela
e vi a paz iluminada,
compreendi que nada seria igual
depois de ti.
Pois enfeitaste a vida como uma alvorada,
como um raio de sol,
numa manhã sem nuvens,
anunciando a alegria tão sonhada.
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Conceição Bentes
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No dia em que a flor de lótus desabrochou,
a minha mente vagava, e eu não a percebi.
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Minha cesta estava vazia, e a flor ficou esquecida.
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Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
de um perfume no vento sul.
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Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
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Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim,
que ela era minha, e que essa perfeita doçura
tinha desabrochado no fundo do meu próprio coração.
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Rabindranath Tagore

"Incerteza"

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Pela manhã o sol amarga a boca
enquanto o galo, alheio à clarividência,
canta seu lamento imutável
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Sobre a mesa o café está frio
o pão perdeu a leveza e o significado.
O girassol, faz tempo,
continua só e abandonado à beira do rio
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Olhai com perdão para esse girassol
que só e único se avoluma amarelo
de um amarelo intenso
bem mais amarelo bem mais intenso
do que se pode permitir a uma flor
que se definha à beira do rio
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Ele não tem coragem de morrer
e não tem forças para viver
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O que será do amanhã
se logo pela manhã
o sol deixa a boca amarga?
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Oswaldo Antônio Begiato

"Minha Luz: Voce!"

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A única luz
de que preciso
brilha, é forte,
clara, cintilante
e me acorda
todos os dias
com um beijo,
e a alegria
da manhã
de seus olhos
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Tadeu Paulo

"Soneto A Fotografia"

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Libertar-se ligeiro da moldura
é o desejo da face, onde, o desgosto
emigrado do poço de água impura,
vai se aninhar na hora do sol posto.
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Do lugar da prisão vem a tortura,
pois vê, do seu retângulo, teu rosto
e acorrentado na parede escura,
não pode engravidar-te para agosto.
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Guarda ainda no olhar instante e viagem:
o instante em que foi presa pela imagem
e o roteiro que fez em mundo alheio.
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E eterna inveja do seu sósia ausente que,
embora prisioneiro da corrente,
habita num subúrbio do teu seio.
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Carlos Pena Filho

sábado, 29 de novembro de 2008

"Mutante"

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Sempre vivi perto do mar. Entro na água
e logo a terra torna-se uma memória antiga
saio e a água volta comigo:
as gotas são em meu corpo escamas...
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Olga Savary

"À Espera"

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(crédito da imagem: capa do disco de Dwight Yokam, "This Time".

Ainda um dia hei-de contar-te as espantosas
coisas de que me lembro quando fico à tua espera
horas e horas, cada vez mais vagarosas,
e tu não chegas, meu amor, e tu demoras
mais do que a minha paciência. Quem me dera
aquele tempo em que era sempre primavera
e assistia indiferente à passagem das horas.
Mas, quando chegas, só me ocorre esquecer tudo
e ter-te uma vez mais como quem tem o mundo.
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Torquato da Luz

"Amor Em Paz"

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Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei
em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz
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Vinícius de Morais

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

"Ternura"

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Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos.
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem
fatalidade o olhar extático da aurora.
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Vinícius de Morais
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Que te falta?
Peixe para a tua rede,
quando o vento é contrário?
Uma tempestade
para afundar os navios
e lançar à praia
as arcas de ricos tesouros?
Conheço uma flor, que ninguém conhece senão eu.
Toca com a flor
os duros lábios da Rainha,
que ela te seguirápelo mundo inteiro.
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Oscar Wilde

quinta-feira, 27 de novembro de 2008


Fotografia de Juergen Teller - "Sofá de Sigmund Freud (Malgosia), LONDRES, 2006. 

Naquela casa (em tempos) acolhedora,vive agora uma alma emparedada.
A lareira, ainda acesa, espalha o seu calor
e a multicolorida dança das suas chamas.
Para além do crepitar do doloroso grito da lenha,
a ser queimada, nenhum outro som está presente,
a não ser o das batidas das horas de um antigo relógio.
Nos pratos da mesa, ainda posta com requinte,
emboloram os bolos.
Na cama desfeita, por noites brancas, mal dormidas,
espreguiça-se o vazio.
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Helena Domingues


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Duas folhas na sandália
o outono
também quer andar.
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Paulo Leminsky

"Coisa Tua"

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Assim que vi você
logo vi que ia dar coisa
coisa feita pra durar,
batendo duro no peito
até eu acabar virando
alguma coisa
parecida com você
Parecia ter saído
de alguma lembrança antiga
que eu nunca tinha vivido,
mas ia viver um dia
alguma coisa perdida
que eu nunca tinha tido
Alguma voz amiga
esquecida no meu ouvido
agora não tem mais jeito,
carrego você no peito
poema na camiseta
com a tua assinatura
já nem sei se é você mesmo
ou se sou eu que virei alguma coisa tua
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Alice Ruiz
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Ao olhar-te pensei:
para quê preciso dos fotógrafos?
O flash
vem dos teus olhos,
para que
o teu rosto se revele
na minha alma,
onde o irei guardar.
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Nuno Júdice

