Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina
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sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Cala-te



Imagem via Google


Cala-te, voz que duvida
e que adormece
a dizer-me que a vida
nunca vale o sonho que se esquece.

Cala-te, voz que assevera
e insinua
que a primavera
a pintar-se de lua
nos telhados,
só é bela
quando se inventa
de olhos fechados
nas noites de chuva e de tormenta.

Cala-te, sedução
desta voz que me diz
que as flores são imaginação
sem raiz.

Cala-te, voz maldita
que me grita
que o sol, a luz e o vento
são apenas o meu pensamento
enlouquecido...

(E sem a minha sombra
o chão tem lá sentido)

José Gomes Ferreira





terça-feira, 9 de junho de 2020

Esponsais de primavera


 Arte by Pakayla Biehn
 
Vem hoje um cheiro tão bom lá de fora do mundo!
Um cheiro a esponsais de primavera
com deusas de astros na fronte
e enlaces de folhas de hera
no cabelo voado...

(Ah! se eu encontrasse a ponte
que vai para o outro lado!)

José Gomes Ferreira 




terça-feira, 26 de maio de 2020

Ouve, tu que não existes em nenhum céu


 
Arte de Jean-Noël Lavesvre 

Ouve, tu que não existes em nenhum céu:

Estou farto de escavar nos olhos
abismos de ternura
onde cabem todos menos eu.

Estou farto de palavras de perdão
que me ferem a boca
dum frio de lágrimas quentes de punhal.

Estou farto desta dor inútil
de chorar por mim nos outros.

- Eu que nem sequer tenho a coragem de escrever
os versos que me fazem doer.

José Gomes Ferreira




terça-feira, 28 de abril de 2020

Ouve, tu que não existes em nenhum céu


Imagem da Web
 
Ouve, tu que não existes em nenhum céu:

Estou farto de escavar nos olhos
abismos de ternura
onde cabem todos menos eu.

Estou farto de palavras de perdão
que me ferem a boca
dum frio de lágrimas quentes de punhal.

Estou farto desta dor inútil
de chorar por mim nos outros.

- Eu que nem sequer tenho a coragem de escrever
os versos que me fazem doer.

José Gomes Ferreira




quarta-feira, 15 de abril de 2020

Viver sempre também cansa



 Arte de Craig Gum

Viver sempre também cansa
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde
Mas nunca tem a cor inesperada.
O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exato.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."
E virias depois, suavemente,
velar por mim, sutil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo.

José Gomes Ferreira



segunda-feira, 6 de abril de 2020

Vai-te, poesia!


Arte de  William Bouguereau
Deixa-me ver a vida exata e intolerável
neste planeta feito de carne humana a chorar
onde um anjo me arrasta todas as noites para casa
pelos cabelos com bandeiras de lume nos olhos,
para fabricar sonhos carregados de dinamite de lágrimas.
Vai-te, Poesia!
Não quero cantar.
Quero gritar!
 
José Gomes Ferreira

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Se eu pudesse iluminar por dentro



Ilustração Ulrike Bobnz

Se eu pudesse iluminar por dentro as palavras de todos os dias
para te dizer, com a simplicidade do bater do coração,
que afinal ao pé de ti apenas sinto as mãos mais frias
e esta ternura dos olhos que se dão.

Nem asas, nem estrelas, nem flores sem chão
- mas o desejo de ser a noite que me guia
e baixinho ao bafo da tua respiração
contar-te todas as minhas covardias.

Ao pé de ti não me apetece ser herói
mas abrir-te mais o abismo que me dói
nos cardos deste sol de morte viva.

Ser como sou e ver-te como és:
dois bichos de suor com sombra aos pés.
Complicações de luas e saliva

José Gomes Ferreira




sábado, 6 de julho de 2019

Ouve, tu


Arte: Sergii Shaulis

Ouve, tu que não existes em nenhum céu:

Estou farto de escavar nos olhos
abismos de ternura
onde cabem todos menos eu.

Estou farto de palavras de perdão
que me ferem a boca
dum frio de lágrimas quentes de punhal.

Estou farto desta dor inútil
de chorar por mim nos outros.

- Eu que nem sequer tenho a coragem de escrever
os versos que me fazem doer.

José Gomes Ferreira


sexta-feira, 26 de outubro de 2018

A minha solidão não é uma invenção


arte fotográfica de Katia Chausheva

A minha solidão
não é uma invenção
para enfeitar noites estreladas 

Mas este querer arrancar a própria sombra do chão
e ir com ela pelas ruas de mãos dadas.

Mas este sufocar entre coisas mortas
e pedras de frio
onde nem sequer há portas
para o calafrio,

Mas este rir-me de repente
no poço das noites amarelas 
- única chama consciente
com boca nas estrelas.

Mas este eterno só-um
(mesmo quando me queima a pele o teu suor)
- sem carne em comum
com o mundo em redor.

Mas este haver entre mim e a vida
sempre uma sombra que me impede
de gozar na boca ressequida
o sabor da própria sede.

Mas este sonho indeciso
de querer salvar o mundo
- e descobrir afinal que não piso
o mesmo chão do pobre e do vagabundo.

Mas este saber que tudo me repele
no vento vestido de areia 
E até, quando a toco, a própria pele
me parece alheia.

Não. A minha solidão
não é uma invenção
para enfeitar o céu estrelado 

mas este deitar-me de súbito a chorar no chão
e agarrar a terra para sentir um corpo vivo a meu lado.

