Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

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- Vem ao jardim na primavera, disseste.
- Aqui estão todas as belezas, o vinho e a luz.
Que posso fazer com tudo isso sem ti?
E, se estás aqui, para que preciso disso?
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Jalaluddin Rumi
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"Poema Quase Otimista"

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Não será sem embaraço
teu tropeço
e sempre escandalosa, tua queda.
Mas é da natureza da mão estender-se,
A tua ou a do outro,
e da gravidade da lei, conter-te.
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Ricardo Alfaya
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"Da Vinha e da Ira"

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Era o dia da ira
você chorou tristeza e vinho
tingiu os cristais de sangue
compartilhei tua melhor safra
e me embriaguei de você
e bêbado de amor
entreguei a fina taça
aos meus solícitos lábios
que a marcaram de paixão...
a toalha de renda
foi apenas a prenda dos olhos
ao meu sono
para me cobrir de branco e de sonhos . . .
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Tadeu Paulo
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"Requiem Para um Adeus"

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A fonte secou árida e áspera
como o Inverno deste País
O Rio já não leva emoções
apenas gestos
in-gestos
in-justos
As roseiras se despiram
em simbólicos Adeuses
e acenos
As árvores se deceparam
suicidando os cernes e as seivas
A Primavera se anuncia agora
negra como as andorinhas
que nunca chegaram a fazer os ninhos
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LuizaCaetano
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"Soneto de Amar"

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Amo-te muito e sem descanso e sempre
E mais que a tudo e que à realidade
E como um louco e com serenidade
Amo-te com a dor de um amor ausente
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Amo-te agora e pela eternidade
Como um bom deus sempre presente
Amo-te aflito e amo-te contente
E sem passado e nome e sem idade
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Amo-te como uma criança, puro e casto
E com desejo e um amor devasso
E com saudade e mais do que podia
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Amo-te enfim como um castigo
Sem fim, errante e sem amigo
Te esperando pra me raiar o dia
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Gabriel Dinnebier
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"Se"

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Se... 
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... fosse aquele beijo, tão somente,
o gesto repentino dum instante,
que, por ser passageiro, não pressente
em si, a eternidade, palpitante...
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... fosse aquele beijo, meramente,
a troca do vazio em nós reinante,
no arroubo dum querer inconsistente,
por nada ser – por ser só mais um instante...
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Se fosse... Mas não foi – e eu pago caro,
ao contemplar-me em fero desamparo,
perdida num sonhar, que feneceu.
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Que fosse assim... Ah! Como eu o quisera,
não mais viver pendente, sempre à espera,
de ter, por outra vez, um beijo teu!
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Patricia Neme
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Fotopoema - Frederich Nietzche

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"Saudade"

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Oh! O lirio branco se tingiu de roxo
ao som da valsa da melancolia.
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Colombo de Sousa
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"Duelo de Mim"

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. Grito e nada sai!
Ando em notas musicais
flutuo num poema ou
danço nas estrelas.
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Vôo com os pássaros.
Sonho com um bolero e
lanço versos de saudade!
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Sandra Almeida
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"Rede"

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Que a poesia apanhe apenas o invisível
em sua rede de nuvens e vento
por exemplo
o leve lamento que atravessa a casa
quando o passado invade
tudo de repente
e com sua teia transparente
paralisa o gesto
no meio do movimento
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Que a poesia diga
o que não pode ser dito
pedra e sentimento...
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Roseana Murray
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"Canção da Sincera Amizade"

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Não olhes só para meu tronco retorcido.
Levante os olhos:
lá em cima tem flores...
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Não me queira mal pelas minhas nuvens negras:
em meu coração sei também ser azul...
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Não me amaldiçoe só pelos meus espinhos.
Lembre-se: também sou rosa...
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Desculpe:
há muitas montanhas.
E eu tenho que ser torto para ser caminho.
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E no fim sempre existe um vale.Vamos:
apague as luzes de sua varanda.
Assim verá melhor a ciranda das estrelas...
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Lino Villachá
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"Uma Paixão"

