Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina
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domingo, 14 de junho de 2020

No fim tu hás de ver

 

Desconheço a autoria da imagem

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves
são as únicas que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento.

Mário Quintana

quinta-feira, 5 de março de 2020

A missa dos inocentes


Imagem daWeb

Se não fora abusar da paciência divina
Eu mandaria rezar missa pelos meus poemas que não
conseguiram ir além da terceira ou quarta linha,
Vítimas dessa mortalidade infantil que, por ignorância dos pais,
Dizima as mais inocentes criaturinhas, as pobres...
Que tinham tanto azul nos olhos,...
Tanto que dar ao mundo!
Eu mandaria rezar o réquiem mais profundo
Não só pelos meus
Mas por todos os poemas inválidos que se arrastam pelo mundo
E cuja comovedora beleza ultrapassa a dos outros
Porque está, antes e depois de tudo,
No seu inatingível anseio de beleza!
 
Mário Quintana



 

quarta-feira, 4 de março de 2020

O último crime da mala


Arte de Victor Nizovtsev

Na mala que nem o Anjo da Guarda,
Nem o Delegado do Distrito,
Nem eu mesmo consigo encontrar,
Está a minha imagem única, fechada a chave-
E a chave caída no fundo do mar!
Não adianta chamar escafandros,
Nem homens-rãs,
Nem a sereia mais querida,
Nem os atenciosos hipocampos, de que adianta?!
Não existem vestígios de mim.

Mário Quintana



 
 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Encontro



Arte de Anne Siems

Era uma dessas mulheres que não se usam mais.
Vestes de trevas e vidrilhos.
Cabeleira trágica.
Olheiras suspeitas.
O grito horizontal da boca surgiu da noite.
Sumiu pela última porta do poema.

Mario Quintana
In Esconderijos do Tempo



 


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Bem-aventurados



Bem-aventurados os pintores escorrendo luz
Que se expressam em verde
Azul
Ocre
Cinza
Zarcão!
Bem-aventurados os músicos...
E os bailarinos
E os mímicos
E os matemáticos...
Cada qual na sua expressão!

Só o poeta é que tem de lidar com a ingrata linguagem alheia...

A impura linguagem dos homens!


Mário Quintana

Imagem: Google



segunda-feira, 2 de julho de 2018

Torre Azul



É preciso construir uma torre
- uma torre azul para os suicidas.
Têm qualquer coisa de anjo esses suicidas voadores,
qualquer coisa de anjo que perdeu as asas.
É preciso construir-lhes um túnel
- um túnel sem fim e sem saída
e onde um trem viajasse eternamente
como uma nave em alto-mar perdida.
É preciso construir uma torre…
É preciso construir um túnel…
É preciso morrer de puro,
puro amor!…

Mario Quintana

arte de Janis Goodman

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

"Encontro"

Imagem: Google

Era uma dessas mulheres que não se usam mais.
Vestes de trevas e vidrilhos.
Cabeleira trágica.
Olheiras suspeitas.
O grito horizontal da boca surgiu da noite.
Sumiu pela última porta do poema.

Mario Quintana 
in Esconderijos do Tempo


segunda-feira, 10 de março de 2014

Ah, os relógios


Fotografia de Piotrus

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios…

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida – a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os anjos entreolham-se espantados
quando alguém – ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são…

Mario Quintana 
em A Cor do Invisível


quinta-feira, 23 de maio de 2013

"Dança"


Fotografia de Marina Hushiro


A menina dança sozinha
por um momento.

A menina dança sozinha
com o vento, com o ar, com
o sonho de olhos imensos...

A forma grácil de suas pernas
ele é que as plasma, o seu par
de ar,
de vento,
o seu par fantasma...

Menina de olhos imensos,
tu, agora, paras,
mas a mão ainda erguida

segura ainda no ar
o hastil invisível
deste poema!

Mário Quintana
In Esconderijos do Tempo



quarta-feira, 8 de maio de 2013

"O Anjo na Escada"



Desconheço a autoria da imagem

Na volta da escada,
Na volta escura da escada.
O Anjo disse o meu nome.
E o meu nome varou de lado a lado o meu peito.
E vinha um rumor distante de vozes clamando
clamando...

