Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Silêncio

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Imagem Google
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Quando tu ficares muda
e eu ficar cego,
restam-nos as mãos
e o silêncio.

Quando tu envelheceres,
e eu envelhecer,
restam-nos os lábios
e o silêncio.

Quando tu morreres,
e eu também morrer,
têm de enterrar-nos juntos
e em silêncio;

e quando tu ressuscitares,
quando eu tornar a viver,
voltaremos a amar-nos
em silêncio;

e quando tudo acabar
para sempre no universo,
há-de ser um silêncio de amor
o silêncio.

Andrés Eloy Blanco

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quinta-feira, 29 de abril de 2010

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A vida é um incêndio:
nela dançamos, salamandras mágicas
que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam
cantemos a canção das chamas!

Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...

Mário Quintana

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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Chuva de Caju

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Como te chamas, pequena chuva inconstante e breve?
Como te chamas, dize, chuva simples e leve?
Teresa? Maria?
Entra, invade a casa, molha o chão,
Molha a mesa e os livros.
Sei de onde vens, sei por onde andaste.
Vens dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos
Onde as mangueiras florescem, onde há cajus e mangabas,
Onde os coqueiros se aprumam nos baldes dos viveiros
e em noites de lua cheia passam rondando os maruins:
Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.
Invade a casa, molha o chão,
Muito me agrada a tua companhia,
Porque eu te quero muito bem, doce chuva,
Quer te chames Teresa ou Maria.

Joaquim Cardozo

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terça-feira, 27 de abril de 2010

"E por isso me calo"

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Imagem daqui
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A minha voz é nobre
E mansa se vos falo.
Se me fazeis sofrer
Para não vos magoar
É que me calo.

Nada fere melhor
(mais que a voz desgastada)
Uma voz de marfim.
E se não sendo assim,
Fere a delicadeza
Mais que a vós, a mim.

E por isso me calo.

Hilda Hilst

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segunda-feira, 26 de abril de 2010

"Forasteira"

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Imagem daqui
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Eu nasci mulher
E mulher vou caminhar.
Com meus olhos sagazes,
Com minhas sardas censuradas,
Com minha boca enfeitada,
Com meus seios valentes,
Com minhas coxas atrevidas,
Com meu sexo forasteiro...
Eu nasci mulher
E mulher vou caminhar.
Com minhas pernas próprias.
Com minhas pernas sóbrias.

Oswaldo Antônio Begiato

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domingo, 25 de abril de 2010

"Se eu morrer de manhã"

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Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.

Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a morte é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.

Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
- o único que sei.
Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.

Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que eu não venho
e do mistério nada te direi.

Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei.

Rosa Lobato Faria




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sábado, 24 de abril de 2010

"Decifra-me"

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A lua é um criptograma.
Decifra-me, diz ela
à minha metade analítica
E trôpega.
À minha outra porção,
Mais precavida
Ante o mistério das coisas,
Ela sussurrra-me apenas:
bebe de meu vinho e sonha.

Fernando Campanella

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sexta-feira, 23 de abril de 2010

"Bruto"

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O azul bruto da noite é um abismo:
cala-me a voz
ou a desata.

Grito ou silêncio absoluto,
poema ou circunstância,

o azulnegro da noite bate no meu peito.

Silvia Chueire

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quinta-feira, 22 de abril de 2010

"Não Basta Abrir a Janela"

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Fotografia daqui
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Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

Alberto Caieiro

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quarta-feira, 21 de abril de 2010

"A Viagem Definitiva"

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Fotografia: Grotegut
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Ir-me-ei embora. E ficarão os pássaros
Cantando.
E ficará o meu jardim com sua árvore verde
E o seu poço branco.

Todas as tardes o céu será azul e plácido,
E tocarão, como esta tarde estão tocando,
Os sinos do campanário.

Morrerão os que me amaram
E a aldeia se renovará todos os anos.
E longe do bulício distinto, surdo, raro
Do domingo acabado,
Da diligência das cinco, das sestas do banho,
No recanto secreto do meu jardim florido e caiado
Meu espírito de hoje errará nostálgico...
E ir-me-ei embora, e serei outro, sem lar, sem árvore
Verde, sem poço branco,
Sem céu azul e plácido...
E os pássaros ficarão cantando.