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Visita-me enquanto não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu rosto de Modigliani suicidado
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tenho uma varanda ampla cheia de malvas
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores
vem
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ver-me antes que a bruma contamine os alicerces
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo
subindo à boca sulfurosa dos espelhos
vem
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antes que desperte em mim o grito
de alguma terna Jeanne Hébuterne a paixão
derrama-se quando tua ausência se prende às veias
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro
perco-te no sono das marítimas paisagens
estas feridas de barro e quartzo
os olhos escancarados para a infindável água
vem
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com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te
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Al Berto
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Fotopoema - Rubem Alves

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Bate as asas
moça borboleta
Um moço sentou no jardim
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Cherry Blossom
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"E Depois"

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Os labirintos
que cria o tempo
se desvanecem.
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Só fica o
deserto.
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O coração,
fonte do desejo,
se desvanece.
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Só fica
o deserto.
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A ilusão da aurora
e os beijos
se desvanecem.
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Só fica
o deserto.
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Um ondulado
deserto.
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Federico García Lorca
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"Desventura"

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Tu és como o rosto das rosas:
diferente em cada pétala.
Onde estava o teu perfume?
Ninguém soube.
Teu lábio sorriu para todos os ventos
e o mundo inteiro ficou feliz.
Eu, só eu, encontrei
a gota de orvalho que te alimentava,
como um segredo que cai do sonho.
Depois, abri as mãos, — e perdeu-se.
Agora, creio que vou morrer.
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Cecília Meireles
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"Como Te Amo?"

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Como te amo?
Deixa-me contar de quantas maneiras.
Amo-te até ao mais fundo,
ao mais amplo e ao mais alto
que a minha alma pode alcançar
buscando, para além do visível
dos limites do Ser e da Graça ideal.
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Amo-te até às mais ínfimas necessidades
de todosos dias à luz do sol
e à luz das velas.
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Amo-te com liberdade,
enquanto os homens lutam
pela Justiça;
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Amo-te com pureza,
enquanto se afastam da lisonja.
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Amo-te com a paixão
das minhas velhas mágoas
e com a fé da minha infância.
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Amo-te com um amor que
me parecia perdido - quando
perdi os meus santos -
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amo-te com o fôlego, os
sorrisos, as lágrimas de toda a minha vida!
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E, se Deus quiser, amar-te-ei melhor
depois da morte.
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Elizabeth Barrett Browning
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"Pó"

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Nas estantes os livros ficam
(até se dispersarem ou desfazerem)
enquanto tudo passa.
O pó acumula-se e depois de limpo
torna a acumular-se no cimo das lombadas.
Quando a cidade está suja (obras, carros, poeiras)
o pó é mais negro e por vezes espesso.
Os livros ficam, valem mais que tudo,
mas apesar do amor
(amor das coisas mudas que sussurram)
e do cuidado doméstico fica sempre, em baixo,
do lado oposto à lombada,
uma pequena marca negra do pó nas páginas.
A marca faz parte dos livros.
Estão marcados.
Nós também.
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Pedro Mexia
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sábado, 24 de janeiro de 2009

Fotopoema - Antônio Miranda Fernandes

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"Meu Lado Bom"

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. O homem que eu amo
é minha parte mais bonita
minha parte mais poética
minha parte mais penteada
minha parte mais bem vestida.
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Eu sozinha sou quase nada
porque é ele que me enfeita
é ele que me adorna
é ele que me torna
uma mulher completa, intensa, repleta.
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Cáh Morandi
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Mãos
Côncavas de ter
Longas de desejo
Frescas de abandono
Consumidas de espanto
Inquietas de tocar e não prender
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Sophia de Mello Breyner Andresen

"Gravata Colorida"

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Quando eu tiver
bastante pão para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
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Quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...
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Solano Trindade
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Eu tenho uma canção infinita,
guardada dentro do peito...
tenho uma dor que grita
e extravasa de qualquer jeito.
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Eu tenho uma verdade escondida,
vestida de sonho e magia...
tenho uma paixão perdida
que explode à revelia...
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Eu tenho fases de lua
fases de ser minha,
mas sempre que me encontro nua
é no teu corpo que o meu corpo se aninha...
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Angela Lara