José Gomes Ferreira





Não fui eu que pintei o sol


imagem: google

Não fui eu que pintei o sol no céu,
nem as nuvens no ar
com água de prata.

Quando nasci já tudo estava no mundo
com relvas e azuis, poentes e sombras,
pobres e cicatrizes ...

Porque então estes remorsos
de andar a sofrer não sei por quem
a culpa de haver rosas e haver vida?

Palavra! não fui eu
quem, atirou a lua para o céu.

José Gomes Ferreira





Ouve, tu


Imagem: Facepage Fabrica de Escrita

Ouve, tu que não existes em nenhum céu:

Estou farta de escavar nos olhos
abismos de ternura
onde cabem todos menos eu.

Estou farta de palavras de perdão
que me ferem a boca
dum frio de lágrimas quentes de punhal.

Estou farta desta dor inútil
de chorar por mim nos outros.
- Eu que nem sequer tenho a coragem de escrever
os versos que me fazem doer.

José Gomes Ferreira




quarta-feira, 4 de julho de 2018

Ah! Se acontecesse enfim qualquer coisa



 "Phenix", de Michäel Zancan

Ah! Se acontecesse enfim qualquer coisa!

Se de repente saísse da terra um braço
e atirasse uma rosa
para o espaço!

Mas não.

Lá está o sol do costume
com a exactidão
duma bola de lume
desenhada a compasso...

...sol que à noite continua
a andar em redor
nas entranhas da lua
- que é sol com bolor...

e desde que nasci,
haja paz ou guerra,
nunca vi outra coisa.

Ah! Como queres que acredite em ti
- braço que hás-de romper a terra
e atirar uma rosa?

José Gomes Ferreira






quarta-feira, 28 de junho de 2017

Devia morrer-se de outra maneira


Imagem: Google

Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...

José Gomes Ferreira




quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Quero voar



by Enzzo Barrena 

Quero voar
mas saem da lama
garras de chão
que me prendem os tornozelos.

Quero morrer
mas descem das nuvens
braços de angústia
que me seguram pelos cabelos.

E assim suspenso
no clamor da tempestade
como um saco de problemas
tapo os olhos com as lágrimas
para não ver as algemas.

Mas qualquer balouçar ao vento me parece liberdade.

José Gomes Ferreira





segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Deixa que a minha solidão


Fotografia de Hans Neleman

Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
- para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.
Dá-me a tua mão, companheira,
até o abismo da ternura derradeira

José Gomes Ferreira





quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Quero voar



Pintura de John Jude Palencar

Quero voar
mas saem da lama garras de chão
que me prendem os tornozelos.

Quero morrer
mas descem das nuvens
braços de angústia
que me seguram pelos cabelos.

E assim suspenso
no clamor da tempestade
como um saco de problemas
tapo os olhos com as lágrimas
para não ver as algemas...

Mas qualquer balouçar ao vento me parece liberdade.

José Gomes Ferreira



segunda-feira, 14 de novembro de 2011

"Cabaré IV"



Tela “Operários”, de Tarsila do Amaral

Todos os punhais que fulgem nos gritos,
todas as fomes que doem no pão,
todo o suor que luz nas estrelas,
todas as cruzes no peso dos braços,
todos os crimes nas penas das pombas,
todas as lanças nos dedos de reza,
todas as feridas que cheiram nos cravos,
todas as sedes com asas nas nuvens,
toda a inveja na limpidez dos espelhos,
todos os soluços para ressuscitar os filhos mortos,
todos os desejos nos alçapões do Frio,
todos os assassinos que andaram ao colo das mães,
todos os olhos pegados nas jóias das montras,
todos os atestados de pobreza com lágrimas de carimbo,
todos os murmúrios do sol, no quarto ao lado, à hora da morte...

Tudo, tudo, tudo
se condensou de repente
numa nuvem negra de milhões de lágrimas
a humilharem-me de ternura
- eu que quero ser alheio, duro, indiferente...

... enquanto os Outros dançam, cantam, bebem,
vivem, amam, riem, suam
neste pobre planeta
magoado das pedras e dos homens
onde cresceu por acaso o meu coração no musgo
aberto para a consciência absurda
deste remorso sem sentido.

José Gomes Ferreira




quinta-feira, 24 de março de 2011

Bati com o pé no deserto



Fotografia de Михал Орела

Bati com o pé no deserto
e não nasceu uma fonte…
Toquei numa rocha
e não se cobriu de açucenas…
Beijei uma árvore
e o enforcado não ressuscitou…
Amaldiçoei a paisagem
e não secaram as raízes…

Digam-me lá: para que diabo serve ser poeta?
(Os santos são mais felizes.)

José Gomes Ferreira
in Poesia III 





sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Porque é que este sonho absurdo

.
Imagem google
 
Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?
.
Eis a grande raiva!
Misturem-na com rosas
e chamem-lhe vida.

.
José Gomes Ferreira

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Leva-me nos olhos, gaivota

..
Leva-me os olhos, gaivota,
e deixa-os cair lá longe naquela ilha sem rota...
Lá... onde os cravos e os jasmins
nunca se repetem nos jardins...
Lá... onde nunca a mesma aranha tece
a mesma teia na mesma escuridão das mesmas casas...
Lá... onde toda a noite canta uma sereia ...
e a lua tem asas...
Lá...
.
José Gomes Ferreira

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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