Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina

segunda-feira, 31 de maio de 2010

"Afetuosa reciprocidade"

.
Imagem Google
.
Tuas palavras, quando chegam... repentinas...
Qual bailarinas, sob tênue melodia,
Passeiam...leves...valsam nas minhas retinas
Movimentando-se no tom da fantasia.

Afetuosos, teus versos acariciam
A emoção de um coração embevecido
Ante teus sonhos... e meus olhos denunciam
Que estou feliz e eternamente agradecido.

É no afeto espontâneo que a verdade,
Flui, transformando nossa sensibilidade
Na poesia que renova a criatura

Pois é no âmago da reciprocidade
Que o coração descobre, na fraternidade,
A dimensão do nosso amor com mais ternura.

Luiz Gilberto de Barros

.

domingo, 30 de maio de 2010

"Inventando Fases"

.
Imagem Google
.
Disfaço minha dor
Pintando meus lábios
Com um sorriso
Pra espantar a sua dor
Que também é minha.
Ainda é cedo,
Não te encontro
Então me faço noite
E pego a primeira estrela
Invento outras fases para a lua,
Novalheia, solta ao vento
Procuro tua voz nesse momento
Ou cheiacor que traga pra mim
O teu sabor, o teu calor
Nessa noite fria, um alento
Minguantemente te vejo ao longe
E percebo que estavas
Também à minha procura,
Que loucura!
Como crescenlouquece
Meu amor por ti!

Rita Encinas

.

sábado, 29 de maio de 2010

"Sobre a ambição"

.
Imagem Google
.
de pó
Deus o fez.
Mas ele, em vez
de se conformar,
quis ser sol, e ser mar,
e ser céu... Ser tudo, enfim!
Mas nada pôde! E foi assim
que se pôs a chorar de furor...
Mas — ah! — foi sobre sua própria dor
que as lágrimas tristes rolaram. E o pó
molhado, ficou sendo lodo — e lodo só!

Guilherme de Almeida
in "O Livro das Horas de Sóror Dolorosa"

.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

"Disse a Sombra"

.
Imagem Google
.
Disse a sombra ao sol: “Eu passo.”
E ele — rubicundo de mormaço —
responde: “Mais devagar também caminho
enquanto alongas tuas pernas desmedidas.”

Ao meio-dia diz a sombra: “Em ti dormito,
oculta em teu novelo de verdades
tão claras, que o olhar dos homens velas.”

“Em mim dormitas?” diz o sol zangado.
E eu pensando ser a luz tamanha
que sombra alguma em mim pousaria
antes da negra noite apagar meu dia”.

Dora Ferreira da Silva
in "Limiares "

.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

"De que me rio eu...?"

.
Imagem Google
.
De que me rio eu?... Eu rio horas e horas
só para me esquecer, para me não sentir.
Eu rio a olhar o mar, as noites e as auroras;
passo a vida febril inquietantemente a rir.

Eu rio porque tenho medo, um terror vago
de me sentir a sós e de me interrogar;
rio pra não ouvir a voz do mar pressago
nem a das coisas mudas a chorar.

Rio pra não ouvir a voz que grita dentro de mim
o mistério de tudo o que me cerca
e a dor de não saber porque vivo assim.

Antonio Patricio

.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

"Receita"

.
Fotografia Lucyna Moodie
.
Dispense os chás de ervas,
os calmantes,
as receitas de lorotas em conserva,
alucinógenos,
bebidas inebriantes,
álcool em excesso,
glicógenos,
os moderadores, os estimulantes,
as lições de poder sob medida.
Liberte o coração e beba a vida.

Flora Figueiredo



terça-feira, 25 de maio de 2010

"O amor de agora é o mesmo amor de outrora"

.
Imagem Google
.
O amor de agora é o mesmo amor de outrora
Em que concentro o espírito abstraído,
Um sentimento que não tem sentido,
Uma parte de mim que se evapora.
.
Amor que me alimenta e me devora,
E este pressentimento indefinido
Que me causa a impressão de andar perdido
Em busca de outrem pela vida afora.
.
Assim percorro uma existência incerta
Como quem sonha, noutro mundo acorda,
E em sua treva um ser de luz desperta.
.
E sinto, como o céu visto do inferno,
Na vida que contenho mas transborda,
Qualquer coisa de agora mas de eterno.

