Desconheço a autoria da imagem
A verdade, mais tola e mais simples, mais certa
e mais secreta
é que me fazes falta,
esse vácuo, esse oco sem precisão ou contorno,
sem nome ou lógica.
Tu me fazes falta e me fazes carregar comigo
uma ausência indefinível e perpétua,
um esgar que é antes um tatear no vazio
do que um estender de mão em direção a algo.
Tu me fazes falta, me cavas um buraco,
pões em meu rosto um borrão que não me desfigura,
antes me torna um enigma para mim mesma.
E venho me definindo e me reconfigurando ao redor disto:
da tua falta.
Sou esta que se ressente da tua ausência
sem saber mais sequer como é a tua presença,
que forma tem o teu corpo, qual o cheiro do teu hálito,
qual a cor dos teus olhos, que gosto tem a tua boca assim que despertas.
E no entanto sei disso: me fazes falta,
essa falta ampla e completa que toma o dia
cada vez que me vem o teu nome,
essa falta que abre uma fresta no tempo,
que suspende os ruídos do mundo,
que modifica a direção do vento
e que toma o centro de mim
e ao redor da qual eu brinco de ser uma outra,
que eu inventei para parecer que continuei vivendo.
Patrícia Antoinette
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