Estou de volta... como a primavera!

"Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa..."

Manuel Antonio Pina
Mostrando postagens com marcador Manuel Alegre. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Manuel Alegre. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Que nome te dar?

Fotografia de Giuseppe Gradella
 
Que nome te dar?
Não há outro como tu.
Somos cada um um pouco do outro.
Tu és a outra metade de mim.
A parte de ti que de mim ficou.
A parte de mim que foi contigo.
Ninguém me está tão próximo
e ninguém me escapa tanto.
Como pode ser que constantemente nos encontrávamos
e sempre nos perdíamos?

Livre adaptação de um treco de Manuel Alegre, em “A terceira rosa”




quarta-feira, 27 de maio de 2020

Gostava de morar na tua pele


Arte de Carrie Vielle 

Gostava de morar na tua pele
desintegrar-me em ti e reintegrar-me
não este exílio escrito no papel
por não poder ser carne em tua carne.

Gostava de fazer o que tu queres
ser alma em tua alma em um só corpo
não o perto e o distante entre dois seres
não este haver sempre um e sempre o outro.

Um corpo noutro corpo e ao fim nenhum
tu és eu e eu sou tu e ambos ninguém
seremos sempre dois sendo só um.

Por isso esta ferida que faz bem
este prazer que dói como outro algum
e este estar-se tão dentro e sempre aquém.

Manuel Alegre 
in Sete Sonetos e Um Quarto



 

Balada de fevereiro


Imagem da Web

Chove nas ruas como nas veias
cidade cheia de mágoas
e não há barcos ideias
que nos levem por sobre as águas
que tu vento despenteias.

Há só a chuva nos vidros
e este viver para dentro
há só minutos perdidos
e as caravelas do pensamento
naufragadas nos sentidos.

Manuel Alegre
in Canto da Nossa Tristeza




sábado, 2 de maio de 2020

Nos teus olhos alguém anda no mar


Desconheço a autoria da imagem 

Nos teus olhos alguém anda no mar
alguém se afoga e grita por socorro
e és tu que vais ao fundo devagar
enquanto sobre ti eu quase morro.

E de repente voltas do abismo
e nos teus olhos há um choro riso
teu corpo agora é lava e fogo e sismo
de certo modo já não sou preciso.

Na tua pele toda a terra treme
alguém fala com Deus alguém flutua
há um corpo a navegar e um anjo ao leme.

Das tuas coxas pode ver-se a Lua
contigo o mar ondula e o vento geme
e há um espírito a nascer de seres tão nua.

Manuel Alegre
in Sete Sonetos e um quarto



 

quarta-feira, 29 de abril de 2020

As facas


Imagem via tuningpp.com "knife throwing target girls"
 
Quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.

Este amor é de guerra. (De arma branca)
Amando ataco amando contra-atacas
este amor é de sangue que não estanca
Quatro letras nos matam quatro facas.

Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se me assaltas
e em cada assalto sou assassinado.

Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas.

Manuel Alegre




sábado, 4 de abril de 2020

Este rio


 Arte de Arno Rafael Minkkinen

Este rio que traz o mar cá dentro
e sendo mar não deixa de ser rio
este rio com margens que são centro
e sendo margens são nosso navio.

Este rio que volta quando parte
e quando parte leva as suas margens
este rio que vai a toda a parte
e mesmo em casa é todas as viagens.

Este rio que sabe a mar profundo
e dentro da cidade é rua e rio
e em cada rua dá a volta ao mundo
e de Lisboa fez nosso navio.

Manuel Alegre
em Bairro Ocidental



terça-feira, 3 de março de 2020

Coisa Amar


 Fotografia de Jamie Nelson

Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como dói

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
 
Manuel Alegre




sábado, 29 de fevereiro de 2020

Poema do eterno retorno


Desconheço a autoria da imagem 

Há o teu rosto dentro do teu rosto: único e múltiplo.
As tuas mãos de outrora nas tuas mãos de agora
há o primeiro amor que é sempre o último
antes do tempo ou só depois da hora.

E vinhas de tão longe. E era tão fundo.
E era por mim. E era por ti. E era por dois.
E havia na tua voz o principio do mundo.
E era antes da Terra. E era depois

Manuel Alegre
in "Todos os poemas são de amor"



 

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Nós


Arte de Annie Leibovit

Nós fomos noite e noite até ser dia
nós fomos noite e a noite fomos nós
fomos a noite e os corpos e esses nós
com que a noite se atava e desfazia.
Fomos a noite e o que sobrava dela
e o que sobrava dela foram luas
que circulam à volta de uma estrela
ora nas minhas mãos ora nas tuas.
Manuel Alegre



quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A casa está cheia de ti


Trabalho fotográfico de Francesca Woodman

A casa está cheia de ti
Não apenas os retratos os recantos
Os quadros
Não apenas os objetos onde
Roça ao de leve
A suave mão da tua ausência.
Mas aquela luz que trazias dentro
E deixavas de passagem
Nos seres e nas coisas.
Talvez agora mores entre as estrelas
Mas brilhas
Intensamente brilhas dentro de casa.