Dante Milano

*

segunda-feira, 24 de maio de 2010

imagem daqui
.
Então a alma cansada
Dos belos sonhos despidos
Chorando a passada vida
Só tem um canto:
.
S
A
U
D
A
D
E
.
Casemiro de Abreu

.

domingo, 23 de maio de 2010

"Crepúsculo"

.
Fotografia Magda Rosa
.
É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força de vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
E quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida.

David Mourão-Ferreira

.

sábado, 22 de maio de 2010

"Encomenda"

.
Imagem Google
.
Desejo uma fotografia
como esta – o senhor vê? – como esta:
em que para sempre me ria
com um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia…
Não… Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.

Cecília Meireles
.

.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

"Tarde"

.
Arte by Dani Cunha
.
Há uma leve tristeza nesta tarde
que a visão do mar acaricia:
um dia mais que morre sem alarde
e ascende a esperança de outro dia.

As estrelas acordam docemente
num ritual antigo e conformado,
na tarde vem a mágoa persistente,
herdada de outras tardes do passado.

Choro de criança, gritos e risadas,
uma tristeza sem dor, sem consistência
- minha infância sorri pelas calçadas -

Brisas, leves sons de violino,
no céu a noite toma consciência
e desce à terra pela mão dos sinos.

Yttérbio Homem de Siqueira

.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

"Antes Que"

.
Imagem Google
.
Preciso ler um bom poema antes
de dormir
antes que a noite encerre o
diário inventário das lembranças
antes que o sono cale boca e olhar, antes
que o prumo caia
horizontal.
Preciso ler um bom poema antes
que seja tarde
que fique escuro
que chegue o frio.
Ler um bom poema
antes que a morte venha
e escreva o seu.

Marina Colasanti
in Passageira em Trânsito

.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

"Fita Verde"

.
Fotografia Shana Rae
.
Prendi uma fita bem verde
nos meus cabelos escuros.
Fiquei quase uma menina
capaz de subir nos muros.

Troquei de alma e de idade
e brinquei entre as crianças.
Meus pesares voaram longe...
e as minhas desesperanças.

Na roda da "Cirandinha"
ninguém cantou como eu.
Cantei, cantei todo o dia
até que o sol se escondeu.

E veio a noite e o cansaço
e nós fomos descansar:
as crianças de verdade
e eu que brinquei de enganar.

Lila Ripoll

.

terça-feira, 18 de maio de 2010

"Folhas Breves"

.
fotografia de viola
.
Somos folhas breves onde dormem
aves de sombra e solidão.
Somos só folhas e o seu rumor.
Inseguros, incapazes de ser flor,
até a brisa nos perturba e faz tremer.
Por isso a cada gesto que fazemos
cada ave se transforma noutro ser.

Eugénio de Andrade

.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

"Purgatório"

.
.
.É preciso expiar
a cada dia
a culpa do primeiro
sangue derramado
do desencontro de ontem
da falta de apetite
da perda da memória.

Antonio F. de Franceschi
in Tarde Revelada

.

domingo, 16 de maio de 2010

"Confia na Saudade"

.
.
Quando a saudade visitar tua casa
abre-lhe a porta, ela é confiável.
Ela é visita sempre inevitável,
quando uma ausência queima feito brasa.
Se ela disser que vem para ficar,
não tenhas medo, é boa companhia.

Tua casa, assim, não ficará vazia.
Ela só vem para te acalentar.
Acalentar teu coração ferido,
pela tristeza,
por um bem perdido,
pelas angústias do irremediável.
Aceita a vinda dessa doce amiga.
Ela é o abraço que te aquece e abriga
das tempestades do irrecuperável.

Silvia Schmidt

.

sábado, 15 de maio de 2010

"O dia abriu seu pára-sol bordado"

.
imagem daqui
.
XII

Para Erico Verissimo

O dia abriu seu pára-sol bordado
De nuvens e de verde ramaria.
E estava até um fumo, que subia,
Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.
Depois surgiu, no céu azul arqueado,
A Lua - a Lua! - em pleno meio-dia.
Na rua, um menininho que seguia
Parou, ficou a olhá-la admirado...
Pus meus sapatos na janela alta,
Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta
Pra suportarem a existência rude!
E eles sonham, imóveis, deslumbrados,
Que são dois velhos barcos, encalhados
Sobre a margem tranqüila de um açude...

