Tela de Gustav Klimt [portrait of Mada Primavesi] 1913
Ei-la que vem, ubérrima, numerosa, escolhida,
secreta, cheia de pensamentos, isenta de cuidados.
Vem sentada na nova primavera,
cercada de sorrisos no regaço lírios,
olhos feitos de sombra de vento e de momentos
alheia a estes dias que eu nunca consigo
morder-lhe o tempo na face as raízes do riso
começa para além dela a ser longe.
A amada é bem a infância que vem ter comigo.
Há pássaros antigos nos límpidos caminhos
e mortes como antes nunca mais
Ei-la já que se estende ampla como uma pátria
no limiar da nossa indiferença.
Os nossos átrios são para os seus pés solitários
Já todos nós esquecemos a casa dos pais
ela enche de dias a nossa solidão.
A dor... é nela até que deus começa
eu bem lhe sinto o calcanhar do amor.
Que importa sermos de uma só manhã e não haver em volta
árvore mais açoitada pelos diversos ventos?
Que importa partirmos num desmoronar de poentes?
Mais triste mesmo a vida onde outros passarão
multiplicando-lhe a ausência que importa
se onde pomos os pés é primavera?
Ruy Belo
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