Eram, na rua, passos de mulher.
Era o meu coração que os
soletrava.
Era, na jarra, além do malmequer,
espectral o espinho de uma rosa
brava.
Era, no copo, além do gim, o gelo;
além do gelo, a roda de limão .
Era a mão de ninguém no meu
cabelo.
Era a noite mais quente deste
verão.
Era no gira-discos, o Martírio
de São Sebastião, de Debussy .
Era, na jarra, de repente, um lírio
Era a certeza de ficar sem ti.
Era o ladrar dos cães na
vizinhança.
Era, na sombra, um choro de
criança .
David Mourão Ferreira
Arte de Catrin Welz-Stein
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