Mario Quintana
in A Rua dos Cataventos

.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

"Tempo de Viver"

.
.
O tempo de nascer
é tempo de morrer,
pois começamos a ir
no momento de vir.

Tudo o que desejo é ser capaz
de honrar o tempo que tiver,
para amar.

E quando o tempo, finalmente, vier,
afirmar:

Fui audaz
e pude criar.

Vicente Ferreira da Silva
in Letras, Palavras e Linhas: Gestos pela diferença

.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Serenata

.
.
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.

Cecília Meireles

.

domingo, 9 de maio de 2010

"Livre"

.
.
Eu gostava de sentar no chão e ver mamãe tocando piano...
Enquanto ela tocava, eu sonhava...

Adorava quando eu perguntava: Mamãe o que vou ser quando crescer?
Ela dizia: "Livre, livre, livre"...

Enquanto ela falava eu sorria e no terceiro livre já estava atravessando
a porta de vidro em direção ao mar. E eu corria, corria muito.

De modo que quando mamãe me alcançava eu já estava no mar.
Então... ela me abraçava e a gente ria... Depois eu voltava a correr.

Eu nunca soube porque mamãe demorava a me alcançar...

Será porque eu era boa pra correr,
ou mamãe que era boa pra deixar eu voar?

Dafne Stamato

Um carinho a todas as mães pelo dia de hoje...
.

sábado, 8 de maio de 2010

"Vinho"

.
.
Se o queres seco
para molhar a garganta
eu o quero suave
para reinventar
esta chama.
Se o queres branco
para velar a virgem
eu o quero
vermelho
do porto
para aportar
as paixões
que me dividem

Marize Castro

.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

"Sonho Adormecido"

.
.
Folheava, folheava,
e não achava
onde depositara o sonho...
que tristonho,
adormecia
no canto da página.
Quem o acordaria?
A poesia?

Gaiô

.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"Esperança"

.
.
E depois talvez venha
O anjo da visita e do poema,
E traga o lume e a lenha
Do incêndio pedido.
Talvez venha,
De ritmos vestido.

Talvez... E, como outrora,
Ponha sobre a cabeça
Do poeta de agora
Os versos que ele mereça.

Em forma de grinalda,
Inocente e florida,
Talvez o faça ungido
Dum grito a mais na vida
Inútil e dorido...

Miguel Torga
In: Antologia Poética

.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

.
.
Dos teus sins abissais
despenco
um vale de buscas me espera
caçador de ventos
tempestades
teu coração natural investe
contra meu peito
moinho.

Renato Tapado
In "Poemas para quem caminha"

.

terça-feira, 4 de maio de 2010

"Integração"

.
.
Estás comigo no meu pensamento,
em toda a parte e a todo o momento.
Impregnas o ar que respiro
e a paisagem que vejo
como um desejo ou como um beijo.

Formas em meu redor um halo de carinho
e tua presença invisível
da-me impressões deliciosas
de quem carrega uma braçada de rosas
e vai deixando um rastro
de perfume no caminho.

Menotti Del Picchia

.

domingo, 2 de maio de 2010

Leitura Natural

.
Fotografia de João Parassu
.
Tendo lido os jornais
— infectado a mente, e nauseado os olhos —
descubro, lá fora, o azul do mar
e o verde repousante que começa nas samambaias
da sala
e recrudesce nas montanhas.

Para que perco tantas horas do dia
nessas leituras necessárias e escarninhas?
Mais valeria, talvez, nas verdes folhas, ler
o que a vida anuncia.

Mas vivo numa época informada e pervertida.
Leio a vida que me imprimem
e só depois
o verde texto que me exprime.

Affonso Romano de Sant’Anna

.

sábado, 1 de maio de 2010

Levantou-se a manhã nos meus cabelos

.

"Les Agapanthes"- 1917 - Claude Monet
.
Levantou-se a manhã nos meus cabelos
Como se fosse um pássaro em viagem.
E eu estendi as mãos para tocá-los
Não sei se por amor se por coragem.

Então dormiram estrelas no meu leito,
Então domei corcéis de solidão.
Por ti rasguei estradas sobre o peito
Para poder chegar ao coração.”

Joaquim Pessoa 




.

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

Postagens populares

Total de visualizações de página