Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina
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terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Corpo


Desconheço a autoria da imagem

que te seja leve o peso das estrelas
e de tua boca irrompa a inocência nua
dum lírio cujo caule se estende e
ramifica para lá dos alicerces da casa

abre a janela debruça-te
deixa que o mar inunde os órgãos do corpo
espalha lume na ponta dos dedos e toca
ao de leve aquilo que deve ser preservado

mas olho para as mãos e leio
o que o vento norte escreveu sobre as dunas

levanto-me do fundo de ti humilde lama
e num soluço da respiração sei que estou vivo
sou o centro sísmico do mundo

Al Berto

 

 


segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Vem comigo

 
Arte de Paolo Domeniconi

vem comigo
ver as pirâmides fantásticas do vento
no interior luminoso da terra encontrarás
o segredo de quartzo para desvendares o tempo
onde contemplamos a fulva doçura das cerejas

iremos para onde os restos de vida não acordem
a dor da imensa árvore a sombra
dos cabelos carregados de pólens e de astros
crescemos lado a lado com o dragão
o súbito relâmpago dos frutos amadurecendo
iluminará por um instante as águas do jardim
e o alecrim perfumará os notívagos passos
há muito prisioneiros no barro
onde o rosto se transforme e morre
e já não nos pertence

vem comigo
praticar essa arte imemorial de quem espera
não se sabe o quê junto à janela
encolho-me
como se fechasse uma gaveta para sempre
caminhasse onde caiu um lenço
mas levanto os olhos
quando o verão entra pelo quarto e devassa
esta humilde existência de papel

vem comigo
as palavras nada podem revelar
esqueci-as quase todas onde vislumbro um fogo
pegando fogo ao corpo mais próximo do meu

Al Berto
in Uma existência de papel




segunda-feira, 18 de maio de 2020

É no silêncio que melhor ludibrio a morte


 Noell  S. Oszvald Photography

é no silêncio
que melhor ludibrio a morte
não
já não me prendo a nada
mantenho-me suspenso neste fim de século
reaprendo os dias para a eternidade
porque onde termina o corpo deve começar
outra coisa outro corpo
ouço o rumor do vento
vai
alma vai até onde quiseres ir.

Al Berto
in "Uma existência de papel"




sexta-feira, 1 de maio de 2020

Vou guardar as tuas mãos na paixão que tenho por ti


Desconheço a autoria da imagem 

Vou guardar as tuas mãos na paixão que tenho por ti,
mas não te posso revelar o meu nome, nem precisas de o saber.
Chama-me o que quiseres, dá-me um nome para que possamos amarmo-nos.
Aquele que tinha perdi-o no caminho até aqui.
Pertencia a outra paixão, e já a esqueci.
Dá-me tu um nome para eu poder ficar contigo...

Al Berto






Fala-me tu do amor


 Arte: Angelo Morbelli Tutt'Art@ 

Fala-me tu do amor e dessa coisa esquisita que é o tempo 
com quatro dedos de distância entre 
o ardor das línguas e a asfixia dos corpos.

Fala-me tu do amor e desse desejo que arrasta a proximidade 
que anula todos os intervalos em pequenas existências que 
de tão insignificantes desaparecem numa doçura e amargura.

Conta-me do constante faz e refaz, de ressuscitar e morrer, 
de adormecer e sonhar, do conforto da luz dos dias na realidade que nos mata. 
Porque do amor também se morre e também se vive, 
como alimentação programada às calorias necessárias para respondermos.

Al Berto







domingo, 12 de abril de 2020

No silêncio dos jardins

 
Imagem da Web
 
Se um dia regressares, a terra estremecerá na memória
de tua ausência. E a água formará um vasto oceano no outro
lado do teu olhar.

Regressarás, talvez, quando o ar se tornar rubro em redor
do meu sono – e o lume das horas, a pouco e pouco,
saciar a boca que clama pelo teu nome.

Encontrar-nos-emos nas imagens deste jardim de
afetos e de ódios. Porque os jardins são labirínticas arquiteturas
mentais, onde podemos rasgar os corpos de
qualquer voragem do tempo.

Por isso, enquanto não regressas, construo jardins de areia e cinza, jardins de
água e fogo, jardins de répteis e de
ervas aromáticas, jardins de minerais e de cassiopeias –
mas todos abandono à invasão do tempo e da melancolia.

Mas se um dia regressares, passeia-te por dentro do
meu corpo. Descobrirás o segredo deste jardim interior –
cuja obscuridade e penumbras guardaram intacto o
noturno coração.

Al Berto



 

quarta-feira, 4 de março de 2020

Continuo apaixonada

 

Arte: "Stellarscapes" by Oriol Angrill Jordà

Não sei bem se continuo apaixonado,
não sei bem se vale a pena
continuar apaixonado por ti.
Não sei. Vejo-te e todo eu tremo.
Todo o meu corpo é um lamento,
e pede socorro ao teu olhar,
às tuas mãos.
A um simples sorriso.
Uma palavra que me descanse.

Al Berto








quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Foram breves e medonhas as noites de amor



Arte de Felicia Olin

foram breves e medonhas as noites de amor
e regressar do âmago delas esfiapava-lhe o corpo
habitado ainda por flutuantes mãos
estava nu
sem água e sem luz que lhe mostrasse como era
ou como poderia construir a perfeição
os dias foram-se sumindo cor de chumbo
na procura incessante doutra amizade
que lhe prolongasse a vida
e uma vez acordou
caminhou lentamente por cima da idade
tão longe quanto pôde
onde era possível inventar outra infância
que não lhe ferisse o coração

Al Berto




domingo, 5 de maio de 2019


Imagem em Pinterest.com

e tu sussurras:
- não, não afastes a boca da minha orelha.
derrama dentro dela aquilo que não consegues dizer em voz alta.

e eu digo:
- as tuas mãos queimam-me a fala.

tu sorris, dizes:
- vem, sem medo, pela aridez do meu corpo.

no fundo de mim existe um poço onde guardo a tua imagem. é tempo de ta devolver. é tempo de te reconheceres nela.

Al Berto


sexta-feira, 11 de maio de 2012



"Luz da Manhã", de Eduardo Ventura

Quando, daqui a umas horas a manhã vier, branca e fina,
saberei eu andar?
Conseguirei eu, lembrar-me, de como se põe um pé à frente
do outro? Sem cair...


Al Berto
in À Procura do Vento Num Jardim D'Agosto


sábado, 30 de outubro de 2010


Imagem Google

...
Apenas preciso de alguém que me sorria e
reponha o mesmo disco sempre a tocar e
escute comigo o vento nas janelas e
sinta a tristeza que têm os gladíolos murchando
em cima da mesa

Al Berto


quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

"Uma Paixão"

.
. .
Visita-me enquanto não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu rosto de Modigliani suicidado
.
tenho uma varanda ampla cheia de malvas
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores
vem
.
ver-me antes que a bruma contamine os alicerces
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo
subindo à boca sulfurosa dos espelhos
vem
.
antes que desperte em mim o grito
de alguma terna Jeanne Hébuterne a paixão
derrama-se quando tua ausência se prende às veias
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro
perco-te no sono das marítimas paisagens
estas feridas de barro e quartzo
os olhos escancarados para a infindável água
vem
.
com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te
.
Al Berto
..

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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