Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina
Mostrando postagens com marcador Joaquim Pessoa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Joaquim Pessoa. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Quero-te para além das coisas justas






 
Lovers Embrace - Painting by: Heather Hurzeler

Quero-te para além das coisas justas
e dos dias cheios de grandeza.
A dor não tem significado quando me roubam as árvores,
as ágatas, as águas.
O meu sol vem de dentro do teu corpo,
a tua voz respira a minha voz.
De quem são os ídolos, as culpas, as vírgulas
dos beijos? Discuto esta noite
apenas o pudor de preferir-te
entre as coisas vivas.

Joaquim Pessoa
in Os Dias da Serpente



 

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Bastava-nos amar


Arte de Giampaolo Ghisetti 

Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?

O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.

E bastava. Bastava respirar
a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.

Joaquim Pessoa
in Português Suave





sábado, 23 de maio de 2020

Não estás aqui


Fotografia de Dalva Nascimento

Não estás aqui.
Nem na minha vida, nem no meu sonho.
Não estás nem no que eu amo nem no que eu quero.
E nem no que preciso.
E nem no que odeio.
Não estás, sequer, entre as coisas que me são indiferentes.
Simplesmente não estás.
Nem és.
Nem poderás ser alguma vez.
Sendo assim, és apenas o que não és.
Logo, não existes, não contas, não respiras, não vives.
E não serás recordação.
Não haverá memória de ti, apenas memória da tua não presença, de uma luz que nunca se acendeu, de um rio que não tem água, de um recado que não tem palavras, de um filme que não tem imagens.
E ainda assim, falo de ti.
Ainda assim faço de conta que existes, fantasma do meu texto, espírito do nada que me escreves quando escrevo.
Inexistência do que é.
Certeza de tudo o que é incerto.
Sentimento do que não pode ser sentido.

Joaquim Pessoa 
in “Ano Comum”



 

terça-feira, 19 de maio de 2020

As cotovias mandaram chamar a palavra


Canvas Artwork by Pawel Kuczynski

As cotovias mandaram chamar a palavra
e disseram-lhe: Gostaríamos de voar contigo!
Por quê?, disse a palavra, se podeis livremente voar
no azul do céu, sobre o mar, e também sobre
bosques e searas, poisar até no cume frio
das altíssimas montanhas.
Pois sim, concordou uma delas, mas como faremos
para voar, como tu, até ao coração do homem?
E a todas a  palavra respondeu: Não, amigas, não sou eu
que voo até ele. É o seu coração que sempre me procura
para oferecer-me a capacidade e a alegria de voar
para lá do azul do céu e para lá da imensidão do mar,
muito para além dos bosques, das searas,
e mais alto, ainda mais alto que o cume frio
das montanhas. Sem nunca chegar ao fim
de nada, mas ao início
de tudo.

Joaquim Pessoa
in Guardar o Fogo
Editora Edições Esgotadas, 2013




sábado, 2 de maio de 2020

Talvez não saibas

 

Desconheço a autoria da imagem 

Talvez não saibas
Mas dormes nos meus dedos
De onde fazem ninhos as andorinhas
E crescem frutos ruivos e há segredos
Das mais pequenas coisas que são minhas

Talvez tu não conheças, mas existe
Um bosque de folhagem permanente
Aonde não te encontro e fico triste
Mas só de te buscar fico contente

Ao meu amor quem sabe se tu sabes
Sequer, se em ti existe, ou só demora
Ou são como as palavras essas aves
Que cantam o teu nome e a toda a hora

Talvez não saibas, mas digo que te amo
A construir o mar em nossa casa
Que é por ti que pergunto e por ti chamo
Se a noite estende em mim a sua asa

Talvez não compreendas, mas o vento
Anda a espalhar em ti os meus recados
E que há por do sol no pensamento
Quando os dias são azuis e perfumados

Oh meu amor quem sabe se tu sabes
Sequer, se em ti existe, ou só demora
Ou são como as palavras essas aves
Que cantam o teu nome e a toda a hora

Joaquim Pessoa




segunda-feira, 6 de abril de 2020

Tu ensinaste-me a fazer uma casa

 
Fotografia de Natascha Van Niekerk

Tu ensinaste-me a fazer uma casa:
com as mãos e os beijos.
Eu morei em ti e em ti meus versos procuraram
voz e abrigo.
E em ti guardei meu fogo e meu desejo. Construí
a minha casa.
Porém não sei já das tuas mãos. Os teus lábios perderam-se
entre palavras duras e precisas
que tornaram a tua boca fria
e a minha boca triste como um cemitério de beijos.

Mas recordo a sede unindo as nossas bocas
mordendo o fruto das manhãs proibidas
quando as nossas mãos surgiam por detrás de tudo
para saudar o vento.

E vejo teu corpo perfumando a erva
e os teus cabelos soltando revoadas de pássaros
que agora se recolhem, quando a noite se move,
nesta casa de versos onde guardo o teu nome.

Joaquim Pessoa





sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Nos olhos de Isa

 
 Arte digital, by Lynyrd

Nos olhos de Isa a chuva grita e a noite
Acende fogueiras.

Os meus olhos param. Nos olhos de Isa.

Oh, nos olhos de Isa espreguiça-se a madrugada
E o vento acorda para ajudar os pássaros a voar
E as árvores a acenar-lhes uma bandeira de folhas, uma tristeza verde.

Nos olhos de Isa.

Nos olhos de Isa a manhã explode num inferno de estrelas,
Num clarão de silêncio, em estilhaços de rosas, pétalas de sombra.

