De Catia Chien, daqui
terça-feira, 29 de novembro de 2011
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
"É Urgente Que As Pessoas Se Amem"
Pintura de Tomazs Rut
É urgente que as pessoas se amem
sem vergonha e sem tristeza
Que se amem com orgulho
Com a alegria pagã da joie grega
É urgente que as pessoas não se escondam
por detrás das outras pessoas
das idéias das outras pessoas
dos muros espessos do medo
É urgente que as pessoas se amem
É urgente partilhar o pão e o corpo
com a claridade da terra molhada
nas manhãs de sol
É urgente assumir a verdade
Manuela Amaral
domingo, 27 de novembro de 2011
"Platéia"
Pintura de Fátima Junqueira, aqui
Não sei quantos seremos, mas que importa?!
um só que fosse e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!
Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.
E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.
Miguel Torga
in Câmara Ardente
sábado, 26 de novembro de 2011
"Os Teus Olhos Infinitos"
"Casal Apaixonado - Pintura sobre tela, de Bela
Hoje roubei todas as estrelas do céu
e quando pensei em colá-las nos teus olhos
faltava-me ainda o universo todo…
Eusébio Sanjane
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
"Os Sete Poemas Capitais"
Desconheço a autoria da imagem
SOBERBA
Tire suas mãos
geladas suadas trêmulas
de tudo o que me pertence:
afaste suas mãos
de si
e venha bater palmas
em mim
AVAREZA
Eu quero
seu olho sua boca sua mão seu balanço seu dedão do pé
eu quero
seu relógio seu cabelo sua roupa seu espaço seus pêlos de pé
eu quero
sua voz seu canudo seu cheiro seu braço sua coxa seu umbigo seu
reflexo cadarço seu beijo de veludo seu sorriso mudo até seu chulé
eu quero quase tudo
só não quero a cicatriz
embaixo do seu queixo
um corte feio e cego
desleixo do meu ego
que me faz lembrar de mim
IRA
Vem assim me esmagando
faz o sol, noite adentro,
ser de mim o que não sou
vem gritando que me odeia
faz pegadas no meu pódio
para nunca mais me pôr
...
mas pra que tanto eclipse
se já sabes que o ódio
é uma forma de amor?
LUXÚRIA
Uma palavra crua logo
após uma noite de amor selvagem
vale mais do que mil diálogos
vale mais do que mil imagens
PREGUIÇA
Vamos fazer um negócio:
esquecerei o amor
e viveremos do ócio
INVEJA
Oh, minha amada
pudera eu amá-la
o amor que tu me amas
quem dera, amada!
mas amo esse amor triste
que quase não existe
oh, minha amada
te amo como a mim
um amor mesquinho assim
pouquinho, quase nada
GULA
De tanto que me anula
a sua presença
é minha gula
Adriano de Oliveira
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
"Joana In Dark"
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
"Nu"
“Melancholy”, de Edvard Munch
Na pele crua
a verdadeira face
face à carne
faz-se nua
- farto
o homem
em descaminhos
revira o lixo da história
procura pétalas
- asas
escassas
na sorte da rua
colhendo migalhas
da própria amargura
sem lume
e nenhum perfume
volta ao beco
- ainda oco de tanto eco -
Cláudia Gonçalves
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Fotografia de Reynaldo Monteiro, em Olhares
Um galo
desperta a manhã
ao longe
e seu canto mexe
sem querer
no baú de lembranças
do poeta desavisado
que não ousava imaginar
galos anunciando madrugadas
em meio a blocos de concreto.
Ademir Antonio Bacca
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
Fotografia daqui
Quando Deus me habita
cresço para todos os lados
quando Deus me fala
apuro os ouvidos
quando somos um só
desapareço na luz
Diva Cunha
in "Resina"
sábado, 19 de novembro de 2011
"Da Cidade Interior"
Desconheço a autoria da imagem
Na minha cidade interior, tombou a noite
mansamente,
e acenderam-se pelas ruas humildes lampiões
de clarão morto e parado,
e as árvores longas dos jardins cresceram na
sombra densa
e no lajedo escuro dos passeios adormeceram os
passos dos passantes...
