Fotografia do filme Dracula, com o ator Gary Oldman
Todas a noites, algumas senhoras
disputam o assento da cadeira do meu quarto.
Algumas chegam assim que o sol se põe
vestidas ainda de algum resto luz.
Outras, velhas notívagas
chegam sempre mais tarde
travestidas de escuridão.
Melancolia é sempre a primeira
roupas longas e largas / e um véu opaco
a esconder-lhe a face misteriosa.
Gosta do pé da cama onde se instala
feito um gato / e finge que dorme.
Tão velha quanto a vida, a dor é visita constante
corcunda / coberta de trapos
parece carregar o mundo nas costas.
Traz nas imensas mãos martelo e ponteira
de latejar têmporas.
Há também uma louca descabelada
olhos arregalados que se contorcem
entre espantos antigos e vagares sem rumo
que compulsivamente faz versos
escreve / rasga / escreve / rasga / escreve
depois, atira tudo pela janela
[há sempre vento]
sob o olhar abismado de outras tantas senhoras
que invadiram o quarto e agora tentam
me sufocar.
É nessa hora então, que me atiro pela janela
[não há mesmo lugar onde se possa ir / ou ficar]
E assim amanhece / eu aos pedaços / descalça
vagando só, pelas ruas de pedra
e elas na minha cama
tecendo tramas pelas minhas costas.
Moiras – entre outras e outros
pois os velhos senhores também sempre chegam
embora mais tarde. E ainda mais graves.
como os pesadelos.
Nydia Bonetti
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