"Significado"

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No poema
e nas nuvens,
cada qual descobre
o que deseja ver.
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Helena Kolody

"Sussurro"

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Aquiete-se para ouvir o silêncio;
a clorofila escorre pela haste,
a sombra e o sol ecoam um contraste
de quentes e frios na linha divisória.
Tente escutar a história da brisa
quando passa empurrando
a bruma,
que, tola, embaça a púrpura da rosa.
Esta conta prosa de sacerdotisa.
Faça atenção ao momento de explosão
da metamorfose
que irrompe em grande dose
de véus e açúcares.
Sinta o cochilo dos nenúfares.
Se conseguir atingir
o ponto mais profundo da quietude,
vai poder ouvir o coração do colibrí.
Ele bate minúsculo num peito passarinho.
A Terra se mobiliza para entoar
uma sonata azul em homenagem
a esse músculo coberto de plumagem,
que tão pequenininho é tão capaz de amar.
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Flora Figueiredo

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"Fundo do Mar"

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No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.
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Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 25 de novembro de 2008

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ali
ali
se
se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse
se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce
ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece
das coisas
que eu fiz a metro
todos saberão
quantos quilômetros
são
aquela
sem centímetros
sentimentos mínimos
ímpetos infinitos
não?
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Paulo Leminski

"Não Me Queiras Pouco"

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Não me queira pouco, porque o pouco é para todas,
é só para as mais afoitas.
Nesse assunto de querer, queira-me muito,
queira-me tudo, em tudo e mais um pouco.
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Porque esse querer eu também quero,
eu também espero, eu também assumo;
e assumo para todo o mundo.
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Nesse assunto de querer, queira-me muito,
porque eu também te quero muito.
Queira-me em tudo, porque eu também te quero em tudo.
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Queira-me muito, queira-me em tudo;
em tudo e mais um pouco, em tudo e muito mais.
E assim, queira-me sempre.
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Queiramo-nos sempre, como dois loucos.
Loucos de amor!
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Adriano Hungaro
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Ah, como somos comedidos!
Acomodamo-nos, vãos,
nos limites do concebido.
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Somos bem educados, cultos,
e ruge tanta fome
nos apetites fora do concedido.
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Ah, como somos sob medida!
Sub metidos, hirtos, bem vestidos,
robôs impecáveis, ilusão de vida.
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Ah, somos como os subvertidos,
introvertida soma de extrovertidos
por pompa, tinta, arroto ou brilhantina.
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Filhos do instante, do entanto e do porém,
somos através, como os vidros,
mas opacos e pervertidos, sempre aquém.
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Traçamos sinas e abstrações,
terçamos ódio finos, dissuadidos,
lãs de olvido e alucinações.
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Sovamos os sidos, os vividos,
somos eiva, disfarce, diluição.
Somos somas a subtrações.
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Artur da Távola
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Pode parecer promessa
mas eu sinto que você é a pessoa
mais parecida comigo
que eu conheço
só que do lado do avesso
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Pode ser que seja engano
bobagem ou ilusão
de ter você na minha
mas acho que com você eu me esqueço
e em seguida eu aconteço
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Por isso deixo aqui meu endereço
se você me procurar
eu apareço
se você me encontrar
te reconheço.
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Alice Ruiz

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"Fragílimo"

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Está faltanto
só um pedacinho de noite
pra me fazer chorar.
Quando ela entrar
com seu passo manso
e mudo,
libero a lágrima,
reconsidero tudo:
vou te buscar.
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Flora Figueiredo

"Roteiro"

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Parar. Parar não paro.
Esquecer. Esquecer não esqueço.
Se caráter custa caro pago o preço.
Pago embora seja raro.
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Mas homem não tem avesso
e o peso da pedra eu comparo
à força do arremesso.
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Um rio, só se for claro.
Correr, sim, mas sem tropeço.
Mas se tropeçar não paro
- não paro nem mereço.
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E que ninguém me dê amparo
nem me pergunte se padeço.
Não sou nem serei avaro
- se caráter custa caro pago o preço..

Sidónio Muralha

"Dizes Que Me Amas"

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Dizes que me amas de uma tal forma,
que não consigo deixar de corar;
que me amas de um modo primitivo,
sem razão aparente e sem desculpas
e que me amas porque me desejas,
porque sabes que eu também te amo
e como o monstro deste amor nos devora
a alma, a paciência e as maneiras.
É uma pena que todas estas coisas
morram em nós afogadas de silêncio.
,
Amalia Bautista

"Dos Apertos"

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O
do
teu
laço
desfaço
com
um
aperto
no
coração.
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Ademir Antonio Bacca

"Meus Dias"

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No dia em que a Felicidade bater
À porta da frente de minhas constâncias
Eu já não estarei mais dentro:
Terei saído de mudança
Pela porta dos fundos.
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Mas Ela encontrará tudo arranjado:
O chão limpo e encerado,
A louça lavada e guardada,
As camas perfumadas e estendidas,
As coisas alinhadas e sem pó,
A alma livre e serenada.
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Esquecerei então que um dia fui
Pedra selvagem e estrela cadente,
Carvão e diamante,
Esterco e pétala,
Corcunda e asas.
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Serei uma gota de orvalho cristalizada
Que o destino quis como pingente
Adornando a garganta da eternidade.
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Oswaldo Antônio Begiato

