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o mercadinho do bairro abriu suas portas:
olhos perplexos apalpam cebolas & abacaxis
a luz do sol alheia às nossas tragédias
despenca sobre alpendres morros escombros
devagar a vida rosna atrás da sobrevida:
merecemos seguir como os rios & os abismos
um dedo atiça a dor de uma velha ferida quando
percorre a lista de quem não verá a primavera
o coração apertado um poço de nãos & aspereza:
a memória um buquê de papoulas & avencas
[no fundo da pia onde limpo a louça seu rosto me olha
na agenda de telefones seu nome desafia o silêncio]
entre perdas & enganos a nossa maior façanha:
amestrados aprendemos a lavar as nossas mãos
Silvana Guimarães
(em tempos de pandemia Covid-19)
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