Juan Ramón Jiménez

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terça-feira, 20 de abril de 2010

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Imagem daqui
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"...Não há em mim inquietudes ou
desassossegos restantes. Fez-se
silêncio em minha alma para que
o bater de asas do meu sonho
pudesse retumbar para além de
mim. Fecha teus olhos e me busca.
Ouves teu peito? Sou eu..."

Patricia Antoniete

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segunda-feira, 19 de abril de 2010

"Juramento"

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Fotografia daqui
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Eu juro pelo mal que me fizeram
pela revolta que me açula o brio;
pelas angústias que em meu peito geram
cataclismas fatais de mar bravio...

Eu juro pela paz que me negaram,
pelos desejos bons que sempre tive,
pelos espinhos que me acompanharam,
pela tristeza que comigo vive;

Eu juro pelo amor - jamais avaro,
que semeando eu andei pelo caminho;
pela glória que me custou tão caro,
e pelo meu excesso de carinho...

Por esse céu de inverno triste e escuro
e essas folhas rolando pelas ruas,
por tudo o que me faz sofrer, eu juro
que estou morrendo de saudades tuas.

Yde Schloenbach Blumenschein

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domingo, 18 de abril de 2010

"Canção de Esconde Esconde"

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Imagem: Google
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Solidão brinca comigo
um jogo de esconde esconde.
Desaparece um momento
e surge não sei de onde.

Parece espelho partido
pelo chão esparramado.
Mesmo que não apareça
há o reflexo ao meu lado.

Solidão esconde e esconde
vultos, livros e lembranças.
Entre paredes vazias,
ainda vivo de esperanças.

Solidão se esconde e volta,
moe a vida, o sonho, o amor.
Ai! jogo de esconde-esconde,
esconde também a dor.

Lila Ripoll
in ‘Antologia Poética’

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sexta-feira, 16 de abril de 2010

"Poetas"

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Estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro
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Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

Florbela Espanca

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quinta-feira, 15 de abril de 2010

"Um Vôo de Andorinha"

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Fotografia daqui
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Um vôo de andorinha
Deixa no ar o risco de um frêmito...
Que é isto, coração?! Fica aí, quietinho:
Chegou a idade de dormir!
Mas
Quem é que pode parar os caminhos?
E os rios cantando e correndo?
E as folhas ao vento? E os ninhos...

Mário Quintana

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quarta-feira, 14 de abril de 2010

"Receita Para Engordar Instante Magro"

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Imagem: Google
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Receita para engordar instante magro:
Conjugar o verbo vazio
Examinar paredes brancas
Engolir pausas
Olhar.

Até ser olhado pelo que vê
Ser vazado, atravessado
Sem contorno
Não ser

Viviane Mosé
in Pensamento Chão

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terça-feira, 13 de abril de 2010

"Noite"

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fotografia JucaFii
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É noite na aldeia.
No céu a lua cheia!
Tudo dorme no povoado
E a noite, com seu manto de brocado,
Vai caminhando...
Vai derramando...
Trevas em seu caminho.
E a lua, chorando baixinho,
Fica pensando...
Fica chorando...
Lágrimas de cristal!
Encanto doce, celestial.
É noite na natureza,
Bélica, com singeleza.
Noite triste, noite calma...
É noite na minha alma.


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segunda-feira, 12 de abril de 2010

"Prece"

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O semeador de estrelas é uma estátua que está em Kaunas, Lituânia
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Concede-me, Senhor,
a graça de ser boa,
De ser o coração singelo
que perdoa,
A solícita mão que espalha,
sem medidas,
Estrelas pela noite escura
de outras vidas
E tira d'alma alheia
o espinho que magoa

Helena Kolody

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domingo, 11 de abril de 2010

"Essência"

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Imagem:Google
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Há um blues traçado
entre as minhas palavras
e as minhas mãos,
a equilibrar-se frágil como lágrima.

Lamento e riso tocam as minhas pálpebras,
ritmo e desconsolo apontam caminhos
entre os meus cabelos.

Deixo-me levar.

Silvia Chueire

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sábado, 10 de abril de 2010

"Santo e Senha"

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Fotografia Elena Indoitu
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Deixem passar quem vai na sua estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada
Deixem, que vai apenas
Beber água de sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.
Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer.
Deixem-no pois passar, agora
Que vai cheio de noite e solidão
Que vai ser uma estrela no chão.

Miguel Torga

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sexta-feira, 9 de abril de 2010

"Significado"

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Imagem: Google
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No poema
e nas nuvens,
cada qual descobre
o que deseja ver.