Manuel Alegre, in Dispersos e Inéditos



quarta-feira, 5 de outubro de 2011

"Cão Como Nós"



Desconheço a autoria da imagem

Como nós eras altivo
Fiel mas como nós
Desobediente.
Gostavas de estar connosco a sós
Mas não cativo
E sempre presente-ausente
Como nós.
Cão que não querias
Ser cão
E não lambias
A mão
E não respondias
À voz.
Cão
Como nós.

Manuel Alegre


sexta-feira, 15 de julho de 2011

"Flores Para Coimbra"



Desconheço a autoria da imagem

Que mil flores
desabrochem.
Que mil flores
(outras
nenhumas)
onde amores
fenecem
que mil flores
floresçam
onde só dores
florescem.

Que mil flores
desabrochem.
Que mil espadas
(outras
nenhumas não)
onde mil flores
com espadas
são cortadas
que mil espadas
floresçam
em cada mão.

Que mil espadas
floresçam
onde só
penas são.
Antes que amores
feneçam
que mil flores
desabrochem.
E outras
nenhumas não.

Manuel Alegre



segunda-feira, 13 de junho de 2011

"O Canto e as Armas"



Imagem daqui

É possível falar sem um nó na garganta.
É possível amar sem que venham proibir.
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão.
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros.
Se te apetece dizer não, grita comigo: não!

É possível viver de outro modo.
É possível transformar em arma a tua mão.
É possível viver o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser LIVRE, LIVRE, LIVRE.

Manuel Alegre




sábado, 10 de outubro de 2009

"Ilha de Cós"

.
.
Eu sabia que tinha de haver um sítio
Onde o humano e o divino se tocassem
Não propriamente a terra do sagrado
Mas uma terra para o homem e para os deuses
Feitos à sua imagem e semelhança
Um lugar de harmonia
Com sua tragédia é certo
Mas onde a luz incita à busca da verdade
E onde o homem não tem outros limites
Senão os da sua própria liberdade
.
Manuel Alegre

.

sábado, 22 de novembro de 2008

Poesia sobre a água

.
.
De pé na frágil tábua
onda a onda ele escrevia
poesia sobre a água.
Era uma escrita tão una
de tão perfeita harmonia
que o que ficava na espuma
não se podia apagar:
era a própria grafia
do poema do mar.
.
Manuel Alegre

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

É possível falar sem um nó na garganta

.

.
É possível falar sem um nó na garganta.
É possível amar sem que venham proibir.
É possível correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.
.
É possível andar sem olhar para o chão.
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros.
Se te apetece dizer não, grita comigo: não.
.
É possível viver de outro modo.
É possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.
Não te deixes murchar.
Não deixes que te domem.
.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre, livre, livre.
.
Manuel Alegre



quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Que mil flores desabrochem

.
.
Que mil flores desabrochem. Que mil flores
(outras nenhumas) onde amores fenecem
que mil flores floresçam onde só dores
florescem.
.
Que mil flores desabrochem. Que mil espadas
(outras nenhumas não)
onde mil flores com espadas são cortadas
que mil espadas floresçam em cada mão.
.
Que mil espadas floresçam
onde só penas são.
Antes que amores feneçam
que mil flores desabrochem.
E outras nenhumas não.
.
Manuel Alegre

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"Coisa Amar"

.
.
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.
.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.
.
Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi
.
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
.
Manuel Alegre

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Este amor é de guerra

.

.
Este amor é de guerra.
(De arma branca)
Amando ataco amando contra-atacas
Este amor é de sangue que não estanca
Quatro letras nos matam quatro facas...
.
Manuel Alegre

sábado, 7 de junho de 2008

Gostava de morar na tua pele


Gostava de morar na tua pele
desintegrar-me em ti e reintegrar-me
não este exílio escrito no papel
por não poder ser carne em tua carne.

Gostava de fazer o que tu queres
ser alma em tua alma em um só corpo
não o perto e o distante entre dois seres
não este haver sempre um e sempre o outro.

Um corpo noutro corpo e ao fim nenhum
tu és eu e eu sou tu e ambos ninguém
seremos sempre dois sendo só um.

Por isso esta ferida que faz bem
este prazer que dói como outro algum
e este estar-se tão dentro e sempre aquém.

Manuel Alegre
 
 
 
 

Interlúdio com ...

Will You Still Love Me Tomorrow - Norah Jones

Will You Still Love Me Tomorrow

Norah Jones

Tonight you're mine completely
You give your love so sweetly
Tonight the light of love is in your eyes
Will you still love me tomorrow?

Is this a lasting treasure
or just a moment pleasure?
Can I believe the magic of your sight?
Will you still love me tomorrow?

Tonight with words unspoken
You said that I'm the only one
But will my heart be broken
When the night meets the morning sun?

I like to know that your love
This know that I can be sure of
So tell me now cause I won't ask again
Will you still love me tomorrow?

Will you still love me tomorrow?
Will you still love me tomorrow?...

Postagens populares

Total de visualizações de página