Na minha cidade interior, as ruas prolongam-se
nas estradas,
as ruas barrentas nas estradas barrentas, de onde
vem o cheiro da terra virgem,
e que se perdem na insondável distância, que é
um apelo
a todos os meus sentidos espirituais...
A minha cidade interior é um grande sonho de
humildade,
em que fermentam desejos de perdidas aventuras
anônimas
e ansiedades infinitas por ignotos mundos de
além...
Tasso da Silveira, in
Canções a Curitiba & outros poemas
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
"O Vento e Eu"
Fotografia de Mark Highton Ridley, daqui
O vento morria de tédio
Porque apenas gostava de cantar
Mas não tinha letra alguma para a sua própria voz,
Cada vez mais vazia...
Tentei então compor-lhe uma canção
Tão comprida como a minha vida
E com aventuras espantosas que eu inventava de súbito,
Como aquela em que menino fui roubado pelos ciganos
E fiquei vagando sem pátria, sem família, sem nada neste vasto mundo...
Mas o vento, por isso
Me julga agora como ele...
E me dedica um amor solidário, profundo!
Mario Quintana
In Velório sem Defunto
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
"Que Sabes do Fim?"
Fotografia de Hurtadoc, no Flickr
Goza a euforia do anjo perdido em ti.
Não indague se nossas estradas,
tempo e vento, desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite,
enche-o de estrelas...
No deslumbramento da ascensão,
se pressentires que amanhã estarás mudo,
esgota como um pássaro, as canções que tens na garganta.
Canta, canta...
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.
Desde que nasceste não és mais que um vôo,
no tempo, rumo ao céu?
Que importa a rota!
Voa e canta enquanto resistirem as asas...
Menotti Del Picchia
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
"Um Homem e Sua Sombra"
Fotografia de Hurtadoc, no Flickr
Um homem deixou de alimentar
a sombra que carregava. Alegou razões de economia.
Afinal para quê de sobejo levar algo que o duplicava?
Sem sombra, pensou
melhor carregaria o que nele carregava.
Equivocou-se. Definhou.
Descobriu, então, que a sombra o sustentava.
Affonso Romano de Sant'Anna
terça-feira, 15 de novembro de 2011
"A Vida é Feita de Instantes"
Fotografia de Alexey Titarenko, série Time standig still, daqui
A vida é feita de instantes
em constante oposição.
Nenhum é como foi dantes.
Foram-se uns, outros virão.
Em que é o homem igual,
a não ser em nunca o ser?
Quem sabe o que o mundo vale
mais tem de que se valer.
Uma esperança se quebranta?
Outra toma a dianteira.
O que mais na vida espanta
é a própria vida inteira.
Armindo Rodrigues
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
"Cabaré IV"
Tela “Operários”, de Tarsila do Amaral
Todos os punhais que fulgem nos gritos,
todas as fomes que doem no pão,
todo o suor que luz nas estrelas,
todas as cruzes no peso dos braços,
todos os crimes nas penas das pombas,
todas as lanças nos dedos de reza,
todas as feridas que cheiram nos cravos,
todas as sedes com asas nas nuvens,
toda a inveja na limpidez dos espelhos,
todos os soluços para ressuscitar os filhos mortos,
todos os desejos nos alçapões do Frio,
todos os assassinos que andaram ao colo das mães,
todos os olhos pegados nas jóias das montras,
todos os atestados de pobreza com lágrimas de carimbo,
todos os murmúrios do sol, no quarto ao lado, à hora da morte...
Tudo, tudo, tudo
se condensou de repente
numa nuvem negra de milhões de lágrimas
a humilharem-me de ternura
- eu que quero ser alheio, duro, indiferente...
... enquanto os Outros dançam, cantam, bebem,
vivem, amam, riem, suam
neste pobre planeta
magoado das pedras e dos homens
onde cresceu por acaso o meu coração no musgo
aberto para a consciência absurda
deste remorso sem sentido.
