Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina

quinta-feira, 31 de julho de 2008

"O Impossível Carinho"

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Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!
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Manuel Bandeira

"Calmaria"

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Um barco atravessa as constelações,
Deixando um sulco de asa na superfície celeste.
Viajante clandestino, oculto o meu sonho
Na mala do porão.
Ouço um choro de astros
Amarrados ao mastro de fogo, e sinto uma queda
De cometa no abismo do horizonte.
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Desenho o seu rumo no mapa
Da alma. Evito naufrágios; rodeio arquipélagos
E recifes; procuro o centro do céu, onde
Se esconde a visão de um último porto, com
O seu cais de cinza e uma erupção de lava
Nos bolsos do nada.
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Então, acendo um cigarro na falésia
Da memória. Os deuses seguem-me, apanhando
As beatas que deixo pelo caminho. Correm,
E ouço o bater dos corações num eco
De cansaço. Mas não me apanham, e
Dobro a esquina do ocaso, vendo-os tossir
Com o fumo da noite
De volta ao convés, reabro
O diário de bordo. E o barco continua parado
No oceano sem porto.
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Nuno Júdice
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Olhar-se ao espelho e dizer-se deslumbrada:
Como sou misteriosa.
Sou tão delicada e forte.
E a curva dos lábios manteve a inocência.
Não há homem ou mulher que por acaso não se tenha olhado
ao espelho e se surpreendido consigo próprio.
Por uma fração de segundo
a gente se vê como a um objeto a ser olhado.
A isto se chama talvez de narcisismo,
mas eu chamaria de alegria de ser.
Alegria de encontrar na figura exterior
os ecos da figura interna:
Ah, então é verdade que eu não me imaginei,
eu existo.
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Clarice Lispector

"Rastro de Estrelas"

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Assisto ao dobrar dos dias
dentro de cada madrugada,
Sinto a neve
sulcada em meus cabelos,
sorvo a chuva mágoa dos meus olhos
onde os lírios e a esperança
se rasgam em rugas cansadas
de gestos e de nadas.
Invento o dia que não chega
na pura ressonância
do esquecimento.
Órfã do teu sorriso
feito de promessas e de horizontes,
me deixo inesperadamente
apaixonar pelo rastro luminoso
das estrelas.
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Luiza Caetano

"Dez Haicais Para os Olhos da Amada"

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Do encontro
Teus olhos chegam
dança que não destrança
aos sons que almejam.
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Do carinho
Teus olhos traçam
nesse tão largo afago
curvas que abraçam.
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Da paixão
Teus olhos ardem
ao lume qual perfume
brasas que espargem.
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Do amor
Teus olhos brilham
entre luas azuis e nuas
a paz que trilham.
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Da entrega
Teus olhos choram
em prece que enaltece
os salmos que oram.
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Da doação
Teus olhos formam
das ázimas lágrimas
rios que ao mar tornam.
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Do cotidiano
Teus olhos cantam
em temor ao desamor
males que espantam.
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Do desejo
Teus olhos vibram
espelhos de desejos
no olor que aspiram.
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Do prazer
Teus olhos quebram
momento e alumbramento
os tons que celebram.
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Do ciúme
Teus olhos fitam
na ronda o meneio da onda
o mar que atiçam.
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Aníbal Beça

"Despedida"

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Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces ? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras?
Tudo.
Que desejas?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
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Cecilia Meireles
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Hoje o céu da minha boca...
Sentiu falta do seu sorriso estrelado!
Cola tua boca na minha?!
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Priscila Lisboa
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Menino que vives p'la rua
E és ainda jardim por florir,
Se soubessem da vida que é tua
Teus olhos não queriam sorrir.
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Menino que vives descalço
E moras no bairro do medo,
Onde acabam teus dias em falso,
Onde vais chorando em segredo.
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Menino que corres ao vento
Sem ter ninguém para te embalar,
Deixa-me levar o teu tormento
E guarda-lo lá longe no mar.
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Que sonhos se perderam contigo!
Que brinquedos não tiveste para amar!
Menino feio, sou teu amigo,
Menino pobre, vamos brincar...
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Eduardo Filipe

"És Tu?"