Nos olhos de Isa os poetas vagueiam num bosque de mel
Onde as abelhas constroem a tarde
Desesperadamente.
Nos olhos de Isa ninguém repara na minha solidão.

Joaquim Pessoa



sábado, 21 de setembro de 2019

Comas palavras te abraço




 "Lovers", fotografia de Kurt VanWagner

Com as palavras te abraço. Com
as palavras te dispo. Com as palavras
te beijo. Com as palavras te escrevo.
Com as palavras subo o dia, sei do sangue, sonho
o tempo. Com palavras falo, com palavras penso,
com palavras sinto. Com as palavras canto.
Com elas me acalmo. E me enfureço. E me culpo
e absolvo. Com palavras me recordo. Por todas elas
me esqueço. E me sei, e me dou, e me doo. Com
as palavras me deito. E amanheço. E a todas
agradeço. De todas me despeço.
A todas reconheço.

Por elas sou o ponto de partida
e também caminho de regresso.

Joaquim Pessoa





quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Poema nonagésimo quarto


Arte do Pintor surrealista Alexander Sigov - 1955

Observo-te. Como um deus antigo que não sabe
escrever.

Os deuses, meu amor, não sabem escrever 
porque não precisam. Para isso criaram os poetas, 
os inquietos escribas do amor. 

Os que há milhares de anos 
continuam a beber e a fazer canções para acompanhar 
a bebida. 

E tratam das palavras como das rosas, e os poemas 
como terra perfumada para dar mais vida à vida. E acordam 
a água, sussurrando um nome de mulher. Porque o poeta 
não é só um poeta, é também um homem, um amante comum, 
com um amor comum e uma dor comum.

O poeta acredita, meu amor, que só um deus não é analfabeto:
aquele que sabe escrever até por linhas tortas.

Joaquim Pessoa, in Guardar o Fogo (Texto com supressões)

domingo, 10 de março de 2013

Não havia um nome para a tua ausência



Imagem daqui

[...]
E não havia um nome para a tua ausência!
Mas tu vieste!
Do coração da noite? 
Dos braços da manhã? 

Dos bosques do Outono?
Tu vieste. E acordas todas as horas, 
preenches todos os minutos, 
acendes todas as fogueiras, 
escreves todas as palavras.

Um canto de alegria desprende-se 
dos meus dedos quando toco o teu 
corpo e habito em ti e a noite não existe,
porque as nossas bocas acendem, 
na madrugada, uma aurora de beijos.
[...]

Joaquim Pessoa





sábado, 17 de dezembro de 2011

Obrigado, excelências



Desconheço a autoria da imagem

Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado
pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.

Joaquim Pessoa




sábado, 1 de maio de 2010

Levantou-se a manhã nos meus cabelos

.

"Les Agapanthes"- 1917 - Claude Monet
.
Levantou-se a manhã nos meus cabelos
Como se fosse um pássaro em viagem.
E eu estendi as mãos para tocá-los
Não sei se por amor se por coragem.

Então dormiram estrelas no meu leito,
Então domei corcéis de solidão.
Por ti rasguei estradas sobre o peito
Para poder chegar ao coração.”

Joaquim Pessoa 




.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Porque tu és o mar que acolhe os meus destroços

.
Fotografia de Kyle Thompson

Porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
.
É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira
de habitares em todas as palavras do meu canto.
.
Tenho construído o teu nome com todas as coisas,
tenho feito amor de muitas maneiras, docemente,
lentamente, desesperadamente à tua procura,
sempre à tua procura até me dar conta que estás
em mim, que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo e
eu não estou só contigo mas é contigo que
eu quero ficar só porque é a ti, a ti que eu amo.
.
Joaquim Pessoa



.

domingo, 19 de outubro de 2008

Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo

.
.
Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo
nem fazer explodir a madrugada nos teus olhos.
Eu quero apenas amar-te lentamente
como se todo o tempo fosse nosso
como se todo o tempo fosse pouco
como se nem sequer houvesse tempo.
.
Joaquim Pessoa

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Eu cantaria mesmo que tu não existisses

.
 Desconheço a autoria da imagem

Eu cantaria mesmo que tu não existisses,
faria amor, assim, com as palavras.
Eu cantaria mesmo que tu não existisses
porque haveria de doer-me a tua ausência.
.
Por isso canto. Alegre ou triste,canto.
Como se, cantando, tocasse a tua boca,
ainda antes da tua presença.
Direi mesmo, depois da tua morte.
.Eu cantaria mesmo que tu não existisses,
ó minha amiga, doce companheira.
Eu festejo o teu corpo como um rio,
onde, exausto, chegarei ao mar.
.
Sim, eu cantaria mesmo que tu não existisses,
porque nada eu direi sem o teu nome.
Porque nada existe além da tua vida,
da tua pele macia, dos teus olhos magoados.
.
Assim quero cantar-te meu amor,
para além da morte, para além de tudo.
.
Joaquim Pessoa 




sexta-feira, 27 de junho de 2008

Aurora de beijos

.

.Imagem Google

... Um canto de alegria desprende-se dos meus dedos
Quando toco o teu corpo e habito em ti
E a noite não existe
Porque as nossas bocas acendem na madrugada
Uma aurora de beijos...
.
Joaquim Pessoa



sábado, 21 de junho de 2008

Doem-me os braços de te abraçar

.

Imagem Google

Oh, meu amor,
Doem-me os braços de te abraçar,
Trago as mãos acesas,
A boca desfeita
E a solidão acorda em mim um grito de silêncio quando
O medo de perder-te é um cordel que pisa os meus cabelos
E se perde depois numa estrada deserta por onde
Caminhas...
.
Joaquim Pessoa



Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

Postagens populares

Total de visualizações de página