Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina
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quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Mistério



Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas...

Talvez um dia entenda o teu mistério...
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!

Florbela Espanca


domingo, 23 de setembro de 2018

Sombra


De olheiras roxas, roxas, quase pretas, 
De olhos límpidos, doces, languescentes, 
Lagos em calma, pálidos, dormentes 
Onde se debruçassem violetas... 

De mãos esguias, finas hastes quietas, 
Que o vento não baloiça em noites quentes... 
Noturno de Chopin... risos dolentes... 
Versos tristes em sonhos de Poetas... 

Beijo doce de aromas perturbantes... 
Rosal bendito que dá rosas... Dantes 
Esta era eu e eu era a idolatrada!... 

Ah, cinzas mortas! Ah, luz que se apaga! 
Vou sendo, em ti, agora, a sombra vaga 
D’alguém que dobra a curva duma estrada... 

Florbela Espanca


Fotografia de Hanna Seweryn


sábado, 22 de setembro de 2018

Falo de Ti às Pedras das Estradas


Falo de ti às pedras das estradas, 
E ao sol que é louro como o teu olhar, 
Falo ao rio, que desdobra a faiscar, 
Vestidos de princesas e de fadas; 

Falo às gaivotas de asas desdobradas, 
Lembrando lenços brancos a acenar, 
E aos mastros que apunhalam o luar 
Na solidão das noites consteladas; 

Digo os anseios, os sonhos, os desejos 
Donde a tua alma, tonta de vitória, 
Levanta ao céu a torre dos meus beijos! 

E os meus gritos de amor, cruzando o espaço, 
Sobre os brocados fúlgidos da glória, 
São astros que me tombam do regaço! 

Florbela Espanca

Arte de Antonio Mora



quinta-feira, 8 de maio de 2014

"Alma a Sangrar"


Imagem:  fotografia de Rosie Hardy, no Flickr

Quem fez ao sapo o leito carmesim 
De rosas desfolhadas à noitinha? 
E quem vestiu de monja a andorinha, 
E perfumou as sombras do jardim? 

Quem cinzelou estrelas no jasmim? 
Quem deu esses cabelos de rainha 
Ao girassol? Quem fez o mar? E a minha 
Alma a sangrar? Quem me criou a mim? 

Quem fez os homens e deu vida aos lobos? 
Santa Teresa em místicos arroubos? 
Os monstros? E os profetas? E o luar? 

Quem nos deu asas para andar de rastros? 
Quem nos deu olhos para ver os astros 
- Sem nos dar braços para os alcançar?!... 

Florbela Espanca
in "Charneca em Flor"


sábado, 7 de maio de 2011

"Amor Que Morre"



O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir!

Florbela Espanca


Fotografia:Memories of London: 2007’s Valentine’s Day at Piccadilly Circus Station, daqui

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Mentiras"



Tu julgas que eu não sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?

Ai, se o sei, meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade…
Não palpita d´amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!

Embora mintas bem, não te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito…

Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!

Florbela Espanca

Imagem Google, sem autoria mencionada

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

"Eu"

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"Tristeza", de Mariela Monica Montes
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Até agora eu não me conhecia,
julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me - pobre louca!-
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
E a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!

Florbela Espanca

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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

"Fanatismo"

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Florbela Espanca
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Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

«Tudo no mundo é frágil, tudo passa...»
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
«Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...

Florbela Espanca

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sexta-feira, 16 de abril de 2010

"Poetas"

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Estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro
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Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

Florbela Espanca

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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

"Inconstância"

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Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...

E este amor que assim me vai fugindo
Fé igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...

Florbela Espanca

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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

"Os Versos Que Te Fiz"

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Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
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Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder ...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !
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Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!
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Amo-te tanto ! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
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Florbela Espanca
(8 de dezembro de 1894 + 8 de dezembro de 1930)

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Hoje, há 79 anos de sua morte, uma simples homenagem a esta
que é a maior poetisa do mundo...
pois tornou-se eterna a Mais Bela Flor do Alentejo...

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domingo, 3 de maio de 2009

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Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus barcos...

