Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina

terça-feira, 30 de abril de 2013

"Fascinação do Mar"



"Flying Mermaids", by Richard Ficker

Sonhei com o mar. Ele era terrível
como a cólera de Deus.
E também era belo e era grande
como a misericórdia de Deus.

Olhei o mar. E ele era triste
na solidão e profundeza de suas águas.
E também era louco e poeta
no seu mistério e em suas viagens sem caminho.

Aproximei-me do mar. E ele pérfido
com suas algas e seus milenares abismos.
E também era repousante
com suas ilhas e seus vergéis nascentes.

Fui para o mar. E ele era bárbaro
no acolhimento rumoroso de suas ondas.
E também era a graça, o espírito,
na revoada de suas espumas e gaivotas.

Amei o mar: ele era um deus humano
com seus demônios e seus anjos em liberdade. 

Henriqueta Lisboa


segunda-feira, 29 de abril de 2013

"In Articulo Mortis"




Que nos importa que a lua morta tenha ou não tenha traços 
Do antigo mundo que viveu rindo?
Que seja cinza o que era calor ao calor dos nossos abraços?
De nada nos serve...Fechemos os olhos, cruzemos os braços.
E desesperemos, sorrindo.

A vida é pouco e a dor é muito. Ao luar e à noite esquecemos
O nosso ser de sob o sol;
E já que a corrente nos leva silente, abandonemos os remos;
E visto o falar a a
ção nos lembrar, calemo-nos, escutemos:
Talvez cante o rouxinol.

E daí quem sabe na noite o que cabe? Da solidão infinda
Talvez raie um sol e um dia,
E à barca que erra...talvez uma terra lhe espere obscura a vinda.
Talvez não seja o rouxinol que cante...Esperemos ainda,
E talvez seja a cotovia.

Fernando Pessoa


domingo, 28 de abril de 2013

VII




Arte by Jannette Brunel


parem
eu confesso
sou poeta

cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face

parem
eu confesso
sou poeta

só meu amor é meu deus

e eu sou o seu profeta

Paulo Leminski




sábado, 27 de abril de 2013




Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas, tempo e vento, desabam no abismo.

Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o de estrelas.

Conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão,se pressentires que amanhã estarás mudo,
esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta.

Canta! Canta para conservar uma ilusão de festa e de vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras que esperam devorar o pássaro.
Desde que nasceste não és mais que um voo no tempo. Rumo do céu?

Que importa a rota.Voa e canta, enquanto resistirem as asas.

Menotti Del Picchia


sexta-feira, 26 de abril de 2013


"Tango Argentino", by  Willem Haenraets 

Vem, 
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.

Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.

Cada átomo
Feliz ou miserável, 
Gira apaixonado
Em torno do sol.

Rumi


quinta-feira, 25 de abril de 2013

O amor não se adia



Desconheço a autoria da imagem

Certas coisas
não se podem deixar para depois,
e nisto incluo: frutos no galho,
mudanças sociais,
certas coxas e bocas
e esta manhã que se esvai.

Certas coisas
não se podem deixar para depois.

O amor não se adia
como se adiam o imposto, a viagem, a utopia.
O desejo sabe o que quer,
detesta burocracia.

Affonso Romano de Sant'Anna





quarta-feira, 24 de abril de 2013

"Onde Está?"



Desconheço a autoria da imagem

Por onde está o amor? Jaz, solitário
nas brumas do desejo e da loucura...
Nos desvarios vãos do imaginário
das vidas sem verdade, sem ternura.

Exangue, por ser servo involuntário
da vil paixão, que só corpos procura...
O amor padece as dores do calvário
e desfalece em mãos de vida impura.

O amor, do cortejar, da ingenuidade,
que abarca compreensão, cumplicidade...
Em poucos corações é vera chama.

Em raros... Mas, por ceto, ele resiste
e grita o seu cantar, alegre ou triste,
nos versos do poeta... que ainda ama!

Patrícia Neme
in Sonetos de Dor Maior


terça-feira, 23 de abril de 2013



Desconheço a autoria da imagem

Falei de ti com as palavras mais limpas

Viajei, sem que soubesses, no teu interior.
Fiz-me degrau para pisares, mesa para comeres,

tropeçavas em mim e eu era uma sombra
ali posta para não reparares em mim.

Andei pelas praças anunciando o teu nome,
chamei-te barco, flor, incêndio, madrugada.
Em tudo o mais usei da parcimônia
a que me forçava aquele ardor exclusivo.

Hoje os versos são para entenderes.
Reparto contigo um óleo inesgotável
que trouxe escondido aceso na minha lâmpada
brilhando, sem que soubesses, por tudo o que fazias.

Fernando Assis Pacheco


segunda-feira, 22 de abril de 2013


Fotografia de Camila Schenke

Sinto-me toda igual às arvores:
Solitária, perfeita e pura.

Aqui estão meus olhos nas flores,
Meus braços ao longo dos ramos:
E, no vago rumor das fontes,
Uma voz de amor que sonhamos.

Cecília Meireles


domingo, 21 de abril de 2013

"Queria"


Desconheço a autoria da imagem

Queria que me acompanhasses
vida fora
como uma vela
que me descobrisse o mundo
mas situo-me no lado incerto
onde bate o vento
e só te posso ensinar
nomes de árvores
cujo fruto se colhe numa próxima estação
por onde os comboios estendem
silvos aflitos.

Ana Paula Inácio


Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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