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És tu o beija-flor
de bico moreno
que toda manhã
esvoaças em mim?
.
e traz o sereno,
o orvalho colhido
na pétala rósea
da flor do jardim?
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És tu essa brisa
que ainda agorinha
ligeira passou,
tal qual
a andorinha,
rompeu a cortina
e me beijou?
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£una

"Hoje"

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Hoje sou sonho
e sem motivo
(compreensível)
sou seu pão
sua fome
sua sede
Fina risca
entre
a inocência
e a perdição
Sou a luz negra
sou a própria escuridão
Hoje sou alegria
sou tristeza
chuva e vulcão
Sou tudo
sou nada
sou (ainda)
aquela nossa velha canção.
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Flávia Trigo

"Timidez"

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Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
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- mas só esse eu não farei.
.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
.
- palavra que não direi.
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Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
.
- que amargamente inventei.
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E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
.
e um dia me acabarei.
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Cecília Meireles
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Não é que o mundo seja só ruim e triste.
É que as pequenas notícias não saem nos grandes jornais.
Quando uma pena flutua no ar por oito segundos ou
a menina abraça o seu grande amigo,
nenhum jornalista escreve a respeito.
Só os poetas o fazem.
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Rita Apoena

terça-feira, 29 de julho de 2008

"Esperança"

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Tantas formas revestes, e nenhuma
Me satisfaz!
Vens às vezes no amor, e quase te acredito.
Mas todo o amor é um grito
Desesperado
Que ouve apenas o eco...
Peco
Por absurdo humano:
Quero não sei que cálice profano
Cheio dum vinho herético e sagrado.
.
Miguel Torga
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Rodai o zodíaco, fazei girar a rosa-dos-ventos,
sacudi ampulheta, gastai calendários, despojai primavera
se enfeitai outonos, matai luas e ressuscitai luas, trazei pessoas,
levai fantasmas, descei e subi ruas e rios, atravessai a terra em
longo e largo, levantai cidades e castelos de cartas, misturai flores
dos caleidoscópios e a pintura inocente do arco-íris.
Abri os olhos, fechai os olhos, abri e fechai janelas, portas, palavras...
Jogai para longe os vossos sapatos com a poeira de tanto andar,
e os vossos lenços com lágrimas de tanto adeus.
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Cecília Meireles

"Maturidade"

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Caminho entre as minhas perdas
que são insetos escuros,
e os meus ganhos: douradas borboletas.
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A luz de uma paixão, o dedo da morte,
o grave pincel da solidão
desenharam meus contornos, formaram
meu chão.
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Que liberdade, não precisar pensar;
que alívio não ter de administrar
minha vida:
apenas andar, e olhar
apenas ouvir essas vozes
que vêm de longe, passam por mim
e não me dão importância.
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Porque no vasto oceano,
a minha eventual desarmonia
é só uma gota
desafinada.
Mais nada.
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Lya Luft

"Calendário do Tempo"

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Meu Amor,
nosso cais de encontro é um labirinto de partidas...
.
Chegaste tarde demais
na bússola do meu tempo,
no ancoradouro
do meu carinho,
.
e
na geografia do meu corpo,
há sempre um cais vazio
à tua espera,
e um velho calendário
marcando uma data antiga.
.
Porque
partes sempre
antes de chegares
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Luiza Caetano

segunda-feira, 28 de julho de 2008

"Três Macacos"

. ..
Se preciso for
me tapar os ouvidos,
eu tapo..

Se preciso for
me fechar os olhos,
eu fecho..

Se preciso for
me calar a boca,
eu calo..

Se preciso for
me parar o coração,
eu paro..

Só não permito
me castrar os sonhos
que tenho..

Oswaldo Antônio Begiato

"Conto"

.
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Diante tanto idílio e tumulto, auxílio e vulto
Misturo o que reviro, transpiro o que respiro
Relatos tão confusos, de fatos tão profusos
Que nalgum tempo, já dissipei as pontas...
Que nalgum intento, me compensei às tontas...
Perante o que é vivo no meu faz-de-conta.
Cris de Souza

"Feito Flor"

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Ele diz que sou flor
e de repente me toca
me abre e respira
me chama pra vida
pétala por pétala
no chão despida
.
Cáh Morandi
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Jogo de sedução
entre o vento e as folhas.
Prazer volátil.
Juncos em movimento.
Os cabelos da água
penteados pelo vento.
Borrão azul
na brancura da página:
o poema.
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Albano Martins

"A Rosa"

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Lânguida, no trono
macio de folhas
repousa
a rainha flor.
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Abre-se toda em
aveludadas pétalas
de delicado
odor.
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Solitária no vaso,
a rosa
pinga vermelho
na tarde sem cor.
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Lenise Marques

"Enleio"

