Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina
Mostrando postagens com marcador Ana Luísa Amaral. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ana Luísa Amaral. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Entre as duas e as três

 
Arte de Thomas Pollock Anshutz 

Queria falar do que não tem concerto:
as letras desenhadas e compostas
com que confundo o espaço do papel,
a angústia compassada no contar
e a súbita alegria de ser eu
penosamente, às duas da manhã

Queria escrever do que não tem lugar:
a branca, doce e sonolenta estrada
onde espaçadas as palavras crescem,
suavizadas pelo lento sono
que devagar percorre as coisas todas
penosamente, às duas da manhã

Queria dizer do que não tem conserto:
ou seja, eu; ou seja, o papel branco
sombrio agora por já ser demais,
as letras excedentes e sonoras
desmembrando o silêncio e a noite toda
penosamente, às duas da manhã

Só então falarei do que ficou:
compassada alegria desenhada
na angústia de dizer sem me contar,
o papel confundido de impotente
e todavia prontas as palavras.
Quase às três da manhã. Penosamente.

Ana Luísa Amaral 
in Coisas de Partir




quinta-feira, 28 de maio de 2020

Anjos caídos

 
 A ninfa Galateia nos braços do pastor Aci -  Auguste Ottin, 1863. Fontana dei Medici, Jardim de Luxemburgo, Paris.

Neste palco de sol,
de repente:
os teus lábios:
anjos caídos mas abençoando

Cada curva e tremura
dentro do nervo exato
da memória

Por esses lábios
eu faria tudo:

rasgava-me de sangue
e inocência,
partia com as mãos vitrais
e estrelas,
desintegrava o sol

Já não anjos caídos
os teus lábios,
mas deuses transportados
pelos meus

Ana Luísa Amaral
in Imagias



 

Tento empurrar-te de cima do poema



 
'The Longing' by Jack Vettriano

Tento empurrar-te de cima do poema
para não o estragar na emoção de ti:
olhos semi-cerrados, em precauções de tempo
a sonhá-lo de longe, todo livre sem ti.

Dele ausento os teus olhos, sorriso, boca, olhar:
tudo coisas de ti, mas coisas de partir...
E o meu alarme nasce: e se morreste aí,
no meio de chão sem texto que é ausente de ti?

E se já não respiras? Se eu não te vejo mais
por te querer empurrar, lírica de emoção?
E o meu pânico cresce: se tu não estiveres lá?
E se tu não estiveres onde o poema está?

Faço eroticamente respiração contigo:
primeiro um advérbio, depois um adjetivo,
depois um verso todo em emoção e juras.
E termino contigo em cima do poema,
presente indicativo, artigos às escuras.

Ana Luísa Amaral
 in Coisas de Partir






terça-feira, 19 de maio de 2020

Estragas-me a paz

 
 Fotografia de Erwin Blumenfeld

Estragas-me a paz.
e eu preciso das minhas solidões,
de bocados mentais sem ti.

Começo a ser doença obsessiva
ao repetir-me por poemas isto:
as tuas invasões à minha paz.
(Podia até em jeito original
por aqui umas notas sobre ti:
cf., vide: textos tal e tal)
Mas é que a minha paz fica toda es-
tragada quando te penso amor.

Interrompi os versos por laranjas.
E volto sempre a ti mesmo que não.
É estranho que pacíficas laranjas
não me consigam afastar de ti.

Ana Luísa Amaral





quinta-feira, 8 de maio de 2014


Imagem da Facepage Colors For You

Se for preciso, irei buscar um sol

para falar de nós:
ao ponto mais longínquo
do verso mais remoto que te fiz

Devagar, meu amor, se for preciso,

cobrirei este chão
de estrelas mais brilhantes
que a mais constelação,
para que as mãos depois sejam tão
brandas
como as desta tarde

Na memória mais funda guardarei

em pequenas gavetas
palavras e olhares, se for preciso:
tão minúsculos centros 
de cheiros e sabores

Só não trarei o resto

da ternura em resto esta tarde,
que nem nos foi preciso:
no fundo do amor, tenho-a comigo.
quando a quiseres.

Ana Luísa Amaral


quinta-feira, 7 de abril de 2011

"Quarto-Crescente"



Porque vejamos: uma lua destas
já nem lua é. A lua quer - se grande,
leitosa, apontável às crianças:
olha o homem da lua, os olhos, a

vassoura. Mas uma lua destas,
desfazendo - se em sombras, um ar
de quem passou o dia em claro
já nem lua é. Que não exija então

o impossível, que não se finja
a sério a pedir versos e algum olhar:
o poeta não usa telescópio,
nem se vai acordar uma criança
por gomos de luar

Ana Luísa Amaral

Fotografia de Rubens Terayama

terça-feira, 10 de novembro de 2009

.
Imagem daqui
. .
A exaustão
das cinco da manhã
e a noite em claro
.
Gravo o poema,
que o peso da caneta
e eu nem Atlas
.
Os olhos a fecharem-se
mais fortes que o desejo
(vontade de rimar
nestes espaços)
.
(Se agora tu viesses
Dar-me um beijo
Com certeza adormecia
Nos teus braços)
.
Ana Luísa Amaral

.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

.

.
Não, não deve ser nada este pulsar
de dentro: só um lento desejo
de dançar. E nem deve ter grande
significado este vapor dourado,
.
e invisível a olhares alheios:
só um pólen a meio, como de abelha
à espera de voar. E não é com certeza
relevante este brilhante aqui:
.
poeira de diamante que encontrei
pelo verso e por acaso, poema
muito breve e muito raso,
que (aproveitando) trago para ti.
.
Ana Luísa Amaral

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

Postagens populares

Total de visualizações de página