"A Palavra Impossível"

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. Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim
vida que não se troca por palavras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
As vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
A impossível palavra da verdade.
Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,
Nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível,
Para eu guardar dentro de mim,
Para eu ignorar dentro de mim
A única palavra sem disfarce -
A Palavra que nunca se profere.
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Adolfo Casais Monteiro

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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Eu sou só um você
que você não quis
e querer é coisa tão pequena
que só não sou você
por um triz
,
Marcelo Camelo
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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Fotopoema - Cida Luz

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"Colo"

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No teu colo eu me colo
eu me enrolo
no teu colo
macio vadio
eu confio
eu vadio
sem teu colo
eu me esfolo
eu me enrolo
sem teu colo
eu me colo
no meu colo
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Orlando Vaz Carneiro

"Quando o Sol Chegar"

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Quando o sol chegar
Não se esqueça nunca desta noite,
Não deixe as flores sobre a mesa,
Não se arrependa das juras feitas,
Não maldiga a pessoa, mas apenas siga a vida...
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Quando o sol chegar
Não arranque os beijos dados em sua boca,
Não apague da lembrança as imagens desta noite,
Não retire o meu perfume te tua pele...
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Quando o sol chegar
Não se esqueça de voltar,
Não bata a porta,
Não vá chorar,
Não vá se maldizer,
Quando o sol chegar...
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Paulo Silva Ribeiro

"Calipso"

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Pela doce paciência de enfermeira
com que procuras encantar-me a vida,
renovando em minha alma a fé perdida
depois de morta a crença derradeira;
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Pelo sorriso bom de companheira
que a novas esperanças me convida,
quando vejo, na estrada percorrida
dos meus sonhos a extinta sementeira;
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Pela graça de irmã de Caridade
com que teu meigo afeto me persuade
de que lutar confiante é o meu dever;
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Bendita sejas Flor de mansuetude,
em cujo seio, finalmente, pude descansar
a cabeça e adormecer...
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Castro Menezes

"Mulher e Pássaro"

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Linha invisível
liga-me àquela andorinha:
tato percorrendo
um trajeto
de comunhão. O pássaro
debate-se em meu peito.
Ou coração? A andorinha
se esvai na tarde. Leva consigo
o que não sei de mim.
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Dora Ferreira da Silva

"Hora Final"

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Hora final!
Hora em que o mundo é mais vasto,
O sorriso mais fraco,
O aperto mais junto.
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Hora que a saudade nem nasce,
E aborta,
A lembrança nem chega
E a imagem se perde.
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Hora que nunca esperamos,
Hora que nunca queremos.
Hora da pequena morte.
Hora que ficamos mais velhos.
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Hora que a vida me joga na cara.
Hora em que perco para deus.
Hora, que é só um instante!
Hora que desaba o castelo,
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Da ruína das cartas.
Hora de se enroscar no futuro,
Largar os pedaços,
Os lastros. Triste hora,
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Porque me persegues?
Outra vez! É chegada a hora!
A hora da despedida,
A hora do adeus.
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Paulo Augusto Rodrigues

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Fotopoema - Teruko Oda

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O arrepio é quando,
por serem tão leves,
seus dedos conseguem,
em cada um dos meus poros:
soerguer uma flor.
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Rita Apoena

"Poema do Esquecimento"

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Vendo passar as nuvens foi passando a vida,
e tu, como uma nuvem, passaste por meu tédio.
E se uniram então teu coração e o meu,
como se vão unindo as bordas de uma ferida.
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Os últimos sonhos e os primeiros cabelos brancos
entristecem de sombra todas as coisas belas;
e hoje tua vida e minha vida são como as estrelas,
pois podem se ver juntas, estando distantes...
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Eu bem sei que o esquecimento, como uma água maldita,
nos dá uma sede mais funda que a sede que nos resgata,
porém estou tão seguro de poder esquecer...
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E olharei as nuvens sem pensar que te quero,
com o hábito surdo de um velho marinheiro
que ainda sente, em terra firme, a ondulação do mar.
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José Angel Buesa