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Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
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Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
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E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
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Florbela Espanca
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sábado, 7 de fevereiro de 2009

"Sonhando"

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É noite pura e linda. Abro a minha janela
E olho suspirando o infinito céu,
Fico a sonhar de leve em muita coisa bela
Fico a pensar em ti e neste amor que é teu!
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D’olhos fechados sonho. A noite é uma elegia
Cantando brandamente um sonho todo d’alma
E enquanto a lua branca o linho bom desfia
Eu sinto almas passar na noite linda e calma.
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Lá vem a tua agora… Numa carreira louca
Tão perto que passou, tão perto à minha boca
Nessa carreira doida, estranha e caprichosa
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Que a minh’alma cativa estremece, esvoaça
Para seguir a tua, como a folha de rosa
Segue a brisa que a beija… e a tua alma passa!…
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Florbela Espanca
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domingo, 4 de janeiro de 2009

"Cantigas Leva-as Ao Vento

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A lembrança dos teus beijos
Inda na minh'alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas dum livro triste.
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Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desapar'cido
Revive numa saudade


Florbela Espanca

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

"Tarde Demais"

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Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar;
E pra o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar....
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Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar;
E as pedras do caminho florescer!
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Beijando a areia d'oiro dos desertos
Procura-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!
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E há cem anos que eu fui nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
"Por que chegaste tarde, Ó meu Amor?!..."
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Florbela Espanca
in "Livro de Sóror Saudade"

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

"O Meu Desejo"

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Vejo-te só a ti no azul dos céus,
Olhando a nuvem de oiro que flutua...
Ó minha perfeição que criou Deus
E que num dia lindo me fez sua!
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Nos vultos que diviso pela rua,
Que cruzam os seus passos com os meus...
Minha boca tem fome só da tua!
Meus olhos têm sede só dos teus!
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Sombra da tua sombra, doce e calma,
Sou a grande quimera da tua alma
E, sem viver, ando a viver contigo...
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Deixa-me andar assim no teu caminho
Por toda a vida, Amor, devagarinho,
Até a Morte me levar consigo...
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Florbela Espanca

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Florbela - Eterna Flor

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“Quero voltar! Não sei por onde vim…
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!”
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Florbela Espanca
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Tornou-se eterna essa minha Florbela,
Seus poemas romperam o tempo...
De saudade, são 78 anos!
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Todo esse tempo sem você...
mas estás aqui... e aqui ficarás para sempre!
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A Noite Desce
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Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos cansados, carinhosas,
A noite desce… Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!
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Assim mãos de bondade me beijassem!
Assim me adormecessem! Caridosas
Em braçados de lírios, de mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!
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A noite em sombra e fumo se desfaz…
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe embriagada, louca!
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E a noite vai descendo, sempre calma…
Meu doce Amor tu beijas a minh’alma
Beijando nesta hora a minha boca!
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Florbela Espanca - Livro de Soror Saudade
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Para Florbela, amar é um gesto mágico:
é uma experiência única, é a força motriz da sua alma, e por isso quer amar, amar perdidamente.
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Sua obra mostra está impregnada de ampla gama de estados emocionais ligados ao amor, desde a exaltação dos sentidos (entrega por inteiro), até ao desejo de sacrifícios, oscilando entre momentos de plenitude e de grande fragilidade emocional, decorrentes de relações amorosas frustradas ou que não a preencheram.
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Parece que não consegue encontrar satisfação no amor, oscilando entre momentos de ternura e outros de desencontro e sofrimento.
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Em Florbela, o amor é sempre um amor perdido,
mesmo antes de ser encontrado;
acarreta sucessivas desilusões, que ela procura compensar com um novo amor, que lhe traz novas desilusões.
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É um amor impossível, que só mostra mentiras e lhe traz desilusões,
como mostra o soneto «Princesa Desalento».
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Princesa Desalento
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Minh'alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É revoltada, trágica, sombria,
Como galopes infernais de vento!
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É frágil como o sonho dum momento,
Soturna como preces d'agonia,
Vive do riso duma boca fria!
Minh'alma é a Princesa Desalento…
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Altas horas da noite ela vagueia…
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!
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O luar ouve a minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta…
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(Florbela Espanca, «Livro de Soror Saudade», in «Poesia Completa»)
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À Florbela
(em sua memória)
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Sou eu, Florbela! Aquele que buscaste.
Falam de mim Teus versos de Menina.
Tua boca p’ra mim se abriu, divina,
mas foi só o Luar que Tu beijaste.
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Hás-de voltar, Florbela!… Em débil haste,
por entre os trigos cresce, purpurina,
a mais fresca papoila da campina
que, só por me veres, não cortaste.
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Eu tenho três mil anos: sou Poeta.
Surgi dos lábios secos dum asceta,
de uma oração que Deus deixou de parte.
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Redimi tantos corpos, tantas vidas
neles vivi, que sinto já nascidas
asas com que subir para alcançar-Te
(…)
{Sebastião da Gama}
Arrábida, 6-11-1943
(«Revista Alentejana»)
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domingo, 23 de novembro de 2008