.
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Não sei se volteio
Se rodopio
Se quebro
Se tombo nesta queda
em que passeio
Não sei se a vertigem
em que me afundo
é este precipício em que me enleio
Não sei se cair assim me quebra...
Me esmago ou sobrevivo
em busca deste anseio
.
Maria Teresa Horta
.
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O tempo não pára!
Só a saudade
é que faz as coisas pararem
no tempo...
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Mário Quintana

domingo, 27 de julho de 2008

"Abismal"

. ..
Meus olhos estão olhando
De muito longe, de muito longe,
Das infinitas distâncias
Dos abismos interiores.
Meus olhos estão a olhar do extremo longínquo
Para você que está diante de mim
Se eu estendesse a mão, tocaria a sua face.
Mas os cinco dedos pendem como um lírio murcho
Ao longo do vestido.
Aqui tudo é leve, silencioso, indefinido,
Imóvel.
Não tenho mais limites.
Tornei-me fluida como o ar.
Seus olhos têm apelos magnéticos,
Mas estou abismada
Em profundezas infinitas..
.
Helena Kolody

"As Ondas"

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As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia
e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.
.
Sophia de Mello Breyner Andressen

"Amanheci Chovendo"

. ..
Olhei pela minha janela
Lá fora é sol e claridão,
num vasto céu azul...
Cá dentro
Que contraste...

Amanheci Chovendo!.

Priscila Lisboa

"Depende de Nós"

. .
Depende de nós
Quem já foi ou ainda é criança
credita ou tem esperança
Quem faz tudo para um mundo melhor.
Depende de nós
Que circo esteja armado
Que o palhaço esteja engraçado
Que o riso esteja no ar
Sem que a gente precise sonhar.
Que os ventos cantem os galhos
Que as folhas bebam orvalho
Que o Sol descortine as manhãs.
Depende de nós.
Se este mundo ainda tem jeito
Apesar do que o homem tem feito
Se a vida sobreviverá...
.
Ivan Lins

"Por do Sol"

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Ofereço-te
o pôr do sol
parto ensangüentado
na tarde alvoroçada de cheiros
Ofereço-te
uma sinfonia de pássaros
misturados na folhagem
das árvores da minha praça
outonalmente vermelha
Chapada branca de cal
entre o dia e entre a noite
Tocam os sinos na capela
crepúsculos e rezas secretas
Emanam odores da terra
suores, seivas e semens
anestesiando as dores,
enquanto te penso e venço
nesta cruz de cada dia
e nela me penduro feliz..

Luiza Caetano

"Soneto"

..
Não venhas ver-me, não! De que servia?
Nem eu tenho coragem para tanto.
Gostava muito, sim, mas todo o encanto
da tua grande ausência acabaria. .

É tornar-te a perder. Num certo dia,
tu partes novamente, e todo o pranto,
ou pouco ou muito - não importa quanto -
nunca o compensa uma hora de alegria. .

Mas se eu não posso ter outro desejo!
Se eu, não te vendo a ti, nada mais vejo!
Como é que, sendo assim, não te hei-de ver? .

Responde-te a minha alma comovida:
- Vale mais ter um mal por toda a vida
do que alcançar um bem para o perder..

Vírginia Vitorino

sábado, 26 de julho de 2008

"A Vida Perde a Corrida"

..

.Lá vai o tempo
cheio de vento
no seu galope
não quer escort
aceita o vento
só por sport
olha de cima
como quem cisma
sabe do céu
sabe do inferno
sabe-se eterno
a vida perde sempre a corrida
o tempo voa
e a vida vive
toda encolhida
lá vai o tempo
mas volta já
enquanto a vida
que vai já foi
e já não há..

Reynaldo Valinho Alvarez
In Galope do Tempo

Fotopoema - Cora Coralina

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sexta-feira, 25 de julho de 2008

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Quero o azul do céu
misturado com o azul do mar
e suas salgadas águas
a se derramar sobre nós...
Você vem comigo,
colorir de azul
o mundo meu...
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Edgar Radins
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No escuro de minha alma
só a rosa vermelha
do teu coração
é que trás cor
aos meus dias nublados.
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Edgar Radins
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Houve um momento - foi um sonho de Arte!
em que um raio de sol veio beijar-te,
com tanto ardor, em rutilâncias tais,
que eu fiquei muda, a olhar, num gozo infindo,
o beijo que te dava o sol tão lindo...
.
Mas o teu rosto alumiava mais . . .
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Branca de Gonta
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Agora que a dor prescreveu
apartemos os pertences:
fico com o sangue
devolvo-te a cicatriz.
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Maria José Quintela
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Eu não sou eu.
Sou este
que vai a meu lado sem eu vê-lo;
que, por vezes, vou ver, e que, às vezes, esqueço.
O que se cala, sereno, quando falo,
o que perdoa, doce, quando odeio,
o que passeia por onde estou ausente,
o que ficará de pé quando eu morrer.
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Juan Ramón Jimenez