"Ao Ideal"

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A quem como a ti amei eu, ó sombra amada!
Atraí-te a mim, para dentro de mim - e desde então
quase me fiz eu sombra, e corpo tu.
Todavia os meus olhos não aprendem,
afeitos a ver as coisas fora de si:
para eles és sempre o eterno «fora-de-mim».
Ah, estes olhos põem-me fora de mim!
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Friedrich Nietzsche

"Recordação"

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É sua essa tardinha
Perfumada de jasmim.
Guarde-a com esmero
Em sua caixinha de costura.
Assim, toda vez
Que for pregar um botão
Em seu vestido carmim
Vai se lembrar do meu amor:
Ele foi perfumado
Como o botão de jasmim
Que se enamorou dela, tardinha,
E a perfumou todinha.
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Oswaldo Antônio Begiato
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Ela sentia o cheiro dele pela lembrança.
Quando alardeava isso aos quatro ventos
e alguém a chamava de louca,
ela sempre respondia:
“Sou sim. Nunca conheci quem não dissesse
que é louca pelo cheiro do ser amado".
E soltava um suspiro profundo.
Os homens sequer desconfiam
o quanto de animal reside no amor de uma mulher.
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Cássia Pires

domingo, 23 de novembro de 2008

"Maneiras de Ser"

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Os que são raízes
amam as profundezas.
Crescem em segredo
em busca de fontes.
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Os que são asas inquietas
anseiam amplidões.
Desenham signos de vôo
no azul do sonho infinito
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Helena Kolody
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Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz, cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma.
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Versos!… Sei lá! Um verso é teu olhar,
Um verso é teu sorriso e os de Dante
Eram o seu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!
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Meus versos!… Sei eu lá também que são…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez…
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Versos! Versos! Sei lá o que são versos...
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês!…
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Florbela Espanca

"Vista-se de Poesia"

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Procuro a poesia certa,
como uma roupa
na medita certa
para vestira minha alma nua
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Byafra

"Quem Me Impediria de Sonhar?"

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Quem me impediria de sonhar?
Senão a minha dor bem mais intensa!
Sou muito resistente, o meu olhar
Resgata em teu olhar a recompensa.
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Quem me impediria de te amar,
Senão teu coração mais arredio,
Que às vezes nem me diz se vai voltar
E sai buscando um mar...no meu navio.
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Quem me impediria de querer
Teu corpo, mesmo silenciosamente?
Se fecho os olhos, busco te rever...
No espelho de um amor inconseqüente.
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Procuro nos meus sonhos te esconder,
Mas meu olhar te mostra a todo instante...
Quem mais me impediria de te ter,
Se sou, sem nem saber... o teu amante?
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Luiz Gilberto de Barros
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Não tenho cadernos.
Tudo o que escrevo
escrevo nas paredes do meu quarto.
Se é para estar presa
que seja entre quatro poemas...
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Rita Apoena

"Encantamento"

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A tarde jogou os seus sete véus luminosos
sobre a montanha,
e ficou toda nua dançando
com sombras de crepúsculo
a escorrerem-lhe, suaves, pela pele dourada...
e ficou toda nua dançando
na campina
ao som da harpa encantada do silêncio...
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Tasso da Silveira

sábado, 22 de novembro de 2008

Poesia sobre a água

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De pé na frágil tábua
onda a onda ele escrevia
poesia sobre a água.
Era uma escrita tão una
de tão perfeita harmonia
que o que ficava na espuma
não se podia apagar:
era a própria grafia
do poema do mar.
.
Manuel Alegre
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Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras
e só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores
só ele traz a músicaque jaz à beira-mar em agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto
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Ruy Belo

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

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Sede como os pássaros que,
ao pousarem um instante
sobre ramos muito leves,
sentem-nos ceder, mas cantam!
Eles sabem que possuem asas.
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Victor Hugo

"Relíquias"

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Nesta velha caixinha abandonada,
que a ação do tempo fez mudar de cor,
retalhos de minh’alma emocionada
guardei, outrora, com carinho e amor.
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Relíquias ... Eram cantos de alvorada,
e hoje traduzem nostalgia e dor.
Restos mortais de uma ilusão dourada,
vago perfume de sidérea flor.
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Ai, Tudo o vento do destino leva:
A luz se apaga e, a divagar em treva,
erram lembranças que doridas são!
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Na vida é tudo assim! Tudo envelhece
mas, dentro d’alma o sonho não fenece
e o coração ... é sempre o coração.
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Emiliana Delminda
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Quero compor um poema
onde fremente
cante a vida das florestas das águas e dos ventos.
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Que o meu canto seja
no meio do temporal
uma chicotada de vento
que estremeça as estrelas
desfaça mitos e rasgue nevoeiros — escancarando sóis!
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Manuel da Fonseca

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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