Esse que aparece na fotografia não sou eu:
é o que fizeram de mim.
Enforcado,
de gravata,
no rito burocrático.
Transparece um modelo padronizado
conforme os regulamentos em vigência.
Sem sinais particulares
ou qualquer assomo individualista;
é antes,
o protótipo o fotocópia
de uma imagem pública e repetida
pré-moldada.
De frente,
com olhar taciturno e impessoal,
assemelhando-se a qualquer outro
e nunca a mim mesmo
que há muito deixei de existir
na contabilidade dos recursos humanos
monotonamente igualizados
nas desigualdades racionalizantes.
O terno seriado
e o olhar emprestado
de ícones executivos
com documentação farta
e direitos protegidos.
Debidamente protocolado,
carimbado,
predisposto à comodidade
dos arquivos-mortos.
Antonio Miranda
Imagem Google, sem autoria definida
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