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Acordo de noite subitamente,
E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora.
O meu quarto é uma cousa escura com paredes vagamente brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena cousa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque a única cousa que o meu relógio simboliza ou significa
Enchendo com a sua pequenez a noite enorme
É a curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez...
Alberto Caeiro
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4 comentários:
Oi, minha amiga! Só o amor faz as coisas pararem no tempo... Lindo! Bjs!
Já acordei várias noites assim.
abraços
Hugo
Na sua simplicidade, Caeiro cria imagens poéticas maravilhosas. Considero este poema excelente e já o seleccionei várias vezes (no trabalho).
Feliz escolha.
(eu felizmente não costumo acordar de noite, embora sofra de pesadelos)
Beijinho e bom Domingo
Flor
Lindo poema, bela escolha.
beijinhos
Sonhadora
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