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Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz, cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma.
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Versos!… Sei lá! Um verso é teu olhar,
Um verso é teu sorriso e os de Dante
Eram o seu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!
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Meus versos!… Sei eu lá também que são…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez…
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Versos! Versos! Sei lá o que são versos...
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês!…
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Florbela Espanca

domingo, 9 de novembro de 2008

INTERLÚDIO COM FLORBELA

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UMA FESTA PARA FLORBELA!
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(selo da blogagem)
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No dia 8 de dezembro comemora-se mais um ano do nascimento de Florbela Espanca,
ícone da poesia em língua portuguesa.
Seus versos expressam um erotismo e uma liberdade pioneiros na poesia do seu país.
Excelente sonetista, Florbela expressa suas emoções em linguagem telúrica, de imagens fortes, impregnadas de verdade física e arrebatamento. Sua poesia caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito.
A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico.
Simultaneamente, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a convulsão interior da poetisa para a natureza.
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Uma breve Biografia
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Florbela d’Alma da Conceição Espanca nasceu em Vila Viçosa, no Alto Alentejo,
em 8 de dezembro de 1894, a Rua do Angerino, em casa de sua mãe, Antônia da Conceição Lobo. O pai, João Maria Espanca, era casado com outra mulher mas, como deste casamento não houvesse filhos, estabeleceu uma relação com Antônia e dessa relação nasceram dois filhos: Florbela e Apeles.
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Nos registros da Igreja Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa consta Florbela
como "filha ilegítima de pai incógnito". O mesmo acontecendo com seu único irmão, Apeles, nascido em 10 de março de 1897.
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Em 1899 Florbela já freqüenta o curso primário.
Data de 11 de novembro de 1903 o poema A vida e a morte – ao que tudo indica o primeiro de sua autoria. Ingressa, em 1908, no Liceu de Évora, onde permanecerá até 1912.
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No dia de seu aniversário no ano de 1913, Florbela casa-se, no Registro Civil de Vila Viçosa, com Alberto de Jesus Silva Moutinho que havia sido seu colega de classe desde o curso primário.
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Em abril de 1916, seleciona, dentre a sua produção poética, cerca de 30 peças produzidas a partir de maio de 1915, com as quais inaugura o projeto Trocando Olhares.
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Em outubro de 1916, desde setembro vivendo em Lisboa e financiada pelo pai, matricula-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que abandonará em meados de 1920: dentre os 347 alunos inscritos, apenas 14 são mulheres.
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Em junho de 1919 faz publicar o Livro de Mágoas, com as dedicatórias:
"A meu pai. Ao meu melhor amigo." e "À querida Alma irmã da minha. Ao meu irmão."
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Logo depois começa a trabalhar em novo projeto Livro de Soror Saudade, publicado em 1923.
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No dia 30 de abril de 1921 é assinado o divórcio de Florbela e Moutinho. Dois meses depois se casa com o alferes de artilharia da Guarda Republicana, Antônio José Marques Guimarães.
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Em 1925 divorcia-se de Antônio Guimarães. Ainda em 1925, em Matosinhos, Florbela casa-se com Mário Pereira Lage, médico.
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Em 1930, com poemas e contos, inicia a colaboração na recém-fundada revista Portugal Feminino, na Civilização e no Primeiro de Janeiro.