"Amor Como Em Casa"

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Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa.
Faço de conta que
não é nada comigo.
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Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro.
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Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no amor como em casa.
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Manuel António Pina

"O Poema no Tempo"

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Emerge da noite e do silêncio o poema,
Habitante da essência dos meus sentimentos.
O poema que me levará no tempo
E passarei entre as mãos
E diante dos olhos livres e límpidos de quem lê.
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Sua passagem se confundirá
Com os assovios do vento
Com o rumor dos oceanos.
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Ele encontrará uma praia de areias claras
Aonde possa se estender ao sol.
O poema morará inteiro no espaço mais aberto
De ar claro nas tardes lisas e eternas.
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Quando eu já não existir mais,
O poema de asas brancas no vôo que lhe coube
Irá pousar em alguém que se fundirá a ele,
Entre paredes densas,
Quando na profunda e devoradora solidão.
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Então ele emergirá, mais uma vez,
Da noite, do silêncio, como um cais seguro,
Ou quem sabeUma mão aberta e na palma uma esperança.
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Antonio Miranda Fernandes

"Amante da Noite"

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Enquanto você dormia descobri a receita da felicidade
para dar a você em doses homeopáticas,
para que ficasse dependente de mim...
Esse é meu lado egoísta!
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Enquanto você dormia apaguei as estrelas,
desliguei a lua.
Esse é meu lado cuidadosa.
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Enquanto você dormia tecia sonhos com fios
de lembranças de nós dois
Esse é o meu lado saudade.
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Ao seu despertar
pensei numa frase que traduzisse meu sentimento
Esse é o meu lado Amor,te amo!
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Georgia Sand

domingo, 18 de janeiro de 2009

"Soneto Azul"

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— Ser ou não ser Azul. Eis a questão.
E existem muitos verdes nas florestas...
E existe a solidão do azul-canção
no céu de galhas nuas sem arestas.
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— Ser ou não ser... O branco em minha mão
é o mesmo branco em paz que faz a festa,
dormindo nos terreiros da ilusão:
saudades e paixões. Ainda me resta
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um verde de Poesia azul de luas
por entre as águas roucas dos meus rios.
— Quem vai gritar mais alto?... A cachoeira
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com sua voz de rochas seminuas
repete o mesmo veio e os seus feitios
têm pedras do Poeta... E eu sei poeira.
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Nathan de Castro

"Ciranda"

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As crianças, brincando na calçada,
cantam alegremente
enquanto, olhar molhado e voz tremente,
acompanho a toada.
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"O anel que tu me deste..."
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Só de amargura se reveste
minha emoção reminiscente.
Não revela saudade
dos tempos infantis,
mas o passado faz presente
na evocação daquele instante
- quase irrealidade –
em que eu fui feliz
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Havia um anel, lembro-me bem...
E havia um amor, que fim levou?
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Na calçada a ciranda vai e vem...
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"...era pouco e se acabou."
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Graciette Salmon

"Abracemos a Noite"

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Abracemos a noite
Que chega do abismo,
Instruída e calada
Em seu peito de treva.
Descansemos a alma
Tão desesperada
Contemplemos a noite
Vestida de sombra,
De tempo adornada.
Tão maternal e estranha,
Tão simples, tão deusa,
Fácil e inviolada,
Que a varanda remota
De um negro horizonte
Prolonga, admirada.
Abracemos a noite
Que tece e destece
A frágil escada.
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Cecília Meireles
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Enquanto houver uns olhos que reflectem
outros olhos que os fitam,
enquanto a boca responda a suspirar
aos lábios que suspiram,
enquanto sentir-se possam ao beijar-se
duas almas confundidas,
enquanto exista uma mulher formosa,
haverá poesia!
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Gustavo Adolfo Bécquer

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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