"Arrependimento"

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Se ao coração que chora fora dado

Em dose embora escassa, de beber

A taça misteriosa do esquecer,

Quanto ser viveria embriagado.

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Viver embriagado do viver

E não lembrar jamais o que é lembrado

Lembrar somente e apenas com cuidado

Que o cuidado maior é o de esquecer.

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Divina fantasia a de quem ama.

Viver a vida quando a vida é chama

Matar a sede quando a sede é de arte.

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O último mistério de querer-te,

Maior que a própria pena de perder-te,

Foi o arrependimento de buscar-te.

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Jandira Grillo

"Cristal"

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Pouco importa que o tempo tenha andado

com passos de gigante em nossa vida.

E a noite, no seu véu sofisticado,

tenha escondido a estrela mais querida.

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Pouco importa... o que importa é ter amado

o tanto que esta fonte é prometida

- aquela que poreja em seu cuidado

a constância da gota revivida.

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Pois afinal, que vale esta matéria?

- é sombra, cuja imagem deletéria

inibe a projeção de uma alma em flor...

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O que sustenta o corpo em movimento

é o cristal que chamo de alimento

e o mundo inteiro já chamou de amor.

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Jandira Grillo

"Pede-me"

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Pede-me tudo o que quiseres, pede

Minh’alma, o coração, a própria vida;

Pede-me o céu, a estrela preferida

E o meu amor que o teu olhar não mede.

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Pede-me o sol, a madrugada em festa,

Da cachoeira as eternais madeixas;

Se queres o murmúrio da seresta,

A minha lira te darei sem queixas.

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Pede-me o riso e sorrirei cantando;

Se pranto queres, chorarei de dor

E a vida inteira passarei chorando.

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Pede-me tudo o que quiseres ter:

A lua, o sol, a vida, o meu amor,

Mas não me peças para eu te esquecer!

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Jandira Grillo