Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina
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segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

A menina tonta



Imagem via Pinterest

Eu quero o arco-íris eu quero
diz a menina com fé.

(Seus olhos são duas lágrimas
boiando em folha de malva.)

- O arco-íris ninguém consegue
tocar com a ponta dos dedos.

- É razão do meu suspiro
tê-lo puro intacto virgem.

- Terás um vestido novo
listrado de sete cores
cada cor uma alegria.

- O vestido não tem asas
para passeios alados.
Quero das fitas do arco-íris
fazer os meus próprios trilhos
e sair andando ao léu
pelas varandas do céu
para conhecer países
que no mapa não existem
habitar outros planetas
mais habitáveis que este.

- Menina não sejas tonta
o arco-íris é apenas sonho
matéria de sonho é zero.

- Eu sonho por não poder
ter aquilo que mais quero:
quero aquilo que não tenho
ainda que não valha nada
por não poder alcançá-lo.
Se o pudesse não quisera
nem sonhara.

(Os olhos brilham que brilham
aos revérberos do arco-íris.)

Henriqueta Lisboa




Infância




 Imagem via Pinterest

E volta sempre a infância
com suas íntimas, fundas amarguras.
Oh! por que não esquecer
as amarguras
e somente lembrar o que foi suave
ao nosso coração de seis anos?

A misteriosa infância
ficou naquele quarto em desordem,
nos soluços de nossa mãe
junto ao leito onde arqueja uma criança;

nos sobrecenhos de nosso pai
examinando o termômetro: a febre subiu;
e no beijo de despedida à irmãzinha
à hora mais fria da madrugada.

A infância melancólica
ficou naqueles longos dias iguais,
a olhar o rio no quintal horas inteiras,
a ouvir o gemido dos bambus verde-negros
em luta sempre contra as ventanias!

A infância inquieta
ficou no medo da noite
quando a lamparina vacilava mortiça
e ao derredor tudo crescia escuro, escuro...

A menininha ríspida
nunca disse a ninguém que tinha medo,
porém Deus sabe como seu coração batia no escuro,
Deus sabe como seu coração ficou para sempre diante da vida
— batendo, batendo assombrado!

Henriqueta Lisboa



sexta-feira, 1 de março de 2019

Solidão


Arte de Kristina Lerner

Um homem na solidão
– que perene solilóquio! –
fala profundo a si próprio.

Fala a Deus em termos claros
a fluírem das mesmas águas
pela eternidade em curso.

Fala com tremor na voz
para que relvas e musgos
a palavra testemunhem.

Fala com os ventos diversos
para que a mensagem levem
aos ouvidos do horizonte.

Fala com o penhor das rochas
para que as estrelas o ouçam
desde a pedra em que se assenta:

“Da pedra da solidão
hei de levantar um templo.”

Henriqueta Lisboa



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

A menina tonta


Arte de Vladimir Shichkov 

Eu quero o arco-íris eu quero
diz a menina com fé.

(Seus olhos são duas lágrimas
boiando em folha de malva.)

- O arco-íris ninguém consegue
tocar com a ponta dos dedos.

- É razão do meu suspiro
tê-lo puro intacto virgem.

- Terás um vestido novo
listrado de sete cores
cada cor uma alegria.

- O vestido não tem asas
para passeios alados.
Quero das fitas do arco-íris
fazer os meus próprios trilhos
e sair andando ao léu
pelas varandas do céu
para conhecer países
que no mapa não existem
habitar outros planetas
mais habitáveis que este.

- Menina não sejas tonta
o arco-íris é apenas sonho
matéria de sonho é zero.

- Eu sonho por não poder
ter aquilo que mais quero:
quero aquilo que não tenho
ainda que não valha nada
por não poder alcançá-lo.
Se o pudesse não quisera
nem sonhara.

(Os olhos brilham que brilham
aos revérberos do arco-íris.)

Henriqueta Lisboa
(1929 – 1983)



sexta-feira, 23 de junho de 2017

Segredo


Desconheço a autoria da imagem

Andorinha no fio
escutou um segredo.
Foi à torre da igreja,
cochichou com o sino.

E o sino bem alto
Delém-dem
Delém-dem
Delém-dem
Delém-dem!

Toda a cidade
ficou sabendo.

Henriqueta Lisboa



terça-feira, 30 de abril de 2013

"Fascinação do Mar"



"Flying Mermaids", by Richard Ficker

Sonhei com o mar. Ele era terrível
como a cólera de Deus.
E também era belo e era grande
como a misericórdia de Deus.

Olhei o mar. E ele era triste
na solidão e profundeza de suas águas.
E também era louco e poeta
no seu mistério e em suas viagens sem caminho.

Aproximei-me do mar. E ele pérfido
com suas algas e seus milenares abismos.
E também era repousante
com suas ilhas e seus vergéis nascentes.

Fui para o mar. E ele era bárbaro
no acolhimento rumoroso de suas ondas.
E também era a graça, o espírito,
na revoada de suas espumas e gaivotas.

Amei o mar: ele era um deus humano
com seus demônios e seus anjos em liberdade. 

Henriqueta Lisboa


Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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