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Fotopoema - Zeca Baleiro

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"Vôo"

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Alheias e nossas as palavras voam.
Bando de borboletas multicores, as palavras voam
Bando azul de andorinhas, bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.
Viam as palavras como águias imensas.
Como escuros morcegos como negros abutres, as palavras voam.
Oh! alto e baixo em círculos e retas acima de nós,
em redor de nós as palavras voam.
E às vezes pousam.
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Cecília Meireles
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Eu queria ter o tempo e o sossego suficientes
Para não pensar em cousa nenhuma,
Para nem me sentir viver,
Para só saber de mim nos olhos dos outros, reflectido.
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Alberto Caeiro

"Frio Freio"

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Tanto desconforto em suas minhas palavras
Atropelamos sentimentos e causamos graves acidentes
Contornamos angústias e sofrimentos
Leis e sinais nos impedem de chegar
Novos combustíveis são necessários
Estamos vulneráveis e sinto frio
Freios meus e seus
Por chegar, placas e sinais a mostrar
Frio e freio
Tempo e passeio
Freamos?
Parei e cansei
Desisti e desci
A rodovia continua
Virei à direita
Quebrei a esquerda
Continuo a viagem
Não mais vejo seus freios,
Sinto o meu frio e a impossibilidade de seguir junto.
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Lúcio Barros
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Assim são as imagens poéticas:
elas têm o poder de ir lá no fundo da alma,
onde moram os esquecimentos.
E quando um desses esquecimentos acorda,
a gente sente um estremeção no corpo.
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Essa é a missão da poesia:
recuperar os pedaços perdidos de nós.
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Rubem Alves
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Sou feito nuvem
em céu de fim de março
onde o outono se apressa
Se perde
Diz que fica
... e de repente vai embora!
Sou feito nuvem
Passageira
Lenta
Que vaga e pensa ser horizonte!
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Lunna Guedes

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Fotopoema - Platão

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Amor é bicho instruído
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que escorre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.
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Carlos Drummond de Andrade
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A lente desfocada dos meus olhos
procuram você
em vão.
Vou por instinto
vou por odores
mas sempre no rítmo
do teu pulsar
e das batidas
de teu coração.
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Edgar Radins

"Devaneios"

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Não rabisquei poemas no teu colo,
mas deixei nele as marcas dos meus dentes,
e foram tantas marcas que o consolo
dos beijos se fazia sempre urgentes.
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Não naveguei canções no teu pescoço,
mas afoguei a língua nas enchentes
dos veios transbordados no alvoroço
das chuvas de cristais incandescentes.
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Hoje o silêncio é amigo dos sonetos,
que se vestem de estrelas, sem poesia,
— Poesia é o sumo doce dos teus seios —,
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mas neles guardo os sonhos incompleto
se cumpro a sina e solto a cantoria,
tingindo de saudade os devaneios.
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Nathan de Castro
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Todas as palavras tomadas literalmente são falsas.
A verdade mora no silêncio que existe em volta das palavras.
Prestar atenção ao que não foi dito,
ler as entrelinhas.
A atenção flutua:
toca as palavras
sem ser por elas enfeitiçada.
Cuidado com a sedução da clareza!
Cuidado com o engano óbvio!
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Rubem Alves

"Insônia"

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A boca escancarada da noite
os urros do silêncio
as teclas mudas
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Não tilintam os cristais
não estilhaçam a vidraça
os amantes não sussurram
não há sinos de igreja
o mundo acabou
o relógio dorme
o tempo não passa
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Onde estão os latidos
os galos os gritos
os olhos do sol?
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Na cama imensa
o corpo exausto
o vazio da tua ausência
e os mil anos dessa noite
que me engole
que me vomita
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Líria Porto

terça-feira, 22 de julho de 2008

"Com Você"

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Se for com sol, eu topo
uma tarde curtindo a tarde
deitados na grama do parque
e vinho, e queijo, e beijo.
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Se for com lua, eu topo
uma dose de desejo no copo
um cheiro de noite no corpo
e lençol, e pele, e suor.
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Se for com você, eu topo
uma casinha azul no campo
um vaso de gérbera no canto
e rede, e quintal, e dengo.
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Bertold Brecht

"Dias Melhores Verão"

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Desfruta
sem pressa
essa tua primavera
quando o verão chegar
e flores fruta maduro
vou te colher
com apuro
e te comer
de colher
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Germano Konrath

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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