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Em seu Diário do Último Ano, Florbela expressa o estado de solidão em que se vê mergulhada:
"O olhar dum bicho comove-me mais profundamente
que um olhar humano...
Num grande esforço de compreensão, debruço-me,
mergulho os meus olhos nos olhos do meu cão...
Ah, ter quatro patas e compreender a súplica humilde, a angustiosa ansiedade daquele olhar!...”
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E não há de ser por acaso que Florbela se faz acompanhar de tal imagem durante esse derradeiro percurso: não é o cão mitológico o guardião da morte?
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Seus versos traduzem sinais de exaustão, de desilusão e de um processo de depressão. Morre, na noite de 7 para 8 de dezembro de 1930, vítima, do efeito de barbitúricos, não se sabendo jamais se por suicídio ou por acidente, pela ingestão de dose excessiva.
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Considerada como a figura feminina mais importante da Literatura Portuguesa, Florbela Espanca deixou poesias de uma sensibilidade exacerbada, repletas de um erotismo confessional, que deixa transparecer tendências e sentimentos opostos, flagrados como se em um diário íntimo.
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Segue nas pegadas dos grandes sonetistas da Língua Portuguesa, como Camões, Bocage, Antero, embora difira deles, em muitos pontos, principalmente por ser mulher, e abordar apenas o Amor, não fala “sobre o amor”, mas “do amor”, de maneira espontânea, destravada, como seiva que brota pura dos recônditos da imaginação, sem as coerções da moda ou das conveniências literárias, o que levou muitos críticos a falarem de sua obra como repleta de "don-juanismo", pelo sensualismo que desconhece grilhões, desprovido de falsos moralismos, cálido, franco, superando hipocrisias e convenções pequeno-burguesas.
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Sensibilidade e imaginação são os pontos altos de seus momentos de criação, na melhor expressão literária, não permitindo, em momento algum, que sua obra possa se reduzir a apenas uma confidência equívoca de sentimentos mantidos secretos pelo pudor feminino. Verdade da própria experiência e fantasia unem-se para gerarem poesias de primeira grandeza como nenhuma outra representante do sexo feminino o fez, na Literatura Portuguesa.
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Gostaria de poder contar com você para distribuir pela blogosfera o perfume e o sabor da poesia de Florbela Espanca,
em Blogagem Coletiva no próximo dia 8 de dezembro,
em “INTERLÚDIO COM FLORBELA”.
Seguem abaixo os passos que você deve seguir para participar e se inscrever:
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1. Cole o selo da blogagem e o link do "Interlúdio" (http://interludioemflor.blogspot.com)
em seu Blog para divulgar a sua participação. Basta que vc clique sobre a imagem e a salve no seu computador, para depois adicioná-la em seu Blog.
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2. Deixe aqui em “comentários”o seu nome e o nome do seu blog (bem como o link) para que ele faça parte da lista dos blogs participantes.
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3. No dia 8 de dezembro escolha um poema de Florbela para uma postagem especial.
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Venha conosco fazer parte desse grupo que aplaude e reverencia essa mulher excepcional que tanto contribuiu para a beleza do mundo com seus poemas!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

"Cegueira Bendita"

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Ando perdida nestes sonhos verdes
De ter nascido e não saber quem sou,
Ando ceguinha a tatear paredes
E nem ao menos sei quem me cegou!
Não vejo nada, tudo é morto e vago...
E a minha alma cega, ao abandono
Faz-me lembrar o nenúfar dum lago
´Stendendo as asas brancas cor do sonho...
Ter dentro d´alma na luz de todo o mundo
E não ver nada nesse mar sem fundo,
Poetas meus irmãos, que triste sorte!...
E chamam-nos a nós Iluminados!
Pobres cegos sem culpas, sem pecados,
A sofrer pelos outros té à morte!
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Florbela Espanca

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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