.
E diz-me a desconhecida:
"Mais depressa! Mais depressa!"
Que eu vou te levar a vida! . . ."
.
Finaliza! Recomeça!
"Transpõe glórias e pecados! . . ."
Eu não sei que voz seja essa
.
Nos meus ouvidos magoados:
Mas guardo a angústia e a certeza
De ter os dias contados . . .
.
Rolo, assim, na correnteza
Da sorte que se acelera,
Entre margens de tristeza,
.
Sem palácios de quimera,
Sem paisagens de ventura,
Sem nada de primavera . . .
.
Lá vou, pela noite escura,
Pela noite de segredo,
Como um rio de loucura . . .
.
Tudo em volta sente medo . . .
E eu passo desiludida,
Porque sei que morro cedo . . .
.
Lá me vou, sem despedida . . .
Às vezes, quem vai, regressa . . .
E diz-me a Desconhecida:
.
"Mais depressa,
Mais depressa"
.
Cecília Meireles
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