José Gomes Ferreira
domingo, 13 de novembro de 2011
"São Estas as Cores"
“Lilac Tree”, de Thayna Capelo
Se a alguém tens
de agradecer, agradece
primeiro à vida. Por isto,
quanto mais não seja: por teres
nascido de pé e de pé
resistires aos temporais
como as árvores
de raízes fundas. Como a elas,
só te arrancarão à força. Podem,
então, encher-te a boca de terra e os olhos
de sal. São estas
as cores da vergonha.
Albano Martins
sábado, 12 de novembro de 2011
Foto de Zé Julio, daqui
Eu te amo inverno outono verão primavera e flores
Eu te amo mares ventos pensamentos todos
Eu te amo dias noites tardes cinzentas manhãs de sol
Eu te amo hoje ontem sempre eternamente
Lou Witt
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
"As Vestes"
Desconheço a autoria da imagem
Enfrentei furacões com meus vestidos claros
Quem me vê por aí com esses vestidos
estampados
não imagina as grades, os muros
o chão de cimento que eles tornaram leves
Não se imagina a escuridão
que esses vestidos cobrem
e dentro da escuridão os incêndios que retornam
cada vez que me dispo
cada vez que a nudez me liberta dos seus laços.
Iracema Macedo
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
"Libera-me"
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
"Vinho"
terça-feira, 8 de novembro de 2011
"Sonho Adormecido"
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
domingo, 6 de novembro de 2011
"Poema para Habitar"
A casa desabitada que nós somos
pede que a venham habitar,
que lhe abram as portas e as janelas
e deixem passear o vento pelos corredores.
Que lhe limpem os vidros da alma
e ponham a flutuar as cortinas do sangue
– até que uma aurora simples nos visite
com o seu corpo de sol desgrenhado e quente.
Até que uma flor de incêndio rompa
o solo das lágrimas carbonizadas e férteis.
Até que as palavras de pedra que arrancamos da língua
sejam aproveitadas para apedrejarmos a morte.
Albano Martins
sábado, 5 de novembro de 2011
"A Passagem"
Fotografia de "A P, no Flickr
Que me deixem passar - eis o que peço
diante da porta ou diante do caminho.
E que ninguém me siga na passagem.
Não tenho companheiros de viagem
nem quero que ninguém fique ao meu lado.
Para passar, exijo estar sozinho,
somente de mim mesmo acompanhado.
Mas caso me proíbam de passar
por ser eu diferente ou indesejado
mesmo assim passarei.
Inventarei a porta e o caminho.
E passarei sozinho.
Ledo Ivo
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Segunda-feira qualquer
a vida te sacoleja como um velho trem
das janelas, seres te dizem coisas
Sopra o vento varrendo dizeres
Viajam os perfumes
te penetram
pelas narinas-ouvidos
Os olhos se abrem
As cores entram em ti
As formas te apalpam
O todo te sorri
como rosa
recém-aberta
trêmula de vida
Inês Mafra
in Cristal
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Reminiscing In The Window I by Lesley Aggar
Do parapeito
eu espreito
teu preconceito
teu lado direito
teu ângulo estreito
teu ar contrafeito.
Tento mudar-te o conceito
de insatisfeito perfeito.
Ao abrir-te o peito
pra reparar o defeito,
me desajeito,
pois há que mudar o sujeito
mas esse não muda, está feito.
Flora Figueiredo
In Florescência
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Perdi uma maleta cheia de nuvens
e de flores
maleta onde eu carregava
todos os meus amores
embrulhados em neblina.
Perdi essa maleta
em alguma esquina
de algum sonho
e desde então
eu ando tristonho
sem saber onde pôr as mãos.
Se andando pelas ruas
você encontrar a tal maleta
por favor
me avise em pensamento
que eu largo tudo
e venho correndo...
Roseana Murray
terça-feira, 1 de novembro de 2011
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Interlúdio com ...
Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones
Will You Still Love Me Tomorrow
Norah Jones
Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?
Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?
Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?
I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...
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