Deixa-me!
Que tenho a ver com as tuas naus perdidas?
Deixa-me sozinho com os meus pássaros...
com os meus caminhos...
com as minhas nuvens...

Mario Quintana


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

"Chãos de Outono"


Desconheço a autoria da imagem


Ao longo das pedras irregulares do calçamento passam
ventando umas pobres folhas amarelas em pânico,
perseguidas de perto por um convite de enterro, sinistro,
tatalando, aos pulos, cada vez mais perto, as duas asas
trajadas de negro! 

Mario Quintana
In: Sapato Florido


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013



Aquarela de Sérgio Prata

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

Mario Quintana
in "Rua dos Cataventos"


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

"VII"



Desconheço a autoria da imagem
                                                                                                                                                     
                                                                                                                                                                     (Para Dyonélio Machado)

Recordo ainda... E nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, ai,
Embora idade e senso eu aparente,
Não vos iluda o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

Mario Quintana
de Rua dos Cataventos


sábado, 8 de dezembro de 2012

"O Milagre"



Fotografia de Roman Vishniac

Dias maravilhosos em que os jornais vem cheios de poesia
e do lábio do amigo brotam palavras de eterno encanto
Dias mágicos... em que os burgueses espiam
através das vidraças dos escritórios, a graça gratuita da 
nuvens.

Mario Quintana
In: Sapato Florido


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

"A Companheira"


Desconheço a autoria da imagem


A lua parte com quem partiu e fica com quem ficou. E,
pacientemente, consoladoramente, aguarda os suicidas
no fundo do poço.

Mario Quintana
In: Sapato Florido


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"Viver"


Desconheço a autoria da imagem

Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver.

Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros pássaros sairão por ela
E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas
Radiadas
Estrelas-do-mar... Ah,

Viver é sair de repente
Do fundo do mar
E voar...
e voar...
cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!

Mário Quintana


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

"O Vento e Eu"


Fotografia de Mark Highton Ridley, daqui

O vento morria de tédio
Porque apenas gostava de cantar
Mas não tinha letra alguma para a sua própria voz,
Cada vez mais vazia...
Tentei então compor-lhe uma canção
Tão comprida como a minha vida
E com aventuras espantosas que eu inventava de súbito,
Como aquela em que menino fui roubado pelos ciganos
E fiquei vagando sem pátria, sem família, sem nada neste vasto mundo...
Mas o vento, por isso
Me julga agora como ele...
E me dedica um amor solidário, profundo!

Mario Quintana
In Velório sem Defunto


sábado, 22 de outubro de 2011

"Dorme ruazinha"


Desconheço a autoria da imagem

Dorme ruazinha. É tudo escuro.
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos.

Dorme; Não há ladrões, eu te asseguro.
Nem guardas para acaso perseguí-los.
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos.

O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão.
Dorme, ruazinha… Não há nada…

Só os meus passos. Mas tão leves são,
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração.

Mario Quintana


sábado, 28 de maio de 2011

"Caminho Novo"


Tela de Maria de Fátima do Nascimento

Era um caminho que de tão velho, minha filha,
já nem mais sabia aonde ia.
Era um caminho
velhinho,
perdido.
Não havia traços
de passos no dia
em que por acaso o descobri:
pedras e urzes iam cobrindo tudo.
O caminho agonizava, morria
sozinho.
Eu vi...
Porque são os passos que fazem os caminhos!

Mario Quintana


quarta-feira, 18 de maio de 2011


Desconheço a autoria da imagem

Na convivência, o tempo não importa.
Se for um minuto, uma hora, uma vida.
O que importa é o que ficou deste minuto,
desta hora, desta vida.
Lembra que o que importa é,
tudo que semeares colherás.
Por isso, marca a tua passagem,
deixa algo de ti,do teu minuto,
da tua hora, do teu dia, da tua vida.

Mário Quintana


Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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