Helena Kolody
in Poesia Mínima

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quinta-feira, 8 de abril de 2010

"Ternura"

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"Tenderness" - Monique Lester
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Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
extático da aurora.

Vinicius de Morais

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quarta-feira, 7 de abril de 2010

"Salmo do Silêncio"

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Tão grande é meu silêncio que ouviria
uma hóstia pousar sobre uma nuvem ,
a floração de estrelas no abismo
e o murmúrio de Deus amando o mundo.

Neste convulso silêncio escutaria
uma luz caminhando no infinito
e a tristeza de um anjo abandonado.

Tão puro meu silêncio que escuto
o solitário coração de Deus
fluindo angústia. E às vezes sinto
.
desdobrar-se em silêncio e mais silêncio
a grande voz a murmurar meu nome
na negra solidão inacessível.

Yttérbio Homem de Siqueira

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terça-feira, 6 de abril de 2010

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Sou uma mulher de gostos e versos.
Um pouco ladra, eu diria.
Roubo histórias, bordo palavras,
costuro sonhos, desato pensamentos.
Coisas de quem escreve,
encare assim.
Quem fica ao meu redor
tem que entender que,
vez em sempre,
algo será tomado
para e por mim, sem dó.
Me aproprio indevidamente
de vidas e falas.
Não leve a mal
se por ventura algum dia
o seu sossego for passear junto comigo.
E se por acaso a insônia
se tornar a sua melhor amiga,
admita que eu venci.
Gosto de esfregar na cara
do suposto adversário
as minhas vitórias.
Em certas ocasiões
o mais digno
é engolir tudo elegantemente...

Clarissa Corrêa

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segunda-feira, 5 de abril de 2010

"Rosai por nós"

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Nossa Senhora da Flor Roxa
rosai por nós
assim na vida
como no chão
a primavera de cada ano
nos dai hoje
encantai nosso jardim
assim como encantamos
o do vizinho
e não nos deixeis cair na tentação
de esquecer tuas flores

Alice Ruiz

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domingo, 4 de abril de 2010

"Perspectiva"

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Olha pela janela azul do meu olhar
sereno e transparente, onde se esconde calma
a misteriosa esfinge eslava que é minh’alma.
Mergulha os olhos teus no mundo em perspectiva
que se adivinha atrás de uma pupila esquiva.

Verás, por certo, desdobrar-se alma adentro,
na paisagem agreste, a estepe soberana.

E para que não pise a estepe imaculada
o duro sapatão de algum mujique alvar,
eu ando sempre alerta e trago bem guardada
a paisagem de neve oculta em meu olhar.

Helena Kolody

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sábado, 3 de abril de 2010

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Já que fora de mim
o mundo chora.
Fecho-me em minha história
e choro
Esta saudade sem fim..

Assim vou levando a vida
na ausência tua
Ora...
Fingindo alegria
Ora...
Aproveitando a chuva.

Rivkah

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sexta-feira, 2 de abril de 2010

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Tu, gigante crucificado, que compreendes os sonhos da eternidade,
tu és, sobre tua cruz manchada de sangue, mais majestoso e
mais soberbo que mil reis com mil tronos e mil reinos.

Tu és, na tua melancolia, mais alegre que a primavera com suas flores.

Tu és, nas tuas dores, mais sereno que os anjos em seu paraíso.

Tu és na mão dos carrascos, mais livre que a luz do sol.

A coroa de espinhos em tua cabeça mais formosa e mais augusta que a coroa de Buhram
e o prego na palma de tua mão é mais imponente que o cetro de Muchtary.

E as gotas de sangue que correm em teus pés
são mais brilhantes que as jóias de Astarté.

Perdoa, pois, a esses fracos que se lamentam sobre ti,
em vez de se lamentarem sobre si mesmos.

Perdoa-lhes porque não sabem que venceste a morte pela morte,
e deste vida aos que estão nos túmulos.

Khalil Gibran
in Livro Parábolas

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quinta-feira, 1 de abril de 2010

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Imagem Google
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Na grande noite tristonha,
Meu pensamento parado
Tem quietudes de cegonha
Numa beira de telhado.

- Na grande noite tristonha...

E eu sonho o meu sonho oculto
De ave triste, - que não voa,
Detida a ver o teu vulto
De cetro, manto e coroa...

- E eu sonho o meu sonho oculto...

Cecília Meireles

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Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

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